Ocorrências escolares apontam comportamento agressivo de jovem que espancou colega no Iemg

Daniele Franco
dfmoura@hojeemdia.com.br
20/11/2018 às 14:27.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:54
 (Street View/Divulgação)

(Street View/Divulgação)

O jovem de 18 anos acusado de agredir o adolescente Luiz Felipe Siqueira Sousa, de 17 anos, no Instituto de Educação de Minas Gerais, coleciona ocorrências no registro escolar. Segundo documento assinado pela diretoria da instituição ao qual o Hoje em Dia teve acesso, o jovem apresentava comportamento agressivo e dificuldade em obedecer regras. A Secretaria de Estado da Educação contabiliza pelo menos 20 reclamações escolares contra o rapaz, sendo as principais referentes a brigas com colegas, uso de palavrões e agressões verbais.

O documento do Iemg foi entregue à advogada da família da vítima, Adriana Eymar, e serviu para reforçar o pedido da acusação na Justiça para que o agressor tivesse sua prisão em flagrante convertida em preventiva. De acordo com o pedido, a escola teria realizado "várias intervenções junto à família, inclusive matriculando-o em programas de aceleração da aprendizagem para a correção da distorção de idade, devido às várias retenções sofridas pedagogicamente". Assinado pela diretora da escola, Alexandra Morais, o documento ainda diz que, apesar das tentativas, o comportamento do aluno permanece difícil.

Outra justificativa apresentada pela carta da diretoria foi o temor de que o aluno pudesse oferecer perigo aos demais colegas se fosse solto, uma vez que os alunos costumam aguardar o início e o término das aulas em um jardim na entrada da instituição, onde o agressor poderia entrar facilmente e agredir outros colegas.

Ocorrências

A reportagem teve acesso a dois documentos que registram ocorrências envolvendo o jovem na escola. Na ocorrência mais antiga, datada de 26 de setembro de 2017, a reunião foi com a mãe do rapaz. O documento descreve que a mãe foi chamada à escola após o filho ter sido flagrado mexendo na caixa de luz do prédio, ligando e desligando a eletricidade e danificando a rede elétrica do imóvel. Além dessa ocorrência, o encontro ainda tratou do comportamento do aluno em sala de aula, classificado por uma das professoras como "inadimissível". Na mesma reunião, a mãe foi advertida de que se o filho continuasse se portando de maneira inadequada, seria transferido para uma escola próxima da sua casa.Divulgação / N/A

Documento registra ultimato dado à mãe do rapaz

Uma nova ocorrência, do dia 19 de setembro deste ano, relata uma reunião com o pai do aluno quase um ano após o ultimato. O homem se encontrou com professores, supervisora e com o vice-diretor da escola e foi alertado sobre o comportamento do filho. Segundo uma das docentes, o aluno matriculado no 2º ano do Ensino Médio teria rasgado folhas de uma atividade reclamando de sua nota. "O aluno não tem compromisso com os estudos e é agressivo com as professoras. O vice-diretor comunicou ao pai que quando o aluno tiver comportamento agressivo novamente, principalmente com as professoras será chamada a polícia para fazer um boletim de ocorrência". Divulgação / N/A

Professora descreve ação violenta do aluno em sala de aula

Procurada, a Secretaria de Estado de Educação, responsável pela administração do Instituto, informou em nota que "as questões recorrentes de disciplina envolvendo estudantes são tratadas pela direção escolar com diálogo com as famílias (...) A depender da situação, a transferência do estudante pode ser realizada, desde que em consenso com a família". A diretoria do Iemg já teria tentado negociar a transferência do rapaz para outra escola em mais de uma ocasião, entretanto, como a conclusão da troca depende também da família, o estudante nunca foi transferido.  

O órgão ainda informou que, com a ocorrência da agressão, será instaurada um sindicância para apurar os fatos e que representantes da SEE estiveram no Iemg nesta segunda-feira (19) para conversar com a direção, professores e estudantes. A Superintendência Regional de Ensino Metropolitana A, que coordena a unidade escolar, deverá emitir um laudo circunstanciado dos fatos nos próximos dias.

Agressão

Luiz Felipe foi agredido durante um jogo de futebol na quadra do Iemg. Segundo a Polícia Militar, o rapaz estava na quadra junto a outros colegas, incluindo o agressor, quando a confusão começou. Testemunhas contaram que um desentendimento levou o jovem mais velho a agredir a vítima, que tentou fugir, mas foi perseguida e atingida por um chute nas costas.

A gravidade dos golpes levou o adolescente inconsciente ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, onde passou por duas cirurgias e ficou internado até a manhã desta terça-feira (20), quando não resistiu aos ferimentos e morreu. A vítima sofreu uma série de lesões na cabeça, entre elas uma que obrigou os médicos a retirarem uma parte do crânio para que o cérebro, que estava inchando, não fosse comprimido. A parte retirada foi inserida na barriga de Luiz Felipe.

Prisão

O suspeito teve a prisão preventiva decretada na manhã da última sexta-feira (16) durante a audiência de custódia do caso. A decisão foi do juiz Walter Zwicker Esbaile Júnior, da 1ª Vara Criminal de Belo Horizonte, e atendeu ao pedido da promotoria e da advogada da família da vítima.

Na sentença, o magistrado classificou como de extrema gravidade o ato do suspeito e afirmou que não vê possibilidade de liberdade provisória. "O autuado agrediu fisicamente um colega dentro de um estabelecimento de ensino, sendo que a diretora escolar relatou que o autuado há muito tempo demonstra comportamento agressivo com os colegas". Segundo Eymar, a acusação espera que o rapaz responda por tentativa de homicídio qualificada por motivo torpe.

De acordo com o termo de audiência de custódia, ao qual o Hoje em Dia teve acesso, o agressor prestou depoimento algemado e teve suas declarações gravadas. O jovem estava preso em regime de flagrante e, agora, está preso preventivamente e deve aguardar o julgamento na prisão.

A reportagem ouviu a defesa do agressor, que afirmou que o jovem está assustado e arrependido por tudo o que aconteceu. Segundo William Vaz, defensor público responsável pelo caso, a defesa vai pedir que ele seja julgado por lesão corporal. "Ele não teve a intenção de matar o colega. Houve, sim, a agressão, mas ela não foi iniciada com esse intuito. A pena deve ser maior agora porque a lesão resultou em morte, mas a própria família dele defende que a justiça seja feita, mas da forma certa", explicou.

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