Amanda Coelho

'Indústria brasileira de cosméticos é muito eficiente', diz CEO de uma das maiores empresas do ramo

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 11/07/2022 às 08:32.
 (Fernando Michel/Hoje em Dia)

(Fernando Michel/Hoje em Dia)

Levantamento da associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos revelou crescimento de 10,3% nas vendas de maquiagem no primeiro bimestre de 2022. Mais uma prova de que o setor não enfrenta crise. E surfando nos bons números está a Alva Cosméticos, dirigida pela empresária Amanda Coelho, também proprietária da Assinatura Consultoria e do e-comerce Belong Be. Amanda e equipe realizam pesquisas visando o desenvolvimento de cosméticos para marcas personalizadas. A Alva atua na concepção, fabricação dos produtos e também dá consultoria para gestão e desenvolvimento das marcas. Já são mais de 10 mil formulações desenvolvidas para empresas de cinco países. Ao Hoje em Dia, a empresária revelou que pretende faturar com uma nova planta da indústria cerca de R$ 3 milhões por mês, a partir do segundo semestre. “A indústria brasileira de cosméticos é muito eficiente e um setor muito importante. Queremos ampliar os negócios e inclusive levar a nossa marca para mais países”, diz Coelho.

Como foi sua chegada a este setor?
Meu pai era proprietário de uma antiga distribuidora de cosméticos. Em uma ocasião, fui trabalhar com ele e me apaixonei por esse ramo. Foi a partir de então que decidi ir para o exterior estudar e aprender mais sobre a área. Estive na Suíça, Estados Unidos e, quando voltei ao Brasil, comecei a estudar sobre o segmento de marcas próprias. A convite de um cliente de meu pai comecei com o ramo de drogarias, desenvolvendo produtos dermofaciais em uma parceria com a Alva Cosméticos.

É um setor que precisa de qual tipo e de quanto investimento? 
O investimento pessoal para alguém que deseja trabalhar na área precisa ser muito grande, porque hoje é um setor que está evoluindo muito rápido. Se você quer inovar com cosméticos, tem que ficar muito atento ao que o mercado está querendo, ao que as pessoas estão usando, e atento ao que está por vir. É preciso estudo e tempo para desenvolver boas formulações, acompanhar a estabilidade, desenvolver embalagens, desenvolver a arte e lançar. É preciso ainda que o produto seja uma novidade. Existe um passo acelerado da indústria de Cosméticos, que busca um mercado ávido por consumir novidades. É muita dedicação, mas uma área maravilhosa. É uma área que evolui muito no Brasil. A gente tem muitas soluções para os produtos, muita matéria- prima nova.

Muitas pessoas não sabem, mas elas podem desenvolver uma marca de cosméticos do zero. Como é este percurso desde o desenvolvimento até a venda de um produto?
Isso é uma novidade no Brasil mesmo. Comecei a trabalhar com marcas próprias há 14 anos. Quando comecei, era quase impossível uma pessoa dizer: vou fazer uma marca. Era coisa para grandes empresas, para associações, drogarias grandes. O mercado alimentício faz isso muito bem. Entretanto, hoje isso tudo avançou muito. A Alva mesmo é uma indústria que abaixou os seus valores para abraçar os projetos independentes. Então, nós atendemos maquiadores, proprietários de salão de beleza, e continuamos também a atender as grandes drogarias, como a Droga Raia, Drogasil, Minas Brasil, Farmácia Indiana, Assofarma, que é todo um associativo, mas também consegue atender as “marcas indie”, que estão crescendo no Brasil e fazendo a diferença.

Como é este processo? 
A gente tem uma empresa que se chama-se Assinatura Consultoria. São duas empresas irmãs: a Alva Cosméticos, que é a indústria, e a Assinatura Consultoria, que é onde você chega com o seu sonho. Você chega na Assinatura e conta seu sonho. Por exemplo: se o cliente quer fazer um batom que tenha uma pigmentação intensa, com uma cor diferente, com uma textura mate ou não, com uma textura mais hidratante, rótulo, em uma caixinha, lá na Assinatura, nós juntamos todo esse briefing e passamos para a nossa equipe de design. Acionamos nosso setor de apoio e o de registros de marcas. Enfim, conseguimos fazer tudo isso, pois a Assinatura é a empresa que abraça todo o projeto. Formatado esse projeto, ele é enviado para a indústria, a Alva, que faz a formulação e entrega tudo pronto.

