CINEMA

Documentário acompanha escalada de violência contra as artes no país

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 08/08/2022 às 07:35.
Em cartaz nos cinemas, o filme “Quem Tem Medo?” narra a ascensão da extrema direita no Brasil a partir da perspectiva de artistas que tiveram obras censuradas (Embaúba Filmes/Divulgação)

Em cartaz nos cinemas, o filme “Quem Tem Medo?” narra a ascensão da extrema direita no Brasil a partir da perspectiva de artistas que tiveram obras censuradas (Embaúba Filmes/Divulgação)

Para o cineasta Dellani Lima, se não fosse a Lei Aldir Blanc, aprovada a fórceps por deputados e senadores para garantir recursos à combalida cultura brasileira, os artistas teriam morrido de fome após a retirada de investimentos pelo governo federal e a pandemia.

“Desmontaram a cultura toda. Ela pode ser um lugar de resistência e denúncia, então é melhor eliminá-la fazendo censura”, lamenta Lima, um paraibano que morou por vários anos em Belo Horizonte e que, nos últimos anos, adotou São Paulo como residência fixa.

Uma das formas de censura foi o ataque às manifestações artísticas. De maneira indireta, ele foi um dos atingidos, quando o grupo A Motosserra Perfumada teve a peça “Res Pública” censurada pela Funarte antes mesmo de estrear, em 2019, sob a alegação de “falta de qualidade artística”.

“Fiquei indignado. Estava começando a produzir um filme sobre o processo de criação da peça. Esses atos começaram dois anos antes e foi a gênese do sucateamento da cultura do país, afetando a nossa sobrevivência”, analisa o realizador, que respondeu à censura com outro filme.

Em cartaz nos cinemas, “Quem Tem Medo?” faz uma espécie de cronologia sobre a escalada desses atos, detendo-se em cinco casos emblemáticos, a começar pelo coreógrafo Wagner Schwartz, que, em 2017, foi acusado de pedofilia ao fazer uma performance nu.

É Schwartz que abre o documentário, citando as várias vezes que foi ameaçado de morte e a resolução de sair momentaneamente do país depois que se aproveitaram da imagem de uma criança – levada por sua mãe – voluntariamente tocando o pé dele durante a apresentação.

A indignação de Lima se transformou num grande número de horas de depoimentos e imagens, com discursos de ódio de políticos na tribuna do Congresso – entre eles, um deputado que afirmou, em tom ameaçador, que os direitos humanos se resumem a um pedaço de pau.

“Achei muito importante, num documentário que faz interlocução com outras artes, trazer outros olhares. Aí resolvi me unir ao Henrique Zanoni e ao Ricardo Alves Jr, que também promovem essa intersecção com outras linguagens. Foi aí que resolvemos fazer um recorte, focando no corpo”, assinala.

A opção segue o estilo de trabalho do trio, “com uma ação mais direta, em que a temática se torna mais forte do que a forma”. Para o realizador, o formato ganha a força de um “soco no estômago”. A não ser por imagens de políticos de extrema direita, os únicos depoimentos são os dois artistas censurados.

O aspecto religioso empregado para justificar a censura se contrapõe, na visão de Lima, na apologia da violência, com a defesa do estupro e do ataque às mulheres e às minorias. “Começa com as pessoas tacando pedras e depois indo para o Congresso e para a presidência, onde se institucionaliza”.

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