
Transbordamento de córregos, alagamentos que param as principais vias e caos na cidade. Um cenário muito conhecido de Belo Horizonte em época de fortes chuvas é retratado no filme “Pajeú”, assinado pelo diretor Pedro Diógenes, em cartaz no Cine Belas Artes.
Trocam-se os ribeirões Arruda e do Onça pelo riacho Pajeú, fundamental para a criação da capital cearense Fortaleza. Assim como em BH, as águas do Pajeú foram canalizadas, restando, aos olhos da população, apenas um córrego fétido que passa ao lado do Mercado Central da cidade.
O filme é uma mescla de ficção e documentário, com elementos sobrenaturais. “O sobrenatural tem a ver com a minha relação de criança com o riacho, porque eu sempre ouvia falar dele, mas ao mesmo tempo ele não existia. Para mim, tinha uma coisa fantasmagórica”, registra.
Para Diógenes, à medida que foi entendendo melhor a história do riacho, ficou impossível fazer um longa-metragem sobre ele sem ter um lado de denúncia. “Ele representa uma espécie de guerra incessante que existe entre a especulação imobiliária e o meio ambiente”, afirma.
O cineasta enxerga no Pajeú o símbolo do urbanismo desenfreado, “que faz com que essas cidades crescessem e, ao mesmo tempo, desaparecessem”. Uma das perguntas que guiaram muito o filme foi, segundo ele, “quantas vidas, histórias e sonhos também foram soterrados?”.
Pedro Diógenes salienta que o esquecimento faz parte do projeto. “Não adianta só soterrar. É importante que as pessoas esqueçam e que essas histórias não sejam contadas, tornando mais fácil dominar os espaços e vender aqueles locais”, lamenta o diretor.
“Poucas pessoas conhecem a história do Pajeú, mal sabem por onde o riacho passa e da importância dele. Um esquecimento prático, pois até nos mapas ele deixou de existir. É um apagamento geral mesmo, o que causa diversos tipos de transtornos”, assinala.
Entre os transtornos estão desde os mais óbvios, como os alagamentos, o fato de deixar a cidade mais quente e a diminuição na quantidade de árvores, até os menos perceptíveis, deixando a nossa vida mais pesada e difícil, com a falta de pontos de lazer e fuga do urbanismo.
Não é a primeira vez que Diógenes aborda a questão ambiental em seus filmes. “Não sou ambientalista ou especialista no assunto. Essa abordagem tem a ver com a minha relação com a cidade. É difícil olhar para Fortaleza sem com que a especulação imobiliária venha à tona”.
Leia mais: