Entrevista

'Já vi muito fanatismo, mas o cruzeirense é diferente, é amor', diz o ex- jogador Fabrício

Angel Drumond
angel.lima@hojeemdia.com.br
24/04/2023 às 09:26.
Atualizado em 24/04/2023 às 13:07
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Catarinense de Imbituba, Fabrício de Souza, ex-jogador, de 40 anos, hoje se considera um “quase mineiro”, tamanha a sua identificação com o Estado através do Cruzeiro Esporte Clube, equipe que atuou por quatro anos, de 2008 até 2011. 

Na carreira profissional, além do Cruzeiro, Fabrício passou por Corinthians, São Paulo, Vasco e Joinville no Brasil. No Japão, o volante de origem jogou no Júbilo Iwata. Apesar de todas as oportunidades, foi em Belo Horizonte que o ex-atleta atingiu o seu profissionalismo, atingiu a sua maturidade e alcançou o posto de ídolo do esporte. 

Fabrício é tão identificado com o clube, que hoje se tornou um símbolo da torcida e um influencer nos assuntos que se referem ao time celeste. Participa de ‘lives’, programas esportivos, e sempre está na capital mineira quando o Cruzeiro vai disputar algum jogo que possa chamar a atenção.

O ídolo da torcida bateu um papo com o Hoje em Dia e falou um pouco desse amor incondicional pela Raposa, sentimento esse que está passando de pai para filhos. 

Quais as suas expectativas para o Cruzeiro no restante da temporada, na Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro?
Minha expectativa é sempre alta, procuro sempre torcer e pensar coisas boas, não gosto muito de vibrações ruins. Procuro sempre ver o lado positivo, sobre o que pode dar certo. Para a Copa do Brasil, somos os maiores campeões, não tem como adversários, por mais que o passado recente mostra o time na Série B, possa menosprezar a camisa do Cruzeiro, é o maior campeão e pronto. É muito complicado enfrentar o Boca Juniors na Copa Libertadores, é como o Cruzeiro na Copa do Brasil, parece que a competição foi feita para aquele time. Já o Brasileiro, a gente sabe que será super difícil, e acredito que para as pretensões do que o clube está querendo, com pouco investimento, e se manter na Série A, teremos emoções, mas acho que será conquistado apenas o objetivo que os gestores estão pretendendo. O time é competitivo, não quero sonhar muito alto, quero que o time fique na Série A. Então será a fama histórica da Copa do Brasil a ser respeitada e os objetivos da Série A do Brasileirão. 

Você acha que o técnico Pepa pode dar certo no Cruzeiro? Pode fazer esse elenco jogar um bom futebol?
Estou na torcida. Não conheço ele pessoalmente, conheço através de vocês da imprensa, e pelas redes sociais. Estou gostando do trabalho, é um treinador novo, que almeja muita coisa na carreira. Está encantado, está conhecendo o que é o Cruzeiro, com a estrutura, com a torcida do Cruzeiro, porque a camisa ele já conhece, e quando o torcedor entender isso será muito bom. Quem está por trás de um clube como esse, acaba se doando, se entregando um pouco mais, e acho que ele tem um jeito muito legal. Aperta a mão dos jogadores, olha no olho, aquela coisa de conversar, que é parceiro, mas que na hora de cobrar vai fazer isso, porque essa é a tarefa do amigo. 

Você se tornou um símbolo da torcida cruzeirense. A que você atribui esse conceito?
Não me considero um símbolo, mas sei que fiquei feliz com o trabalho que fiz por lá. O que mais recebo de mensagem, é que, desde que me apresentei ao clube, no primeiro momento, eu enxerguei o que ´é o Cruzeiro, o que essa camisa representa, o que é o torcedor cruzeirense, então sempre os respeitei em um nível máximo, sempre me doei, sempre entreguei o máximo pelo clube, sempre para honrar as cores dessa camisa, do escudo, e acho que isso é que é valorizado. Agora da minha parte, estou muito feliz, sempre quis voltar para o Cruzeiro, e na arquibancada. Sempre me perguntei se a torcida iria me aceitar, com minha família, e hoje tenho um filho, o mais novo, que é cruzeirense fanático. Isso é gratificante para mim, não tem preço. 

“Já passei por Maracanã, Morumbi, Itaquerão, fomos em jogos do Benfica, Sporting e quando chegamos no Mineirão, eu pedi meus filhos para olharem a arquibancada e esquecer o time, porque foi assim que eu virei cruzeirense”

Nascido em Santa Catarina e com grande passagem pelo Corinthians no início da carreira, por que você se identificou tanto com o Cruzeiro? Foi a sua melhor fase no futebol?
No Corinthians foi muito maneiro também, era muito jovem, e foi onde apareci para o futebol. E aliás, foi quando o Cruzeiro teve interesse em me levar, mas no Corinthians tive muitos altos e baixos, aquela coisa de ser muito novo, e também não tive uma vida tão profissional. E quando fui para o Japão aprendi muito essa parte profissional, como atleta, e foi muito bom para mim, não só como profissional de futebol, mas como na vida também. E acabou que quando vim para o Cruzeiro, já estava focado no profissionalismo e consegui me cuidar mais extra-campo, e pude ter uma regularidade com a camisa celeste, e por isso considero a minha melhor fase. 

