Água usada na produção das cervejas da Backer estava contaminada; cervejaria pode perder registro

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br | @oBruninacio
15/01/2020 às 16:51.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:18
 (Cervejaria Backer / Divulgação)

(Cervejaria Backer / Divulgação)

Amostras recolhidas em tanques da fábrica da cervejaria Backer, no bairro Olhos D'Água, região Oeste de Belo Horizonte, indicaram a presença de monoetilenoglicol e dietilenoglicol na água utilizada pela empresa na produção de cervejas. A informação foi confirmada em coletiva na tarde desta quarta-feira (15) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos Vitor Müller, foi quem confirmou a contaminação. Segundo Müller, apesar das substâncias terem sido encontradas na água, ainda não é possível dizer como isso aconteceu.

"Conseguimos evidenciar que a água que tem contaminação com glicol estava sendo utilizada no processo cervejeiro. Não conseguimos informar como ocorre a contaminação desta água gelada. Nenhuma hipótese é descartada até o momento. Não podemos falar em suspeitas maiores, mas há hipótese de sabotagem, de uso incorreto do insumo, de vazamento", afirmou.

A Polícia Civil já recebeu notificação de 18 casos suspeitos de pacientes que apresentaram os sintomas da síndrome nefroneural, supostamente intoxicadas pelo dietilenoglicol. Destes, quatro casos já foram confirmados. Pelo menos duas pessoas morreram após apresentarem sintomas da doença, uma em Juiz de Fora e outra em Belo Horizonte.Cervejaria Backer / DivulgaçãoFábrica da empresa possui 70 tanques, mas apenas um é de água gelada, que estava contaminada

Os levantamentos feitos pelo ministério indicam que “a contaminação (da água) ocorreu dentro da empresa”. E, como a Backer possui apenas um tanque de água gelada, há a hipótese de que toda a produção tenha sido contaminada. Por isso, o Mapa decidiu pela interdição da fábrica. 

Nota técnica do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal de Minas Gerais (Sipov-MG) mostra que foram encontradas amostras de dietilenoglicol e monoetilenoglicol em três pontos: na água utilizada no resfriamento do mosto cervejeiro, na água residual que estava no resfriador de placas e no tanque de “cerveja em elaboração”.

Mosto cervejeiro é o nome dado ao processo de mistura dos ingredientes à cerveja. A água usada no resfriamento deste processo passa por uma espécie de serpentina no qual não deveria haver contato com os ingredientes.

Como na semana passada já haviam sida encontradas amostras das duas substâncias impróprias no tanque de fermentação de lotes da Belorizontina e da Capixaba, já são dois os tanques contaminados: um de resfriamento e outro de fermentação. As análises mostram que seis lotes da Belorizontina e um da Capixaba estavam contaminadas com as substâncias.

"Os lotes já detectados como contaminados passaram por distintos tanques, afastando a possibilidade de ser um evento relacionado a um lote ou a um tanque específico", afirmou Müller. Até o momento, o Mapa já recolheu 139 mil litros de cerveja e 8.840 litros de chope da cervejaria.

"Esse insumo (monoetilenoglicol) normalmente não é consumido em volume elevado. A aquisição pode justificar a ampliação do parque fabril, ou alguma falha desse produto, de forma que está gastando acima do esperado" Carlos Vitor Müller, coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa

Aumento da substância

Notas fiscais analisadas pelo ministério mostram que houve aumento do consumo de monoetilenoglicol pela cervejaria nos meses de dezembro e novembro, o que indica que poderia estar havendo algum problema no processo produtivo, já que o insumo fica em local fechado, ou seja, não é necessário ser reposto com frequência.

Em Nota, a Backer reafirma que nunca comprou e nem utilizou o dietilenoglicol em seus processos de fabricação e reforça que a substância empregada pela cervejaria é o monoetilenoglicol, cujas notas fiscais de aquisição já foram compartilhadas com a Polícia Civil e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 

"Nos últimos dois anos, a Backer precisou aumentar a compra de monoetilenoglicol para atender a demanda de ampliação constante da sua planta produtiva. No período, foram adquiridos 29 novos tanques de fermentação. A Backer aguarda os resultados das apurações e continua à disposição das autoridades", diz o comunicado.

Segundo o Mapa, foram 15 toneladas de monoetilenoglicol adquiridas desde 2018. Caso seja comprovado o uso incorreto dos insumos, a Backer pode ter o registro cassado.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, Glauco Bertoldo, por enquanto, a cervejaria encontra-se interditada até o fim das investigações.

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