Remédio ou veneno

Crédito fácil para pequenas empresas esconde armadilha dos juros

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 06/07/2022 às 07:43.
Wederson Raimundo tentou recorrer ao Pronampe no passado mas, sem sucesso, apelou para o cartão de crédito para investir na abertura de uma espeteria no Barreiro (Arquivo pessoal)

Wederson Raimundo tentou recorrer ao Pronampe no passado mas, sem sucesso, apelou para o cartão de crédito para investir na abertura de uma espeteria no Barreiro (Arquivo pessoal)

A linha de crédito criada pelo governo para socorrer as micro e pequenas empresas durante a pandemia já está disponível e coloca R$ 50 bilhões à disposição dos empreendedores do setor. Mas antes de aderir, os interessados precisam ficar atentos às mudanças e taxas do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que segundo especialistas, estão muito maiores que em anos anteriores.

Quando foi lançado, o Pronampe tinha uma taxa de 1,25% mais a Selic, que na época girava em torno de 2%. Neste ano o governo mudou a legislação e definiu a taxa em 6% mais a taxa Selic, que hoje está em 13,25%. Isso significa que a taxa do programa saltou de aproximadamente 3% em 2020, para 19% neste ano.

“Crédito pode ser veneno ou remédio, o que diferencia um do outro é a dosagem. Por isso é importante calibrar a necessidade com o valor do recurso buscado”, destaca Igor Martins, analista da unidade de desenvolvimento econômico do Sebrae Minas.

Igor Martins destaca que o Pronampe surgiu como uma grande alternativa aos empreendedores no momento difícil trazido pela pandemia, mas que agora as taxas do programa subiram muito e, apesar de ainda ser uma linha interessante na comparação com outras alternativas do mercado, tem um custo alto e o empresário precisa fazer as contas.

“Crédito pode ser veneno ou remédio, o que diferencia um do outro é a dosagem. Por isso é importante calibrar”Igor Martins - Sebrae Minas

Uma alternativa que pode ser importante para empreendedores como Wederson Raimundo. Ele é proprietário de uma distribuidora de bebidas e cresceu no rastro do delivery na pandemia. Porém, com a reabertura das atividades e a população disposta a sair e se encontrar, ele precisou buscar alternativas e abriu uma espeteria na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Só que para isso precisou de crédito.

"Eu busquei o Pronampe, pois sabia que a taxa do programa era bem melhor que em outras linhas, mas não consegui antes. Agora, com as novas taxas, fica ainda mais difícil e vou ter que continuar recorrendo ao cartão de crédito”, disse.

Na opinião do economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida, a facilidade e pouca burocracia para aquisição do crédito no Pronampe é um atrativo, mas as empresas agora têm que ficar mais atentas. Principalmente pelo impacto que a taxa Selic pode ter no total do empréstimo. “O Pronampe está em 6% mais a taxa Selic, que está em 13,25% ao ano e tem tendência de continuar aumentando. As empresas precisam avaliar bem as linhas de crédito disponíveis e se vão conseguir pagar esse compromisso”.

O programa foi criado em maio de 2020 para auxiliar financeiramente os pequenos negócios e, ao mesmo tempo, manter empregos durante a pandemia. Neste ano, o governo ampliou o leque de empresas que podem buscar a linha de crédito. Segundo o governo, em 2022 serão abrangidos microempreendedores individuais (MEIs) e empresas médias, com faturamento de até R$300 milhões, que representam 98% das empresas do país, segundo o Ministério da Economia. Além disso, as empresas que aderirem ao programa não são mais obrigadas a manter os empregos.

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