
Quando se dedicou aos dramas intensos, Woody Allen não teve receio de emular seu grande mestre, o sueco Ingmar Bergman, em filmes como “Interiores” (1978) e “Setembro” (1987). Outros realizadores tentaram se aproximar de uma concepção existencial e angustiante, mas a francesa Mia Hansen-Love buscou uma abordagem inédita em “A Ilha de Bergman”, uma das estreias nos cinemas.
Além do olhar pesaroso sobre a vida humana impresso numa história (ou histórias) de ficção, há um quê documental na maneira como Mia radiografa a vida do sueco na ilha de Faro – cenário de vários longas-metragens de Bergman e local onde ele buscou estímulos para construção de clássicos como “Persona” e “Cenas de um Casamento”, aproveitando a paisagem árida para acentuar ainda mais as suas tramas.
Um casal de cineastas (Tim Roth e Vicky Krieps) desembarca na ilha em busca de inspiração, mas, como é de se esperar, as ideias acabam rompendo a parede entre ficção e realidade, colocando em risco a relação, cada vez mais fria e distanciada. Mais parecem dois velhos amigos, característica comum a vários cônjuges dos filmes de Bergman. Evidentemente, o olhar sobre o tema é mais feminino.
O bloqueio criativo da personagem de Vicky se justapõe à sensação morna da vida a dois, com suas ideias de novo projeto sugerindo, de certa forma, experiências afetivas diferentes. A “presença” de Bergman emoldura esses instantes, como na cena em que, no museu dedicado ao mestre, é lembrado que ele não teria tantas obras-primas se tivesse que dividir a preocupação de bom genitor com as esposas.