E depois, para fazer a gestão e a comercialização desta nova marca? 
Esta talvez seja a etapa mais desafiadora, pois quando a pessoa chega para querer fazer um produto novo tem que ter feito toda uma pesquisa de mercado. Então eu tenho que saber para quem esse produto será vendido, quais são os pilares dessa marca, que precisa ainda ter uma estrutura de comercialização. Foi a partir desta necessidade que criamos o terceiro braço do nosso grupo que é a Belong Be. Você sai com sua marca da indústria e tem a oportunidade de vendê-la.

A empresa foi criada pela essa necessidade das pessoas que desenvolvem marcas próprias, principalmente os independentes, de serem abraçados pelo mercado, porque ele vai na indústria, idealiza tudo isso, faz um produto, cria uma marca, mas quando ele sai para o mercado, muitas vezes esse mercado não está aberto para ele. Sabemos que há marcas de beleza que dominam o segmento, então fica difícil você entrar numa grande loja. Por isso, criamos a Belong Be, esse marketplace para dar a mão a esse empreendedor, para que tenha uma porta de entrada. Dessa forma, as pessoas têm suporte desde o começo de seu sonho até a concretização da venda, tudo desenvolvido dentro do mesmo grupo. Claro que nossos clientes, que são também maquiadores, influenciadores digitais, têm seus sites, seus próprios espaços. Essa plataforma digital é mais uma porta. 

O que é indispensável para um bom produto de beleza? Os cliente do mercado de beleza são exigentes?

O mercado brasileiro é um dos mais exigentes do mundo, porque, no nosso caso, nossos clientes são profissionais, a maioria deles são maquiadores buscando um produto bastante específico. Então, temos uma exigência em relação à qualidade, à pigmentação, à performance do produto, durabilidade. Temos, por exemplo, muita procura por produtos a prova d’água e também por veganos, cruelty free, sem parabenos, sem sulfatos, sem corantes. Então o nosso desafio é inovação.

O desejo por produtos mais sustentáveis também é forte no setor?
Muito! Na verdade, ainda estamos caminhando. Ainda temos muito o que melhorar antes de dizermos que somos uma empresa verde, mas estamos caminhando. Tanto empresas como consumidores têm feito esta demanda.

Foi difícil para você empreender neste segmento, que é tão competitivo?
Temos muito orgulho, pois somando os funcionários das três empresas, somos predominantemente mulheres. Quando eu comecei minha carreira, eu ficava muito na estrada, pegava o carro e viajava muito. Ainda é uma área dominada por homens, então foi muito difícil meu início. Hoje, nos preocupamos muito em gerar oportunidades para mulheres em cargos de chefia também. O que a gente vê é que muitas vezes as empresas têm mulheres no seu grupo, mas os cargos mais altos são todos dominados por homens. Então, isso ainda é um desafio para as mulheres. Nas três empresas 85% dos nosso quadros são mulheres. 

Com um nome consolidado, qual a perspectiva de crescimento de agora para frente? 
Nós estamos mudando nossa fábrica de endereço porque ela é pequena para nossos planos. Vamos dar um passo muito grande, pois essa nova fábrica terá uma área quatro vezes maior do que a que está localizada na região Oeste de Belo Horizonte. Assim vamos poder investir muito nos produtos à prova d’ água, versões mais resistentes de bases e corretivos. Já somos referência na produção de pó facial solto, que é um pó de muita micronização, mas queremos avançar e melhorar ainda mais, nestas tecnologias que estão na pauta, na ordem do dia, além, é claro, da busca constante pela beleza limpa, mas que ao mesmo tempo permita o retorno financeiro para o empreendedor.

E qual seria seu grande desafio nesta nova fase?
Fazer produtos naturais, mas que tenham a performance dos produtos comuns, dos que não têm a preocupação ambiental. Estamos investindo bastante nisso. Gasta-se muito mais para desenvolver este tipo de produto: em maquinário, mão-de-obra e pesquisa.

De quanto alguém que pretende investir em uma marca própria?
Um produto mais simples... Vamos dar o exemplo do desenvolvimento de uma linha de batons, por exemplo. Uma embalagem standard, mais básica, com uma formulação também simples, para atender um público mais popular, diria que, em média, a pessoa consegue começar com R$ 30 mil e que ainda pode ser parcelado. Ela terá 300 unidades com este investimento.

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