Enfim, um refresco?

Produção em alta e baixo consumo podem forçar queda no preço do café em Minas

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
06/03/2023 às 07:00.
Atualizado em 06/03/2023 às 10:06
Expectativa é pela redução do preço, mas especialista lembra análise mercadológica mundial também pesa no custo final (Maurício Vieira)

Expectativa é pela redução do preço, mas especialista lembra análise mercadológica mundial também pesa no custo final (Maurício Vieira)

Produção em alta e consumo em queda podem forçar os preços do café para baixo e fazer a alegria dos brasileiros. Minas responde por quase metade da safra nacional e vai registrar um aumento de 25% na produção. É mais café entrando em um mercado estagnado, que em 2022 viu o consumo no país cair 1,1% e as exportações recuarem 6,3%. O valor final, porém, seguirá dependendo também de fatores internacionais. 

A promessa de oferta maior e a demanda menor já impactam o preço pago aos produtores e pesam na expectativa de faturamento do setor em Minas, que deve ter redução de 1,6%, segundo o governo do Estado, e ficar em R$ 28,5 bilhões. 

“O indicador do café arábica Cepea/ESALQ mostra que a média de preços de janeiro foi de R$ 1.009,27, queda de 32% na comparação com janeiro de 2022 e de 0,3% em relação a dezembro de 2022”, avalia Feliciano Nogueira, superintendente de Inovação e Economia Agropecuária da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

O aumento de produção vai na contramão do esperado. As safras de café tendem a ter um ano forte e outro fraco. A expectativa inicial era a de que 2023 registrasse uma produção menor – o que, já se sabe agora, não deve acontecer.

Já a previsão para o ano passado acabou comprometida por condições climáticas que levaram a perdas. “Esta primeira estimativa (para 2023) aponta para uma recuperação da produtividade e aumento da área plantada”, explica Julian Carvalho, assessor especial de cafeicultura da Seapa.

Na gôndola
Julian Carvalho destaca, no entanto, que a redução para o consumidor vai depender também do mercado internacional. Ele explica que o café é commodity e está sujeito a cotações internacionais. O preço final ao longo do ano também vai sofrer a interferência do dólar, da guerra da Ucrânia e da produção de outros países.

“Minas Gerais e Brasil entram na composição de preços, mas os valores são calculados a partir de uma análise mercadológica mundial”, diz.

Enquanto a queda não chega aos supermercados, resta aos brasileiros o sabor amargo de pagar bem mais pelo cafezinho do que em outros tempos.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o preço do quilo vendido ao consumidor subiu 35,4% ao longo de 2022, mas não tirou dos lares a tradicional bebida. O consumo no país é considerado elevado: 4,77 quilos por habitante/ ano. Dados da Conab mostram que o preço médio do pacote de 500g, o mais comprado no país, ficou em R$ 16,63. Significa que cada brasileiro gastou, aproximadamente, R$ 83 a cada 12 meses.

“Tomara que abaixe o preço mesmo! Sem café não dá nem para sair de casa”, brinca Izabel Freitas, que assume o “vício” e consome, apenas com o marido, pelo menos seis pacotes do grão moído por mês: 1,5 quilo por pessoa ou 18 quilos por ano, média muito acima da nacional.

Gourmetização
A aposta do setor para continuar ampliando os ganhos mesmo diante da queda do consumo é o investimento nos cafés de nível “superior” e “gourmet”. O faturamento desses produtos subiu 70% entre 2022 e 2021, segundo a Abic. 

“Existe um grupo de consumidores, que nós chamamos de ‘entusiastas’, que não são especialistas na bebida, mas valorizam o consumo e gostam de experimentar. É esse grupo que criou espaço para o aumento do consumo dos cafés especiais e o setor e os supermercados já perceberam isso”, afirma Pavel Cardoso.

O presidente da Abic ainda destaca que o segredo para que o consumo e o faturamento continuem crescendo é apostar na qualidade. “Em 1989 tínhamos um consumo de 2 kg por habitante e uma cultura de que o melhor café era vendido ao exterior. Isso era verdade. Nós fizemos controle de qualidade e alcançamos esse consumidor interno”, diz, ao argumentar que esse deve ser o caminho adotado pelos produtores nacionais.

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