CINEMA

Premiado 'A Mãe' entra em cartaz nos cinemas de Belo Horizonte

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 11/11/2022 às 20:28.
Marcélia Cartaxo ganhou o Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado neste ano (Cup Filmes/Divulgação)

Marcélia Cartaxo ganhou o Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado neste ano (Cup Filmes/Divulgação)

Qual é o tempo que norteia o filme “A Mãe”? Não é certamente o passado, já que os personagens desse longa-metragem de Cristiano Burlan, em cartaz nos cinemas, mal carregam uma história para dar corpo às suas origens. A obra não se dá tempo para isso, tanto nas escolhas narrativas quanto no discurso.

Maria (Marcélia Cartaxo) não sabe que, após uma rápida conversa na cozinha de casa, nunca mais verá o seu filho Valdo. Antes disso, o espectador tem apenas as informações mais básicas para entender que se trata de uma das muitas famílias de periferia de São Paulo que luta, a cada dia, pela sobrevivência.

Esse é o ponto chave para a compreensão da proposta do filme, que aborda o aqui agora, o tempo presente que retrata famílias sendo esfaceladas por toda ordem de violência, espremidas entre os traficantes e os policiais que transformam as comunidades em zonas de tiro livre, numa terra sem lei.

A “terra sem lei” não é exagero: o percurso da mãe após o último encontro com Valdo será por esses vãos do sentimento de ausência. A gente não sabe direito porque Valdo não tem pai, mas essa informação não se faz tão necessária porque está vinculada a outro tipo de falta paterna, por meio do Estado.

Dentro desse simbolismo, onde o Estado não está presente, não há uma sociedade sã. A partir de uma realidade crua, sem ramificações ou possibilidades de crescimento, sem passado ou futuro, Burlan nos impõe um papel: saberemos o que aconteceu de fato, mas numa perspectiva longínqua, sem que nada possamos fazer.

Esse é o tempo que sustenta “A Mãe”: uma época de concessão à barbárie. A mãe de Valdo é representativa de tantas outras que buscam seus filhos, assim como os valores com os quais fomos nutridos parecem perdidos, sem pai – e agora sem poder ver “contente a mãe gentil”, num Brasil onde a liberdade se dissipou.

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