Cinema

Nicolas Cage faz piada autorreferencial em 'O Peso do Talento'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
09/05/2022 às 09:31.
Atualizado em 09/05/2022 às 15:27
Nicolas Cage está em Coração Selvagem (Wild at Heart), de 1990, um dos filmes da Amostra (Divulgação)

Nicolas Cage está em Coração Selvagem (Wild at Heart), de 1990, um dos filmes da Amostra (Divulgação)

Nicolas Cage chegou àquele ponto que costuma atingir ex-astros de filmes de ação, participando de produções baratas que tentam se valer do pouco interesse que o ator ainda pode despertar nas plateias.

Com estreia nesta quinta nos cinemas, “O Peso do Talento” começa exatamente nesse momento da vida de Cage. No papel dele mesmo, endividado e sem crédito entre os grandes estúdios, ele é o símbolo do ocaso.

É esse mote bastante próximo da realidade artística atual de Cage que sustenta o filme, ao ridicularizar o ator sem piedade até promover uma espécie de redenção, em que ele ressuscita a própria carreira.

Curiosamente, a realidade parece imitar a ficção, com “O Peso do Talento” despertando novamente a atenção para o trabalho de Cage a partir de uma eficiente combinação entre ação e humor ácido.

Os fãs de cinema (e dos bons tempos do ator) garantem o divertimento ao reconhecerem citações de filmes emblemáticos na trajetória de Cage, como “Feitiço da Lua”, “A Rocha” e “60 Segundos”.

A melhor referência se traveste de um conselheiro imaginário que aparenta ser o tresloucado personagem Sailor Ripley de “Coração Selvagem” (1990), um dos grandes momentos de Cage no cinema.

Essa aparição não esconde seu propósito em marcar uma guinada na carreira, quando deixa as obras mais cult de lado, como “Peggy Sue” e “Arizona Nunca Mais”, para abraçar as superproduções.

É curioso que o filme se torne vítima dessa divisão: as brincadeiras com o passado perdem espaço para um tipo de ação com a cara dos anos 80, colocando o protagonista como um improvável herói.

Convidado por um fã espanhol para conhecer a sua mansão em Maiorca, em troca de uma boa quantia de dinheiro, Cage acaba se metendo com mafiosos que sequestram a filha de um político.

Dessa forma, o roteiro de “O Peso do Talento” engloba outro ingrediente clássico – a terra exótica – para acelerar a ação de uma maneira quase cartunesca, com vilões que parecem ter saído de um desenho.

A estranheza e as piadas referenciais cimentam o caminho para o típico loser do cinema americano, que, dentro de uma situação muito improvável, reconquista a confiança em si mesmo e a da família.

Não basta apenas reencontrar a trilha do sucesso, mas ter a filha ao lado. Ele não tem o respeito dela, ao viverem realidades diferentes, com Cage obrigando-a a ver “O Gabinete do Dr. Caligari”, de 1920.

A reconexão só acontece após o ator deixar de olhar para o próprio umbigo, se abrir para o que lhe parece “estrangeiro” e aceitar que um filme como “As Aventuras de Paddington 2” pode nos emocionar.

Um desenvolvimento que poderia ganhar ares de sátira refinada, mas que quer mesmo é mostrar que não precisamos ter vergonha de gostar daqueles filmes exagerados e sem pé nem cabeça.

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