Vieram e venceram: negócios criados por imigrantes se consolidam e resistem ao tempo na capital

Tatiana Moraes e Paulo Henrique Lobato
27/09/2019 às 20:43.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:59
 (ARQUIVO PÚBLICO/PBH)

(ARQUIVO PÚBLICO/PBH)

A resiliência é marca registrada dos descendentes de imigrantes que chegaram a Belo Horizonte no século passado, fomentando a economia e a cultura da cidade. Mesmo após enfrentar inúmeras crises – como hiperinflação, no governo Sarney, e confisco de poupança, no Collor – eles seguem de cabeça erguida e movimentam boa parte dos negócios aqui instalados.

Na segunda reportagem da série “Portas Abertas – Os Imigrantes no Comércio de BH”, o Hoje em Dia mostra os estabelecimentos fundados por estrangeiros que resistiram ao tempo e se consolidaram na cidade.

Em 1914, apenas 17 anos após a inauguração de Belo Horizonte, quase metade da população trabalhava no setor de comércio e serviços, formado especialmente por lojas de tecidos, farmácias, bares, sapatarias e confecções. Por outro lado, 40,2% das pessoas estavam empregadas nas pequenas indústrias que começavam a surgir, conforme levantamento realizado pelo pesquisador Osias Ribeiro Neves. 
 Riva MoreiraDono da papelaria Brasilusa, Marco Antônio Gaspar relembra as dificuldades que o avô e o pai enfrentaram


Na década de 40, o comércio estava consolidado. Naquela época, desembarcava na cidade o patrono da família Gaspar, o português Diamantino. Pouco tempo depois, trouxe a esposa e os dois filhos. Trabalhando no comércio, Diamantino juntou dinheiro, abriu uma mercearia, onde todos da família trabalhavam, e comprou terras, como era costume dos estrangeiros, construindo imóveis para alugar.



​Os aluguéis renderam algum dinheiro e, um tempo depois, ele fechou a mercearia. O filho de Diamantino, Joaquim, continuou na empreitada do comércio. Nos anos 60, abriu, com um sócio, a tradicional copiadora Universal, na região Central da cidade. Os negócios foram de vento em popa, até que a sociedade foi desfeita, na década de 70. 
 Maurício Vieira A família de Brigitte Bacha (à esquerda) chegou ao Brasil nos anos 60 e hoje detém dezenas de lojas no Centro da capital mineira


Desistir não era uma opção. Um ano depois, Joaquim inaugurava a papelaria Brasilusa, no Centro de BH. Na época, as empresas pipocavam na cidade e a loja faturava muito bem. Os negócios se expandiram, mas Joaquim estava cansado. Em 1995, o filho dele, o engenheiro mecânico Marco Antônio Gaspar, assumiu a Brasilusa e está à frente das três lojas até hoje.
 Vilma/DivulgaçãoTradição à mesa -Em 1925, Domingos Costa abriu, em Belo Horizonte, uma pequena fábrica de massa italiana artesanal com a esposa, Josephina. O casal conquistou clientes e ganhou espaço no mercado. Em 1937, Josephina Costa criou a marca Vilma, e foi instalada a primeira loja em BH.
 


“O imigrante sabe se reinventar porque, normalmente, ele sai da terra natal em uma situação difícil. Deixa tudo para trás para melhorar de vida. Meu avô passou por muitos problemas, ele saiu da Europa na Segunda Guerra. Meu pai também enfrentou percalços, mas nossa família nunca desistiu. Sabemos que uma hora a solução chega”, diz Gaspar, vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH).

CDL

Até mesmo a criação da entidade é reflexo dos costumes dos imigrantes, afirma o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva. “Os imigrantes precisavam se unir para se proteger. E a CDL nasceu justamente no sentido de fortalecer o setor. Tanto que vários estrangeiros participaram da criação da entidade”, diz. 
 Localiza/DivulgaçãoFenômeno - A Localiza, maior empresa de locação de veículos da América Latina, foi criada em 1973 pelos irmãos Salim Mattar e Eugênio Mattar, descendentes de libaneses. No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou receita líquida de R$ 2,4 bilhões, aumento de 36,8% contra igual período de 2018. 


Família Bacha expande negócios e ‘domina’ Centro da cidade

O baixo Centro de Belo Horizonte era dominado pelos imigrantes do mundo árabe. Ao longo da rua dos Caetés e da avenida Santos Dumont, dezenas de lojas de roupas, tecidos e joias comandadas por sírios e libaneses abriam as portas. E várias estão firmes até hoje.

A família Bacha, que atualmente detém dezenas de estabelecimentos na cidade – a maioria no centrão –, é um dos nomes fortes do comércio da capital mineira. 




“Meus tios saíram do Líbano na década de 60 e se hospedaram na casa de um tio deles. Na década de 80, meu pai chegou à cidade com a nossa família”, conta Brigitte Bacha, sócia das lojas de roupas Marina e proprietária do Centro de Arte e Cultura Brigitte Bacha. Também são da família Bacha as lojas Simone e Casa Mineira, todas de roupas.

Brigitte nasceu no Líbano e veio para o Brasil aos 16 anos com o pai, Pedro Bacha, que por anos a fio esteve à frente da Associação Comercial do Hipercentro de Belo Horizonte. Embora o comércio esteja no sangue, é por meio da dança que ela se aproxima da terra natal. 

Arte e cultura

Localizado na Savassi, o centro de dança comandado pela empresária ensina dança do ventre e outras artes para cerca de cem alunos. Além de Brigitte, outros oito professores atuam no local. 

“Minha família saiu do Líbano porque as perspectivas não eram boas na época. Viemos em busca de uma vida melhor. Não foi fácil, mas lutamos muito e conquistamos nosso espaço, tanto no comércio quanto nas artes”, comemora.

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