Após temporal, moradores da avenida Tereza Cristina contabilizam prejuízos

Cinthya Oliveira
02/12/2019 às 11:58.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:53
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Depois do temporal da noite de domingo (1º), que provocou mais uma enchente na avenida Tereza Cristina, moradores e comerciantes dedicam a segunda-feira (2) aos trabalhos de limpeza e avaliação dos prejuízos. Como o metalúrgico Emiliano Pedrosa, que vive há mais de 50 anos na avenida, próximo à alça de acesso ao bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte.

No muro do domicílio, é possível ver a marca deixada pela água, com cerca de meio metro de altura. A enchente atingiu o carro dele. “Temos prejuízos constantes. Toda vez em que chove muito, a água do córrego Ferrugem sobe com velocidade e entra para a avenida”, contou.

Segundo ele, essas enchentes não aconteciam de maneira tão perigosa quando sua família mudou para o local, há mais de 50 anos. “Mas foram pavimentando tudo e os bueiros não dão conta de escoar toda a água da chuva”, disse Emiliano. A avenida Tereza Cristina teve de ser bloqueada durante a forte chuva da noite de domingo. Mauricio Vieira / N/A

Emiliano mostra a marca deixada pela água durante a enchente de domingo

Enquanto o metalúrgico trabalhava na limpeza de sua casa, funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte retiravam lixo dos bueiros da avenida Tereza Cristina. Ao longo de vários quarteirões, dezenas de trabalhadores atuavam na limpeza dos bueiros e das vias. Até mesmo um carro que foi arrastado pela correnteza podia ser visto às margens da via, completamente destruído pela força da enchente. 

O empresário Márcio Vilaça, dono de uma oficina mecânica, explicou que não teve prejuízos porque já fez seu empreendimento com um metro de altura acima da rua. Para ele, uma solução para a enchente poderia ser um melhor escoamento da água empoçada na avenida para o rio Arrudas. “Quando a água do Ferrugem sobe, ela vem para a avenida e não consegue descer para o Arrudas por causa das muretas. Aí você vê que a água no rio nem está tão alta, mas mesmo assim a avenida está inundada”, relatou.

Rastro de destruição

A situação foi mais crítica no encontro das avenidas Tereza Cristina com Presidente Castelo Branco, na Cidade Industrial, em Contagem, na Grande BH. Por lá, a chuva deixou um grande rastro de sujeira, além de buracos nas vias. Agentes da Transcon tiveram de atuar no cruzamento, pois o semáforo ficou desligado após o temporal.

Na Vila São Paulo, os moradores mais uma vez foram testemunhas da enchente. Dona Célia Gomes, que mora no alto da vila, diz que toda vez em que chove intensamente, a região vira um caos. A filha dela viu quando um homem ficou ilhado em cima do carro durante a enchente de domingo. O veículo foi arrastado pela correnteza; o homem pulou do carro; foi resgatado, com escoriações, e levado pela Guarda Municipal até a UPA Oeste, de acordo com o Corpo de Bombeiros. 

Veja o vídeo:

“Só Deus para ter misericórdia de tudo que vemos descendo aqui, das casas que são inundadas. Ontem, gritamos para o homem sair do carro na hora em que a água começou a subir, mas ele não conseguiu. Graças a Deus, ficamos sabendo que ele saiu com vida”, contou Célia.

Esta foi a segunda grande enchente na avenida Tereza Cristina neste ano. A primeira aconteceu no dia 29 de outubro, quando a via teve de ser interditada após o transbordamento do córrego Ferrugem. Naquela ocasião, pela primeira vez os motoristas começaram a ser deslocados pelo aplicativo Waze para caminhos alternativos no momento em que a avenida foi bloqueada pela Defesa Civil. A ação vem se repetindo sempre que há perigo de transbordamento.

Obras

De acordo com a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte, para mitigar os impactos das chuvas na avenida Tereza Cristina, foram concluídas, na bacia do Arrudas, as bacias de detenção da primeira etapa do Córrego Jatobá/Olaria e a bacia de detenção do Córrego Bonsucesso. Também foram concluídas as obras de recuperação do canal do ribeirão Arrudas, no trecho que vai da rua Rio de Janeiro até a alameda Ezequiel Dias, numa extensão de 1500 metros. E foram implantadas duas bacias no córrego Túnel Camarões na região do Barreiro, retendo volumes significativos de água.

A secretaria informou que será iniciada ainda este ano, pela prefeitura, a implantação da bacia de detenção do bairro das Indústrias que contribuirá para mitigar os impactos na região. A secretaria diz ainda que, para reduzir o risco das inundações na avenida Tereza Cristina, é necessária a conclusão das intervenções no córrego Ferrugem em Contagem, iniciadas pelo Governo do Estado, nas quais estavam previstas a construção de três bacias de detenção.

A Prefeitura de Contagem informou que, no início de 2019, apresentou uma proposta ao Governo de Minas para assumir o investimento de R$ 28 milhões em obras de drenagem no córrego Ferrugem e no ribeirão Arrudas, contemplando a região da avenida Tereza Cristina. São obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Ferrugem e Arrudas. Para que o Município aportasse os recursos, a Prefeitura teria que assumir a gestão das obras. Para isso, o governo do Estado teria que formalizar essa transferência de recursos provenientes do governo federal, o que não foi feito, segundo a Prefeitura de Contagem.

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade informou que o PAC Ferrugem é financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Regional, antigo Ministério das Cidades, por intermédio da Caixa Econômica Federal, com investimento total de R$ 126,3 milhões, sendo R$ 61,8 milhões de contrapartida do Estado, mas faltam recursos para a finalização das obras.

"Ressalta-se que, no presente momento, os recursos federais não são suficientes para a execução da 2ª etapa do empreendimento, que inclui a implantação de bacias de detenção de cheias, interceptores e sistema viário, além da construção de 336 unidades habitacionais para abrigar as famílias removidas das regiões atingidas", afirmou a secretaria por nota.

A secretaria lembrou ainda que a atual gestão do Governo do Estado herdou uma dívida de R$ 34,5 bilhões da administração anterior dos quais R$28 bilhões em restos a pagar, que são despesas assumidas por serviços prestados e não pagos. Além disso, o orçamento deste ano tem déficit previsto de R$15 bilhões. "Diante desse cenário, o Estado tem se empenhado para encontrar alternativas para superar a crise e voltar a investir", disse em nota.

Pocurado pela reportagem, o Ministério do Desenvolvimento Regional ainda não se manifestou sobre o assunto.

  

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