O que Deus uniu...

Comédia põe Julia Roberts e George Clooney como um casal em pé de guerra

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 09/09/2022 às 09:45.
 (Divulgação)

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Com o rótulo de comédia romântica, não é difícil imaginar os desdobramentos de “Ingresso para o Paraíso”, uma das estreias nos cinemas. Ainda mais que seus dois protagonistas são George Clooney e Julia Roberts, nos papéis de um casal que se odeia mais do que tudo na Terra.

A filha, único elo que os mantêm minimamente em contato, resolve se casar inesperadamente, com um rapaz da paradisíaca Bali após menos de um mês de namoro. E eles terão que se unir para impedir o que avaliam, por experiência própria, como um matrimônio desastroso.

Com um cenário exótico e belíssimo, tradições milenares e estilos de vida mais simples em evidência, longe do frenesi das metrópoles, esse “ingresso” que o filme dirigido por Ol Parker propõe é uma reavaliação sobre os rumos que damos às nossas vidas.

Uma fórmula semelhante ao que o cineasta imprimiu em “O Exótico Hotel Marigold”, que também aborda a redescoberta da ânsia de viver na terceira idade. No novo trabalho, porém, o tema surge abruptamente na trama, com um resultado muito superficial e duvidoso.

Na primeira parte, o roteiro se atém às disputas entre os personagens de Julia e Clooney, com algumas boas gags, mas se esquece de estabelecer o que será o contraponto para a simplicidade espiritual da ilha localizada na Indonésia. Nada parece estar fora do lugar em seus pensamentos e estilos de vida.

Nada que ao menos indique que a vida corrida deles os impeça de enxergar o que é essencial. Quando a trama se desloca para Bali, não há nenhum personagem local que faça um meio termo entre as culturas, recurso muito usado em certas comédias dos anos 1960 e 1970.

Falta essa ligação que torne mais palatável o processo de transformação dos protagonistas, servindo também como uma espécie de cupido e escada para o humor. Embora não sejam vítimas de xenofobia, os balineses são personagens frágeis e desinteressantes.

Mais grave ainda é o discurso anti-feminista do filme. A galerista vivida por Julia Roberts entra num estado de mea-culpa ao se sentir responsável pela separação, por receio de perder de vista a sua independência e a carreira. Já o arquiteto de Clooney não passa por qualquer revisão neste sentido.

A balança tende muito favoravelmente ao personagem masculino. Além de Clooney estar nitidamente mais à vontade, tirando humor de seus trejeitos faciais, o filme dá a ele a palavra final sobre o sentido do casamento, com o consentimento da ex-esposa.

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