Em nove dias, interior de Minas sofreu seis ataques a bancos

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
18/07/2017 às 21:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:38
 (Reprodução Internet)

(Reprodução Internet)

A facilidade de encontrar rotas de fuga tem levado ladrões a banco a atuar fortemente no interior de Minas. Em apenas nove dias, seis ataques a caixas eletrônicos e instituições financeiras foram registrados no Estado, sendo quatro deles em cidades das regiões Norte e Alto Paranaíba. 

Em Grão Mogol, município cortado pela BR-251 que liga Minas à Bahia, agências do Bradesco e dos Correios foram completamente destruídas com explosivos, em uma ação coordenada por uma quadrilha de cinco integrantes durante a madrugada de ontem. 

Em Coromandel, no Alto Paranaíba, que é cruzada pela BR-352, que liga o Estado à Goiás, outra agência bancária também foi alvo de explosões. Dessa vez, um grupo de cerca de dez criminosos explodiu caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal. O bando ainda trocou tiros com a polícia antes de fugir.

O rastro de destruição não tem trazido apenas prejuízo material, mas também levado embora o sossego que há pouco tempo reinava soberano nas localidades. Em Santa Margarida, na Zona da Mata, onde um banco foi roubado, moradores mantidos reféns e duas pessoas assassinadas, há oito dias, o pânico ainda perturba a população.

O vice-prefeito da cidade, Ilbnele Santana, explica que a maioria dos 16 mil habitantes evita até mesmo tocar no assunto. Eles temem que moradores possam estar envolvidos com a quadrilha que protagonizou o crime mais impactante da história do município.

Ele garante que, apesar do roubo ter tido repercussão nacional, a cidade não recebeu reforço até o momento, com o agravante da redução do efetivo após a morte do policial alvejado pelos criminosos. “Aquilo foi uma cena de guerra que só tínhamos visto pela televisão. Estamos vivendo um clima de total insegurança, sabendo que pode acontecer de novo”, afirma Santana. 

Inteligência

Na avaliação de especialistas, o terror que tem assolado o interior do Estado precisa ser combatido com serviços de inteligência que unam polícias e sejam capazes de desarticular as quadrilhas que tem se especializado nesse tipo de prática. 

O professor de sociologia e membro do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Bráulio Silva, explica que, pela proximidade entre os crimes, é provável que os ataques estejam sendo realizados por um mesmo grupo de criminosos.

No entanto, Silva destaca que as soluções não são de curto prazo. “É uma modalidade (de crime) que permite certa previsibilidade. Por outro lado, necessita de um grau maior de sofisticação e de conhecimento. Então, é essencial que as policiais trabalhem de forma integrada, para que se possa interceptar ligações e surpreender essas quadrilhas”, avalia.

Esforços

Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que coordena uma força-tarefa formada por 13 instituições para reduzir os crimes em instituições bancárias. 

Segundo a pasta, de forma integrada, “as apurações da inteligência se transformam em operações repressivas e preventivas, com foco no interior do Estado”.

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Táticas agressivas e organizadas para tocar o terror

O nível de organização e as táticas agressivas usadas pelas quadrilhas especializadas para roubar bancos nas cidades do interior mineiro também impressionam.

No último dia 11, bandidos tiveram a ousadia de cercar as casas de policiais e o quartel da PM em Matias Cardoso, no Norte de Minas. Em seguida, o bando atacou uma agência do Bradesco na cidade. 

No caso de Santa Margarida, na Zona da Mata, a quadrilha responsável pela morte de um vigilante e um policial é suspeita de ter cometido pelo menos mais oito crimes na região.

Segundo o delegado da Polícia Civil Felipe Ornelas, responsável pelas investigações, o bando é uma organização criminosa “de altíssima periculosidade”. 

Ainda conforme a Polícia Civil, os esforços para esclarecer os fatos e a participação dos investigados em outros crimes continuarão pelo tempo que for necessário. “Estamos trabalhando forte desde o primeiro dia, e, sobre o vigia, já foi individualizada a conduta do Wesley (um dos integrantes da quadrilha), que foi quem atirou. Mas isso não afasta a responsabilidade dos outros três envolvidos. Todos responderão pelo crime de latrocínio”, afirmou o delegado regional de Manhuaçu, Carlos Roberto Souza.

A prisão de três deles ocorreu no dia do crime, 10 de julho. O último foi detido no domingo passado pela PM e encaminhado à Delegacia de Polícia Civil de Plantão em Muriaé, na mesma região.

Armas

Como se não bastasse, o número de apreensões de armas de uso restrito – as que são permitidas apenas para forças de segurança –, também cresceu 46% no primeiro quadrimestre do ano, frente ao mesmo período de 2016, segundo o Centro Integrado de Informações de Defesa Social.Carlos Roberto 25/02/2013 / N/A

“O principal é entendermos que uma a atuação desse nível é planejada e realizada por quadrilhas. Isso, mais do que uma ação de prevenção, vai exigir dos órgãos que atuam na segurança, uma ação de investigação, por parte da Polícia Civil. O ser humano é uma criatura de hábitos e isso não é diferente quando alguém decide caminhar à margem da lei. Então, isso permite um acompanhamento para que haja um posterior pedido de prisão, bem como o compartilhamento da informação para operações de prevenção. Já tivemos vários casos em que as polícias conseguiram atuar de forma preventiva. Então, foi possível fazer uma ação e prender a quadrilha antes do crime. Os criminosos foram surpreendidos com as polícias lá, esperando a chegada deles. Portanto, acredito que deva haver essa integração mais forte”.

Cláudia Romualdo
Militar da Reserva, que chefiou o Comando de Policiamento da Capital (CPC)

 Eugênio Moraes - Arquivo Hoje em Dia / N/A

“Os bandidos são inteligentes e pensam em absolutamente tudo. Eles calculam a rota de fuga, onde está o batalhão de polícia mais próximo e até o tempo médio para que os policiais cheguem até lá. Eles procuram o alvo mais fácil, que é justamente nessas cidades onde o policiamento é menor. Então, é essencial aumentar o efetivo policial, mas não há condições de se fazer isso em um curto prazo. Além disso, acho que os policiais devem buscar apoio da população. Por que? Porque muitas vezes quem é morador vê pessoas estranhas rondando o local e podem contribuir fazendo denúncias. Antes do crime, os bandidos circulam, fazem todo um levantamento. Eles descobrem até quantos policiais têm e o horário em que pegam serviço”. 

Islande Batista
Ex-delegado da Polícia Civil, que chefiou o Departamento de Crimes Contra o Patrimônio

 Arte / N/A

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