CINEMA

Animação brasileira é inspirada na pintora modernista Tarsila do Amaral

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
14/03/2022 às 07:00.
Atualizado em 14/03/2022 às 09:08
Cenários e personagens são baseados em quadros como "Manacá" e "Abaporu" (PinGuim TV/Divulgação)

Cenários e personagens são baseados em quadros como "Manacá" e "Abaporu" (PinGuim TV/Divulgação)

Curiosamente, a única menção direta a Tarsila do Amaral (única mulher a participar da Semana de Arte Moderna em 1922, palco central do modernismo) presente no filme brasileiro de animação “Tarsilinha”, em cartaz nos cinemas, tem pouca relação com a artista.

Apesar do nome, Tarsilinha é uma menina comum que parte em uma grande aventura para recuperar objetos ligados à memória da mãe. As referências surgem nos cenários e nos personagens coadjuvantes, retirados de quadros famosos da pintora, como “Abaporu” e “Manacá”.

“Realmente não é autobiográfico. A gente pegou muitas coisas dentro do contexto da obra da Tarsila. Todos os personagens que estão no filme, com exceção da protagonista, são criações da própria Tarsila, como a Cuca, o Saci e a Lagarta”, registra Célia Catunda, diretora da animação ao lado de Kiko Mistrorigo.

Um dos nomes por trás de títulos de sucesso no formato feito para a televisão, entre eles “Peixonauta” e “Show de Luna”, ela destaca que há também “elementos relativos à história do modernismo, trazendo o conceito da memória e da criação de sua própria identidade”.

Personagens que participaram da Semana de Arte Moderna, ao lado de Tarsila, também são citados. Oswald de Andrade é um deles, a partir de um dos amigos da protagonista, que inventa palavras e frases. Brincar com a sintaxe era um dos traços marcantes do escritor. 

Um importante aspecto, porém, é compartilhado entre Tarsilinha e a pintora modernista: a atitude. “Ela se vê totalmente sozinha, enfrentando coisas que nunca viu com uma coragem que não tinha. Isso tem muito a ver com a atitude da artista”, destaca Mistrorigo.

O realizador lembra que Tarsila do Amaral foi à Europa, no início dos anos de 1920, “que era o centro do mundo na época, e, ao voltar, poderia muito bem pintar uma coisa meio europeia. Mas não, ela fez outra coisa, trabalhando com cores que não eram usadas naquele tempo”.

Para Mistrorigo, Tarsila teve bastante coragem em dois sentidos. A primeira, por ser uma artista genuína. A segunda, ao se dedicar à pintura dentro de um universo muito masculino. “Na época, as mulheres não tinham profissão, apesar de já estarem integradas à sociedade”.

Célia Catunda assinala que, “embora ela não seja tão conhecida das crianças, mas, em algumas escolas, onde se apresenta arte brasileira, Tarsila é uma das principais artistas apresentadas, devido ao universo lúdico colorido e uma narrativa muito bonita e próxima do mundo infantil”. 

Ela afirma que o desejo foi criar uma grande aventura em que as crianças pudessem embarcar, conhecendo a obra de Tarsila de uma forma muito natural. “Não estamos apresentando formalmente a obra de uma artista, mas com certeza vai ficar gravado na memória delas”.

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