Autoras de redações 'nota mil' no Enem estudavam 6 horas por dia e adotaram 'pensamento crítico'

Juliana Baeta
jcosta@hojeemdia.com.br
18/01/2020 às 15:59.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:20
 (Arquivo pessoal )

(Arquivo pessoal )

Emannuelle Faria, de 19 anos, teve acesso à rede particular de ensino e ao ensino técnico em Belo Horizonte. Stela Terra, de 18, estudou em escola pública durante toda a vida na capital mineira. Com trajetórias diferentes, as duas têm em comum o resultado do Enem: nota mil na redação. Elas fazem parte das únicas 53 redações do país que alcançaram a pontuação máxima.

Mas nem sempre foi assim. No exame anterior, Emannuelle tirou 800 na redação, e Stela, 720. As duas decidiram, então, potencializar os estudos e a prática da redação ao longo do ano passado, recorrendo a cursinhos preparatórios focados na produção de textos e a uma rotina de estudos de pelo menos seis horas diárias. 

Ironicamente, a matéria preferida de Stela é matemática, mas o foco e a rotina de exercícios de redação a fez se apaixonar pela produção de textos no ano passado. "Por incrível que pareça, sempre gostei muito de exatas, especialmente matemática, mas acabei me apaixonando por redação no ano passado. Fiquei muito surpresa com o resultado porque, por mais confiante que eu estivesse, não esperava que seria a nota máxima. Fiquei muito feliz, muito mesmo", comemora.

Ela se lembra que, na escola onde estudou, não havia uma disciplina específica de redação, mas sua professora tentava inserir a produção de textos na aula de Português. Stela acredita que a prática deveria ser aplicada nas escolas públicas como um tema separado, o que poderia ajudar ainda mais no desempenho dos estudantes.  

Tema surpreendeu, mas não assustou

O tema da redação, a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, foi uma surpresa para Stela. "Não esperava este tema, foi bem específico. Mas, como tínhamos treinado no cursinho um tema parecido, que era sobre cultura e lazer, deu para aplicar no dia da prova. Gostei do tema, achei interessante e deu para explorar bastante coisa", comenta. 

Em cada aula de preparação era discutido um tema, com repertório sociocultural que poderia ser usado no exame. Foi o que ajudou Stela a obter nota máxima na redação. Ela pretende cursar Direito na UFMG. 

Pensamento crítico sobre o mundo

Já Emannuelle quer tentar Medicina na UFMG ou em outra universidade federal no Estado. Ela revela que o segredo para saltar de 800 pontos para 1000 na redação do Enem, foi a prática. "Também é importante saber estratégias de argumentação diferentes para aplicar em cada tema, e ter repertório. Para isso, a leitura e conhecimento cultural, assistindo filmes, séries e até ouvindo músicas mesmo, são essenciais. Outro ponto fundamental é adotar um pensamento crítico sobre o mundo", ensina.   

O pensamento crítico também foi lembrado por Stela, ao defender o argumento que utilizou na redação. "Falei sobre a elitização do acesso ao cinema, causada pelo alto custo dos ingressos, o qual ocorre devido à comercialização do lazer no sistema capitalista. Esse fato tem como impactos negativos a exclusão social e a ocorrência da 'Cidadania de Papel', termo cunhado pelo escritor paulista Gilberto Dimenstein, que diz respeito a uma cidadania aparente, na qual os direitos garantidos pela Constituição Federal (como o acesso ao lazer) não acontecem na prática", conta. 

Errar pode ser a solução para aprender 

Um dos pontos que Emannuelle destaca em sua preparação é a correção de seus textos. "Me preparei treinando muito e indo nas mentorias do cursinho, os meus textos eram corrigidos na minha frente e, assim, eu ia anotando o que poderia melhorar nos próximos textos. 

A professora de Português e Redação do Bernoulli, Allana Matar, ressalta que manter uma rotina intensa de escrita e refazer os textos que foram corrigidos são ações fundamentais para se chegar a uma boa redação. "Os alunos escrevem, no mínimo, dois textos inéditos por semana, sem contar as redações que eles refazem. Além disso, eles frequentam as mentorias, tiram dúvidas, trabalham os pontos mais fracos. Esta rotina intensa de escrita e o feedback do professor ajudam muito", conta. 

Além disso, ser um leitor ativo, ter amplo repertório sociocultural, estar antenado ao que acontece no mundo, discutir os temas em sala de aula e treinar a estrutura textual, ou seja, os aspectos mais técnicos para se consolidar um texto, ajudam a tornar qualquer redação nota mil. 

Dentre as 53 provas com nota mil no Enem em todo o país, 13 são de Minas, sendo que 10 são de mulheres de 17 a 20 anos, e três de homens de 18 a 28.     

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