Cinema

Indicado ao Oscar, 'Belfast' aborda conflito religioso pela ótica de um garoto

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 28/02/2022 às 08:43.
PAI E FILHO – Jaime Dornan e Jude Hill encabeçam elenco de longa-metragem de Kenneth Branagh, concorrente em seis categorias do grande prêmio da indústria (Focus Features/Divulgação)
PAI E FILHO – Jaime Dornan e Jude Hill encabeçam elenco de longa-metragem de Kenneth Branagh, concorrente em seis categorias do grande prêmio da indústria (Focus Features/Divulgação)

Nas primeiras imagens de “Belfast” o protagonista mirim surge literalmente no meio de um conflito entre católicos e protestantes irlandeses, na capital da Irlanda do Norte que dá título ao longa-metragem indicado ao Oscar deste ano e já em cartaz nos cinemas.
A cena é muito simbólica da proposta do filme de Kenneth Branagh, aproveitando a ingenuidade infantil para criticar a falta de sentido desse tipo de contenda, que obrigatoriamente opõe vizinhos que nunca fizeram mal uns aos outros.

A guerra invade a rua do pequeno Buddy, lugar onde costumava brincar tranquilamente, acompanhando a tensão crescente na família enquanto tenta resolver os problemas de seu universo, como se aproximar da garota da sala pelo qual é apaixonado.

A narrativa de “Belfast” se constrói entre essas duas linhas, na expectativa de que logo elas se colidam. É um tema caro ao cinema britânico, em filmes como “Esperança e Glória” (1987), de John Boorman, e “Billy Elliot” (2000), de Stephen Daldry.

“Belfast” é um filme muito pessoal de Branagh. Entre seus conterrâneos, como Jim Sheridan e Neil Jordan, ele demorou a se debruçar sobre as questões religiosas que separam Irlanda (país autônomo desde 1937), Irlanda do Norte e Inglaterra.

A demora não significou maturidade para refinar a forma de expor. Curioso que o filme constantemente “foge” ao seu protagonista para se deter nos personagens adultos. Os melhores momentos de Buddy são justamente quando ele está ao lado destes.
Isso revela um problema grave de desenvolvimento. O fato de o garoto estar numa posição “distante” dos acontecimentos contamina a sua função na narrativa, com o espectador preferindo se identificar com o pai, que se recusa a aderir à onda de violência.

Ele precisa ser mais forte que os partidários protestantes para manter a natureza de integridade, mas esse viés nunca é devidamente explorado devido à dificuldade de Kenneth Branagh em dar relevância a vários personagens simultaneamente.
Dificuldades que empalidecem alguns bons temas. Sobretudo quando “Belfast” põe em discussão o momento em que devemos abrir mão de certos laços, estampados na relação da família com o lugar onde moram, redefinindo a ideia de “lar”.

Enquanto Buddy sente-se como um aventureiro ao sair alguns metros da rua, a mãe resiste à ideia de reconstruir uma vida em outro lugar. O pai, por sua vez, se vê na iminência de perder o contato com os pais, belamente evidenciada na cena final de “Belfast”.

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