Arte vai transformar casas do Aglomerado da Serra com novas cores e mensagens de proteção às águas
Com participação e protagonismo da comunidade, nova obra abrange o tema ''Águas da Serra'' e homenageia os três mananciais que cortam a maior favela de Minas
Fachadas de casas do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de BH, ganharão novas cores. A pintura das residências da maior favela de Minas integra o projeto Morro Arte Mural (Mamu), que pretende compor um macro mural no local, que poderá ser visto da Praça do Cardoso. O projeto, criado pelo artista Jorge dos Anjos, conta com a participação da comunidade.
O tema será “Águas da Serra”, em referência aos três mananciais que cortam a região. Ele foi escolhido a partir da escuta ativa às demandas da comunidade, que revelou a urgência em preservar os mananciais que cortam o morro - Acaba Mundo, da Serra e do Cardoso, que nasce na Vila Cafezal e segue seu curso pela Cardoso, passando pela Avenida Mem de Sá até desaguar no Arrudas.
Maria Conceição da Costa - moradora e filha de Dalila Monteiro, uma das maiores lideranças do Aglomerado -, explica a importância que esses mananciais têm para a história local. “Antigamente, cada água tinha um propósito. Uma era pra lavar a roupa, outra era pra beber e fazer comida, tomar banho e por aí vai. Não havia água encanada ou tratada, então a gente subia com as latas na cabeça e depois enchia os galões de água’’, conta .
Para Juliana Flores, diretora artística e curadora do projeto, a iniciativa propõe um reencontro poético, cultural e político com as águas originárias de BH, levando em consideração que a cidade cresceu, muitas vezes, de costas para os rios e córregos. ‘‘Mais do que recursos naturais, essas águas carregam as memórias de um território profundamente conectado com o meio ambiente”, explica.
Comunidade é protagonista
Um dos pilares centrais do Mamu é a valorização da comunidade local. Ao contrário de outros anos, nesta edição, todos os detalhes foram pensados para tornar os moradores do local os maiores apreciadores do projeto.
O principal exemplo dessa mudança de conceito é a disposição do macro mural. Em outras edições, a vista privilegiada era de quem passa por grandes avenidas da cidade como na Avenida dos Andradas, com a primeira edição do macro mural do Alto Vera Cruz em 2018; avenida Antônio Carlos, na Vila Nova Cachoeirinha em 2022; e avenida Senhora do Carmo, no Morro do Papagaio, com a terceira edição em 2024.
Em 2025, a vista do macro mural privilegia a própria comunidade e quem passa pela famosa Avenida Cardoso, via que dá acesso à Praça. Além desses pontos, o Mamu continuou priorizando contratações e fornecedores, já que 50% dos envolvidos são do Aglomerado da Serra, fomentando o desenvolvimento social e econômico, que vão de produtores a artistas locais.
A participação local é amplamente reforçada durante toda execução. Tal como as casas formam um grande mural, a comunidade, em coletivo, se transforma em uma grande equipe. São eles que decidem como e o que será feito. O protagonismo começa quando o morador avalia a proposta e assina o termo de aprovação, passando pela articulação com os vizinhos, a mobilização, as reuniões da equipe com a comunidade, as ideias para a comunicação do projeto, o fortalecimento da proposta com outros atores do território, no cafezinho que alimenta quem está ali preparando a base para a chegada do desenho e na programação artística que complementa todo o período do processo de pintura.
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