Cria do Barreiro

Palhinha disse que não trocaria o Brasil pelos milhões da China; relembre entrevista

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
18/07/2023 às 10:28.
Atualizado em 18/07/2023 às 12:11
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Nascido e criado no Barreiro, em Belo Horizonte, o valente, veloz e eficaz Vanderlei Eustáquio de Oliveira, eternizado no mundo da bola como Palhinha, disse em entrevista ao então repórter do Hoje em Dia Henrique André que se atuasse hoje (isso em 2019), que não deixaria o futebol brasileiro para ganhar os milhões no futebol asiático. Parentes e amigos de Palhinha se despediram dele em velório nesta terça (18), no Parque da Colina, em BH.

Ídolo no Cruzeiro, clube que o revelou, importante peça do Atlético no início da década de 1980, e do Corinthians de 1977, Palhinha, ná época, se disse triste com o nível técnico do futebol brasileiro atualmente. Para ele, a força física se sobrepôs ao talento dos jogadores.

O ex-companheiro de Piazza, Reinaldo, Sócrates e companhia, que também atuou como secretário de esportes, relembrou o passado vitorioso e falou da frustração por não ter ido a uma Copa do Mundo.

Relembre a entrevista:

Como ex-secretário de esportes de Belo Horizonte, acredita ser possível desenvolver o esporte com dinheiro público? 
A dificuldade é muito grande, sabe? A gente não tinha uma verba constante. Era uma coisa muito complicada. Mas com o pouquinho que a gente tinha, fizemos um bom trabalho na época, melhorando os campos. Infelizmente, o Governo nunca preocupou de uma forma definitiva. A criança e o adolescente, com incentivo ao esporte, serão afastados do caminho errado. Eles deveriam preocupar mais com isso e aumentar a verba.

Já se reencontrou com Figueroa, rival nos confrontos históricos do Cruzeiro com o Inter na década de 1970, e que fraturou seu nariz em um desses duelos?
Depois disso eu não tive esta oportunidade de encontrá-lo. Naquela época, ele tinha usado o cotovelo para quebrar meu nariz. Continuei no jogo, mesmo sangrando. Quando chegou aqui (Mineirão) no 5 a 4, eu resolvi chegar forte. Encostei a bola no fundo do campo para descontar; mas eu não sabia dar cotovelada. Ele era mestre nisso. Meti o cotovelo, ele caiu e eu fui expulso. Estava 3 a 1 para o Cruzeiro. Veio o 3 a 2, o 3 a 3, o 4 a 3 e o 4 a 4. Ainda bem que fizemos o quinto. Imagina se a gente perde aquele jogo? Saí aplaudido pela torcida, mas passei um aperto danado depois. 

Guarda mágoa dele?
Não. Eu tenho uma felicidade grande porque ele foi apontado como o melhor jogador do mundo e disse que o atacante mais chato que ele enfrentou não foi Pelé e nem outro; ele disse que era eu. Isso me marcou bastante como jogador de futebol. 

Não é uma frustração não ter ganhado uma Copa, mas sim de não ter ido. Eu e o Sócrates estávamos arrebentando em São Paulo. Infelizmente, não fomos convocados em 1978. Eu deveria estar lá”

Qual time foi mais marcante que você atuou, o Cruzeiro de 1976, o Corinthians de 1977 ou o Atlético de 1980?
Olha, os três foram marcantes, cada um dentro das suas limitações. Se você for analisar, os times de 1980 e 1981 do Atlético eram muito bons, começando lá o João Leite. O de 76, do Cruzeiro, também não tem como discutir. A única infelicidade foi ter perdido o Roberto Batata (jogador que faleceu num acidente automobilístico). Tínhamos Nelinho, Piazza, Joãozinho, Zé Carlos... Já no Corinthians, também peguei uma grande equipe e acabamos com aquele jejum de 23 anos sem um título. Fui negociado por 1 milhão de dólares. Fiquei três anos lá e fui campeão em 1977, com um gol de rosto de que fiz na primeira partida, e em 79. 

Página da entrevista com Palhinha em março de 2019

Página da entrevista com Palhinha em março de 2019

O senhor nasceu e foi em criado em Belo Horizonte. Era cruzeirense assumido. Como foi sua saída do Cruzeiro para o Corinthians em 1977? 
Nasci e fui criado no Barreiro. Meu pai foi presidente e fundador do Comercial por muitos anos. Desde menininho, com cinco, seis anos, eu o acompanhava no futebol amador. Ir para São Paulo foi uma questão de oportunidade. Eu não queria nascer no Cruzeiro e morrer no Cruzeiro. Fui para o Corinthians numa época em que o clube lutava por uma conquista; foi o momento certo. 

Quando vai a São Paulo, ainda tem o reconhecimento do torcedor do Timão?
Até hoje e, honestamente, é até engraçado... Talvez o reconhecimento lá seja maior do que aqui. O mineiro é muito tímido, mas vem se soltando. Está mudando um pouquinho. O torcedor mais antigo e até o mais novo chega para conversar. Quem se realiza na vida profissional é quem não é esquecido.

Mesmo após dois títulos nacionais, o técnico Mano Menezes tem o trabalho questionado por parte da torcida. Como avalia a forma em que o técnico arma suas equipes, o chamado “Manobol”? 
Quando falam que ele fecha o time lá atrás quando faz gol, é justamente para chamar o time adversário, que precisa do resultado, e apostar nos contra-ataques. O Cruzeiro tem jogadores de velocidade que conseguem fazer bem este papel. O Mano, para mim, é excelente e um dos melhores do país. Foi injustiçado na Seleção.

Talvez o reconhecimento que recebo lá em São Paulo seja maior do que aqui. O mineiro é muito tímido, apesar de estar se soltando mais. Quem se realiza na vida profissional é quem não é esquecido

Qual a sua visão do que aconteceu naquele confronto do Atlético com o Flamengo, no estádio Serra Dourada, em 1981?
Em 81 foi um roubo, uma coisa absurda. O Wright foi preparado para dar o título ao Flamengo.

Acredita que o Atlético seria o campeão da Libertadores naquele ano?
Tínhamos tudo para ser porque o nosso time era muito bom. Um time que você pega seis ou sete jogadores de Seleção, com o futebol que vinha jogando, certo? Naquela partida, eu era o capitão. Ele expulsou o Reinaldo sem mais, sem menos; logo depois o Éder. Passou mais um pouquinho, naquela confusão, quando a gente queria continuar o jogo com nove jogadores, foi a vez do Chicão ser expulso. Aí eu cheguei pra ele e perguntei se ele queria que o Flamengo ganhasse; que, se quisesse, era para me expulsar. Não deu outra. Vou morrer com isso entalado na minha garganta. 

Como chegou ao América já aposentado?
Eu tinha encerrado. Como o João Avelino (ex-técnico) era muito meu amigo, eu aceitei o convite que ele fez. Disse que a situação estava ruim financeiramente. Ele frequentava minha casa, viajávamos juntos...

Se jogasse hoje, ia preferir ser ídolo no Brasil ou ganhar os milhões na Ásia?
Eu não iria para a China; ficaria por aqui mesmo. Você vê hoje os jogadores ganhando um milhão e meio. Eu não iria lá para fora com o que pagam aqui atualmente. Com três, quatro anos, você está feito.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por