(Pixabay)
Pesquisa por amostragem da UFMG apontou que as crianças têm entendimento do atual cenário da pandemia da Covid-19. A maioria diz manter o isolamento social por senso de coletividade e compreensão dos riscos, e não por ordens dos pais. Foram ouvidos estudantes de 8 a 12 anos da Grande BH.
O objetivo é analisar rotinas, relações sociais e experiências durante a pandemia. O levantamento privilegiou alunos das redes públicas (64,4%) e aqueles cujas famílias fazem parte do círculo de lideranças comunitárias.Divulgação/UFMG / N/APesquisa ouviu 2,2 mil crianças da Região Metropolitana de BH
Em junho e julho do ano passado, 2,2 mil voluntários responderam questionário on-line com perguntas abertas e fechadas. Além disso, puderam enviar desenhos, fotografias e mensagens para relatar os sentimentos em meio à pandemia. Na segunda fase do projeto, entre agosto e dezembro, foram feitas entrevistas.
A proposta foi desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Infância e Educação Infantil (Nepei) da Faculdade de Educação. O trabalho também tentou compreender como as desigualdades sociais, territoriais, raciais e de gênero repercutiram nas diversas experiências dos participantes.
De acordo com os pesquisadores, a maior parte das crianças (89%) respondeu obedecer o distanciamento. Desse percentual, 10% cumpriam por submissão às ordens de adultos, 30% por senso de coletividade e solidariedade e 30% por compreensão dos riscos.
Segundo a professora Iza Rodrigues da Luz, uma das coordenadoras do projeto, boa parte dos participantes mostrou conhecimento dos impactos da pandemia na sociedade.
“Demonstraram preocupação com o desemprego de familiares e conhecidos, adoecimento dos familiares e uma consciência da necessidade de cumprimento ao isolamento social para evitar a disseminação da doença e garantir a vida das pessoas”, afirmou a pesquisadora.
As respostas das crianças também chamaram a atenção pela forma como tratam assuntos complexos e delicados. “Em mensagem, uma menina de 10 anos escreve que ‘a doença afasta e aproxima pessoas’, o que evidencia o paradoxo da pandemia, uma vez que boa parte delas sente bastante a ausência de amigos e familiares, mas, ao mesmo tempo, vê com alegria o estreitamento da convivência com os pais”, exemplificou Iza.Divulação/UFMG / N/A
Crianças enviaram desenhos sobre suas percepções durante a pandemia
Processos de escuta
Além de obter dados para compreender a situação dos estudantes na pandemia, os autores utilizaram o estudo para fazer uma série de recomendações ao poder público. Eles acreditam que é urgente a criação de processos de escuta, que podem ser feitos por meio de rodas de conversa, assembleias, entrevistas individuais e fóruns, mas também com base na análise das formas de expressão.
“As crianças são capazes de exprimir os seus pontos de vista, que são singulares, genuínos, originais, relevantes, para que possamos compreender a crise sanitária e pensar em ações do poder público destinadas à garantia dos seus direitos”, explicou Levindo Diniz Carvalho, coordenador do Nepei.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Educação de BH (Smed) afirmou que analisará todas as sugestões e “está sempre aberta ao diálogo para construir o melhor ambiente escolar para os estudantes”. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, por meio da Coordenadoria Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cepcad), afirmou que não tomou conhecimento dos resultados da pesquisa, mas se posiciona favorável a toda inciativa que promova escuta de crianças e adolescentes e estimule a participação.
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