Você tem vindo constantemente a Belo Horizonte, principalmente para os jogos decisivos do Cruzeiro. É uma decisão familiar, já que seus filhos se tornaram grandes cruzeirenses?
Minha vontade era estar direto em Belo Horizonte. Devo tudo ao futebol, a verdade é essa, e tento passar isso para os meus filhos. Agora consegui enxergar uma coisa única, que é estar na arquibancada, e nunca tive esse privilégio, estou parecendo uma criança. Sempre vi jogos na minha cidade de futebol amador, foi o único time que torci na vida, era o time da minha cidade, e agora posso fazer isso, passar essa emoção para os meus filhos, quando vou no Mineirão, não tem preço. Por que não é só resultado, só futebol bonito, a parada na arquibancada é irada demais, é o verdadeiro amor do futebol, e isso é incrível. E consegui passar isso para os meus filhos. Meus filhos falam comigo: mas todo torcedor é isso pai, é paixão, e eu respondo: mas o cruzeirense é amor, é diferente. Já passei por outras arquibancadas, já vi muito fanatismo, mas o cruzeirense é diferente. E por isso, quando posso, estou em BH. Foi muito legal voltar ao estádio, em 2021, naquele jogo contra o Náutico, que não estava valendo nada, e a torcida foi para comemorar o Cruzeiro. Já passei por Maracanã, Morumbi, Itaquerão, fomos em jogos do Benfica, Sporting e quando chegamos no Mineirão aquele dia, pedi meus filhos para olharem a arquibancada e esquecer o time, porque foi assim que eu virei cruzeirense. 

Você teve lances marcantes com a camisa do Cruzeiro, principalmente para a torcida. Aquela saída de campo contra o Corinthians, depois do pênalti marcado contra, os dois 5 a 0 contra o Atlético em finais do Mineiro e o gol no 6 a 1, contra o rival. Quais destes momentos é considerado o mais especial para o Fabrício?
O lance que a torcida fala mais para mim é aquela saída de campo contra o Corinthians (risos). Até porque nunca vi ninguém fazer isso na vida, e foi uma coisa espontânea, fiquei muito descontrolado naquele jogo. E até para não fazer coisas piores, resolvi sair de campo. Mas não imaginava que ia dar essa repercussão toda. Na verdade, foi engraçado, porque não voltei com a delegação, tive que resolver uns problemas, tinha uma casa em São Paulo, e aproveitei para ficar e dar uma solução. E na volta pra Belo Horizonte, os jogadores me falaram que a torcida foi ao aeroporto e que eles queriam me ver, pois se acharam representados. Eu era torcedor e não sabia! Mas o que mais me marcou foi o 6 a 1, e não pelo gol, que foi importante demais, talvez o mais importante da minha vida, mas por tudo que se envolveu naquela semana. Foram poucas horas de sono, mas a adrenalina superou tudo. 

Depois de jogar pelo Cruzeiro, você ainda passou por grandes clubes como São Paulo e Vasco. Por que o Fabrício não conseguiu mostrar o mesmo futebol que o trouxe títulos e consagrações por Corinthians e Cruzeiro?
Na verdade, já saí do Cruzeiro com a lesão no tendão, e no São Paulo foi difícil recuperar com tempo, devido a situação que o time estava naquela temporada. Os profissionais me aconselharam a parar para tratar, só que foi uma opção minha continuar jogando e fazendo tratamentos, mas o certo era parar, pois poderia se tornar crônico. E minha dor se arrastou até o último dia da minha carreira e até hoje, quando corro, sinto dor. Isso deu uma segurada na minha carreira, lembro de ter ficado três meses parados no São Paulo, e aí treinava uma semana e o Leão queria me escalar. Jogava e estourava outra parte, sempre no tendão, o músculo fazia mais força para compensar o outro. Voltei a jogar e rompi os ligamentos do joelho, fiquei um ano parado. E mesmo assim voltei bem, joguei com o Paulo Autuori, mas por uma série de fatores não emplaquei no São Paulo. E depois, no Vasco, a meta era subir em 2014 e o time conseguiu. Depois disso, as dores voltaram e bateu a vontade de ficar com os meus meninos, ver eles crescendo. Senti que eles precisavam mais de mim. Mas não me arrependo de nada, acho que tudo valeu a pena.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por