Estudo prevê esgotamento de UTIs nesta quinta em Minas e recomenda apenas serviços essenciais

Anderson Rocha
arocha@hojeemdia.com.br
22/06/2020 às 16:36.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:50
 (Rovena Rosa/ Agência Brasil)

(Rovena Rosa/ Agência Brasil)

O sistema de saúde pública em Minas pode viver um colapso nesta quinta-feira (25), com o esgotamento da capacidade de leitos de UTI, um mês antes do pico previsto pelo Estado. A projeção é do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) e está presente no mais recente relatório de transparência do Minas Consciente (veja aqui), programa de flexibilização controlada do Estado, divulgado na última quinta-feira (18). O Coes foi criado para monitoramento e estudo dos casos, tomada de decisões e organização das ações de enfrentamento à Covid, e é coordenado pela Secretaria de Estado de Saúde.

No documento, o Coes informa que houve piora nos indicadores, tanto de incidência quanto de ocupação de leitos, em todas as 14 macrorregiões de saúde de Minas. Segundo o órgão, mesmo em locais que mantiveram o número de casos, como a macrorregião de saúde Sul, há tendência de aumento de notificações, com destaque para a região Centro, onde estão BH e cidades vizinhas.Reprodução/ Coes

Estimativa de necessidade de leitos: esgotamento poderia ocorrer na quinta-feira

"O Coes indicou que neste momento o mais adequado seria um retrocesso de todo o Estado para a Onda Verde [nível em que apenas comércios essenciais podem abrir], principalmente tendo em vista o caminho em direção a um possível colapso do sistema assistencial e ainda a antecipação do pico em mais um dia", informou a projeção.

Conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, nesta segunda-feira (22), 87,75% dos leitos de UTI estão ocupados no Estado: do total de 2.964 vagas, 2.930 estão em uso (veja dados aqui). Já a ocupação dos leitos clínicos está em 74,69%: das 12.928 vagas, 12.230 estão ocupadas. Em Belo Horizonte, a taxa de ocupação de UTI's está em 85% e em 68% nas enfermarias (veja boletim aqui).

Para o promotor de Justiça Luciano Moreira, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde (CAOSaúde), do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), órgão que acompanha o avanço dos casos e as medidas de contenção adotadas pelos municípios e Estado, os dados mostram que o momento atual é o mais crítico no combate à pandemia em Minas. 

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Os motivos, segundo ele, estão no crescimento no número de infectados juntamente com a falta de insumos para a intubação de pacientes justamente em momento de aproximação do pico da pandemia, previsto para o dia 15 de julho, segundo a SES-MG. 

"É fundamental que o poder público, o setor econômico e a sociedade em geral estejam unidos em favor de um bem maior, que é a vida das pessoas. Se o número de casos continuar crescendo na proporção que está, todo o esforço de distanciamento social e sacrifícios feitos até agora terão sido em vão", declarou o promotor.

Ao comentar a projeção do Coes em coletiva nesta segunda, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, afirmou que teve acesso ao estudo com antecedência, o que permitiu à SES-MG criar e iniciar as reuniões com as 14 macrorregiões de saúde de Minas, em conformidade ao Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde, com o objetivo de acompanhar de perto a situação dos grupos de regiões e orientar gestores municipais para a importância do isolamento. 

"Esse estudo nós vimos lá atrás e foi o que deu origem a toda essa mudança nossa, de nós entrarmos em contato com os municípios, nós orientarmos o isolamento ainda mais intenso, porque isso nós gostaríamos de evitar que chegasse nesse momento", afirmou Amaral. 

Amaral, no entando, não comentou se a projeção do Coes continua válida e se há risco de que o sistema público entre em colapso já nesta quinta. A reportagem entrou em contato com a pasta e aguarda um retorno sobre o assunto.

Apesar da situação crítica, o chefe da SES-MG declarou, também em coletiva na Cidade Administrativa, nesta segunda, que ainda não há previsão de abertura dos hospitais de campanha de Belo Horizonte e de Betim, na Região Metropolitana. O gestor reforçou que os centros médicos não são para alta complexidade e que o Estado trabalha para equipar os hospitais do interior, para que as macrorregiões sejam capazes de atender os pacientes.

