David Braga

'Do estagiário ao presidente, todo mundo precisa ter atitude plural', diz CEO da Prime Talent

Renata Galdino
@arenatagaldino
21/02/2022 às 08:06.
Atualizado em 21/02/2022 às 10:28
“Nem o Facebook, que está lançando a questão do metaverso, entrega resultados se não for por meio das pessoas. As pessoas sempre foram e sempre serão o centro dos resultados das organizações”, disse o especialista (Fernando Michel/Hoje em Dia)

“Nem o Facebook, que está lançando a questão do metaverso, entrega resultados se não for por meio das pessoas. As pessoas sempre foram e sempre serão o centro dos resultados das organizações”, disse o especialista (Fernando Michel/Hoje em Dia)

A demanda por profissionais plurais, os chamados “nexialistas”, tem crescido no mercado de trabalho. Esses colaboradores têm alto poder de conexão e conseguem transitar em um ambiente empresarial cada vez mais diversificado, afirmam especialistas.
O perfil ganhou mais força com a pandemia de Covid-19, diz David Braga, CEO da Prime Talent, consultoria que recruta talentos para cargos executivos. “Nem sempre o nexialista vai saber as respostas, ele sabe onde buscá-las para trazer para um projeto, para trazer a solução para algum tipo de problemática”, explica o gestor, que também é professor convidado da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você”.

Se preferir, confira entrevista em vídeo:

Nesta entrevista, David Braga, que atua ainda como conselheiro de RH da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas) e conselheiro-executivo da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seção MG, comenta sobre o cenário atual do mercado de trabalho e as perspectivas do futuro. Confira!

O nexialista não é um profissional novo, em 1950 já era conhecido. Por que tem ganhado mais força agora?
O mercado de trabalho, cada vez mais, tem sido questionado, disruptado e demandado profissionais mais plurais, que conhecem um pouco de tudo e de tudo, um pouco. O nexialista é aquele que traz nexo dentro das organizações. Se num passado recente a gente tinha muito bem separado os profissionais generalistas ou os especialistas, cada vez mais o nexialista tem estado no meio. Ele nem é o especialista, que conhece profundamente determinado tipo de tema, nem o generalista, que conhece de tudo um pouco. Evidentemente, estamos dando nomes diferentes às mesmas coisas que sempre foram necessárias nas organizações: o profissional talentoso sempre foi desejado, e talentoso é aquele que entrega resultados. 

Pode-se dizer que o nexialista tem resposta para tudo, em qualquer tempo?
Em um mundo complexo, incerto, ambíguo, volátil, ninguém tem as respostas de bate-pronto. Você precisa agregar as pessoas, trazer novos conhecimentos. O nexialista tem alto poder de conexão. Nem sempre ele vai saber as respostas, como já sabemos que as lideranças não sabem, nunca souberam nem nunca saberão todas as respostas, mas ele sabe onde buscá-las para trazer para um projeto, para trazer a solução para algum tipo de problemática.

É um profissional com diversas competências e habilidades, então.
É alguém que tem muitas competências comportamentais desenvolvidas, comerciais, sociais. Ele consegue transitar em um ambiente cada vez mais aplicado à diversidade de gênero, raça, cor, idades, pessoas com perfis completamente distintos, porque é uma arena cada vez mais propícia para conflitos.

Esse perfil está restrito a alguma posição específica?
Não, pois trata-se de um comportamento, uma atitude. Do estagiário ao presidente, todo mundo precisa ter essa atitude plural.

Há uma discussão antiga sobre “o líder nasce pronto ou é treinado ao longo da vida?”. O que dizer sobre o nexialista?Para ser considerado um nexialista é preciso reunir o máximo de competências e habilidades. Nós somos seres que sempre estamos mudando ao longo do tempo. De fato, algumas pessoas já têm essas competências e habilidades bem desenvolvidas. Outras vão precisar ir em busca de metodologias e ferramentas para trabalhar alguma competência ou habilidade que ainda precisa aprimorar. Tudo aquilo que a gente tem contato, como novas pessoas, tecnologias e metodologias, vai nos moldando como pessoa e como profissional. A pandemia acelerou alguns processos, trouxe novos conhecimentos tecnológicos. De maneira forçada, fomos impulsionados a melhorar nossas competências e habilidades. O nexialista, por sua vez, é exatamente quem, por maior que seja a mudança, consegue transpor, vivenciar a mudança e tirar os aprendizados.

