CINEMA

Novo 'Batman', protagonizado por Robert Pattinson, é um suspense psicológico

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/03/2022 às 08:14.
Atualizado em 07/03/2022 às 17:14
Filme dirigido por Matt Reeves traz um Homem-Morcego perturbador e de aparência desleixada (Warner/Divulgação)

Filme dirigido por Matt Reeves traz um Homem-Morcego perturbador e de aparência desleixada (Warner/Divulgação)

O próprio Homem Morcego admite, nas sequências finais de “Batman”, em cartaz nos cinemas, que não é muito diferente dos vilões que combate em Gotham City. Tanto o lado “do bem” quanto o “do mal” são movidos pelo mesmo sentimento: vingança.

Após o sucesso de público e crítica de “Coringa”, em que há um movimento inverso em torno de um dos maiores oponentes de Batman, tornando-o vítima de uma sociedade cruel, os produtores da franquia do super-herói esticaram ainda mais a corda.

O protagonista interpretado por Robert Pattinson, estreando com a capa do vigilante noturno, é ainda mais soturno e psicologicamente doente do que seus antecessores, com o ator exibindo introversão e uma aparência desleixada, bem longe do galã de outros filmes.

Bruce Wayne, o alter ego de Batman, deixa de ser um homem que sabe aonde o poder do status pode levá-lo, para ficar refém de seu passado, paulatinamente perdendo a riqueza que herdou – situação financeira que deverá ser explorada nos próximos longas.

Os vilões Pinguim e Charada seguem essa premissa realista, sem as vestimentas e os adereços extravagantes que os caracterizavam. Tirando o formato do nariz, o primeiro em nada lembra outras personificações, transformado em um mafioso perigoso.

Charada percorre caminho semelhante. Está mais próximo do serial killer de “Seven”, espalhando enigmas que levam a um rastro de mortes. Por sinal, a grande mudança em “Batman” se refere à adesão ao suspense psicológico, distante de um típico filme de herói.

Há várias cenas de ação, mas todas estão à reboque de um jogo mortal cujo desfecho aponta para uma crítica à internet, com a sua legião de anônimos que, a partir de alguns cliques, legitimam um estado de violência, à espera de um líder para conduzi-los.

Eles aproveitam o momento em que Gotham City parece à deriva, numa grande escalada de violência e corrupção, que atinge todas as instituições. Pessoas antes vistas como idôneas são postas em xeque, atingindo em cheio a família de Bruce Wayne.

Um dos méritos desse novo capítulo do Homem Morcego é o terreno arenoso que a história mergulha, mudando várias vezes de perspectiva em relação às motivações de Bruce sobre dois pais filantropos que foram assassinados sem maiores explicações.

Sob a direção de Matt Reeves, que já mostrou boa mão para o suspense, em “Cloverfield: Monstro” e “Deixe-me Entrar”, a franquia consegue a proeza de abrir mão de alguns emblemas sem perder a essência do personagem, que muitas vezes foi jogada para segunda plano.

Apesar da trilogia de Christopher Nolan ter nos apresentado um lado mais sombrio da humanidade, jamais se viu, na telona, um Batman tão perturbador, que precisa vencer os seus inimigos internos para conhecer uma saída que seja vantajosa para todos.

Reconhecer o que o aproxima de Charada, pondo fim a uma falsa dualidade, é o primeiro passo. Nesse sentido, “Batman” constrói com eficiência esse espelhamento. O vilão, vivido por Paul Dano, só não consegue superar o incrível esmero como Heath Ledger compôs o Coringa.

Não há solução milagrosa para a crescente violência, nos diz o filme. Mas não se pode desistir, sob o risco de elegermos políticos que, ao prometerem limpar a sociedade, acabam por sujá-la ainda mais. Num gênero tão masculino, a esperança é o que surge como caminho possível.

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