"[O hospital de campanha] ele não tem tido um direcionamento inicialmente para ser um hospital de alta complexidade e nós vamos preferir abrir leitos em hospitais que já existem, que já têm toda a estrutura e protocolos. É muito mais simples abrir leitos nesses hospitais, a exemplo do que viemos fazendo na Fhemig", comentou.

Recomendações do Coes

Ainda no documento que traz a projeção de esgotamento da capacidade de atendimento para esta quinta, o Coes afirmou que, no momento atual, além da recomendação de retrocesso à Onda Verde em todo o Estado, o Comitê Extraordinário deve esclarecer como os municípios devem ser monitorados e, em caso de necessidade, notificados quanto ao descumprimento das deliberações de restrição a práticas sanitárias. 

Por fim, o Coes ainda recomendou que o Estado intensifique as orientações de isolamento social para a população, com repressão a aglomerações tanto em estabelecimentos privados - como bares, restaurantes e supermercados, quanto em espaços públicos, como parques e locais turísticos. 

Reunião com BH e cidades vizinhas

Em cenário de aumento de casos, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que irá se reunir, nesta segunda, por videoconferência, com os gestores de Belo Horizonte e de outros municípios pertencentes à macrorregião Centro. Segundo a pasta, todos os outros 13 grupos de regiões que dividem o Estado passaram pelas conversas.

Lockdown está previsto

O secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, voltou a comentar a possibilidade de adoção do lockdown (confinamento total) em Minas, durante a coletiva desta tarde, na Cidade Administrativa. Segundo o gestor, a ferramenta está prevista no Plano de Contingenciamento do Estado e, se for necessário, será adotada em regiões específicas de Minas. 

"É uma alternativa, mas não é o desejável. O ideal é que o isolamento seja adequado. No momento, é impróprio falarmos em flexibilização em Minas", declarou. 

Conforme o secretário adjunto de Saúde, Marcelo Cabral, o lockdown merecerá ajustes técnicos, caso venha a ser utilizado, em ocasião mais próxima à estimativa de pico. 

Rede de testes 

Durante coletiva na Cidade Administrativa, a SES ainda trouxe dados sobre a rede de laboratórios de testagem da Covid-19, o número de surtos da enfermidade em Minas e a quantidade de pessoas atendidas pelo programa Medicamento em Casa. 

Segundo a pasta, a rede laboratorial pública está em expansão, com a inclusão do laboratório de Belo Horizonte. Conforme o chefe da SES, o objetivo é ter uma rede maior de execução de exames e manter a meta de prazo de realização dos testes, que é de 72 horas.

Atualmente, Minas conta com os laboratórios da Fundação Hemominas; do Instituto René Rachou; da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha; da Universidade Federal de Viçosa, em duas unidades; da UFMG, na Pampulha e na área hospitalar (Medicina); além dos laboratórios da Secretaria Municipal de Sete Lagoas, na região Central; de Defesa Agropecuária; e da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Surtos em Minas

Segundo a SES, Minas tem 118 surtos notificados nesta segunda. Os surtos são notificações pontuais, geralmente dentro de uma localidade, como uma empresa ou um lar de idosos. A pasta reforçou a importância do cuidado nesses locais com as medidas de prevenção e higiene em momento de aumento da circulação do vírus.

Ampliação de leitos em BH

Entre os leitos anunciados pela SES para Belo Horizonte, a pasta informou que cinco novas vagas já estarão disponíveis nesta quarta-feira (24) nos hospitais Júlia Kubitschek e Eduardo de Menezes, ambos no Barreiro. Segundo o chefe da SES, a ampliação ocorrerá graças a um remanejamento interno de profissionais de saúde. Já os demais leitos prometidos, conforme o gestor, estarão disponíveis em, no máximo, 15 dias, quando terão sido finalizados os procedimentos de contratação de mais profissionais de saúde.

Medicamento em Casa

O Estado ainda atualizou os números do programa Medicamento em Casa, que permite a entrega de remédios a pacientes sem que esses necessitem de ir às Farmácias de Minas. Segundo o governo, cinco mil itens já foram disponibilizados a cerca de três mil pessoas.

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