Os profissionais seniores têm vez em meio às essas mudanças?
É preciso aplicar a diversidade na sua essência, porque traz resultados extremamente exponenciais. Se os mais seniores de idade trazem o conhecimento, o repertório e todo o arcabouço adquirido ao longo dos anos, já que vivenciaram outras crises por exemplo, eles conseguem transpor determinados tipos de problemas de forma muito mais natural do que muitas vezes os mais jovens que, por outro lado, já estão muito mais conectados, são mais tecnológicos. Nem oito nem oitenta. O importante e mais inteligente é aplicar diversidade, mesclar gerações, questão de gênero. Se possível, colocar a mesma quantidade de homens e de mulheres, e aí começa a tratar de temas cada vez mais em evidência que são diversidade e equidade. É aí que as empresas devem aplicar uma gestão mais humanizada, com maior resultado e, antes de resultado, com maior conexão de propósito. 

A gente ouve muito sobre “propósito” entre os mais novos. Os mais velhos já estão em busca dessa conexão?
Não é mais uma característica dos mais novos. Depois da pandemia, a Prime Talent passou a receber muitos contatos de presidentes, diretores e gerentes dizendo que não se conectam mais com o propósito da empresa onde trabalham e estão em busca de novas oportunidades. Isso já mostra para onde estamos caminhando: as pessoas querem trabalhar, mas com equilíbrio. Querem aplicar tecnologia, mas com questões humanizadas para vivenciar. Querem ter experiência, mas também vivência, aplicabilidade dos seus conhecimentos.

 (Fernando Michel/Hoje em Dia)

(Fernando Michel/Hoje em Dia)

É possível equilíbrio em um mundo do trabalho cada vez mais exigente?
A empresa precisa buscar um ambiente mais humanizado, menos cobranças e metas. Os profissionais também precisam colocar limite. O Brasil desponta como um dos países com maior índice de burnout, as pessoas estão adoecendo. Quando adoece, perde a empresa, perde o profissional, e resultado começa a ficar comprometido.

Qual o grande desafio para colocar isso em prática?
É exatamente o autoconhecimento e saber o que é esperado. No fim do dia a decisão é sua: “eu quero estar num ambiente tóxico?” ou “quero estar em uma empresa que é sempre só resultado e não está olhando o lado humano?”. Hoje o poder está compartilhado. Se em um passado recente eram as empresas que escolhiam quem trabalhar com elas, hoje as pessoas também escolhem as organizações e buscam saber como são as políticas de pessoas, a forma de tratamento, se o ser humano é ou não valorizado, como são as lideranças. Esse processo de investigação tem acontecido e impacta totalmente na questão de atratividade, de engajamento, de employer branding. Existem muitas empresas atuando de forma assertiva, mas as que não estão precisam acordar porque estão fadadas ao fracasso.

O metaverso impacta o mercado de trabalho e as relações profissionais. Qual a sua avaliação sobre essa realidade que está sendo esperada?
O metaverso tem o objetivo de trazer para o virtual o que sem tem no mundo físico. No mundo da internet de hoje, você olha para a tela e se reúne com as outras pessoas. O metaverso, se de fato acontecer, permite que através de avatares você consiga transitar em outros contextos. Claro, a gente não pode subestimar a tecnologia, mas o que precisamos sempre preocupar enquanto profissionais é nos prepararmos hoje, seja buscando conhecimento, interações com as tecnologias, nos preparando com relação às nossas competências, habilidades. Se não for o metaverso, será outra tendência. Se você não se preparar, você se torna obsoleto e as empresas, no final do dia, precisam entregar resultados através das pessoas, através da tecnologia. 

Você fala muito em humanização, mas o metaverso não vai afastar ainda mais as pessoas?
É uma linha muito tênue. O brasileiro é muito caloroso. Sou fiel defensor da gestão humanizada. Esse uso da tecnologia hoje tem sido um dos impulsionadores das doenças psíquicas, estamos mais distantes das pessoas. Então, é preciso caminhar com a tecnologia sem esquecer do processo humanizado. Não precisamos de mais tecnologia, precisamos de mais humanização. 

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