conscientização

23 toneladas de remédios são jogadas fora por mês em Minas; falta informação sobre descarte correto

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
03/04/2022 às 16:59.
Atualizado em 03/04/2022 às 17:00
 (Reprodução / Blog Saúde Governo Federal)

(Reprodução / Blog Saúde Governo Federal)

A alta de 10,89%, em média, no preço dos medicamentos já está valendo desde a última sexta-feira (1). Idosos, pessoas com doenças crônicas e de baixa renda são os que mais sofrem. Quem precisa tomar remédio sente o peso do reajuste. 

Nós preparamos algumas dicas para otimizar o uso e evitar o desperdício.

Armazenamento e validade

Andresa Campos Peres é farmacêutica da rede de drogarias Pacheco. Ela explica que se a medicação não for armazenada de forma correta pode degradar, perder as propriedades farmacêuticas, a eficácia e a segurança de uso da medicação.

“Deve-se armazenar os remédios sempre em locais que não sejam úmidos,sem contato com calor e luz solar e principalmente longe do alcance de crianças e animais”, esclarece.

Ela ainda desaconselha o uso de caixinhas, dessas que são vendidas em drogarias, para guardar os remédios. E explica que, depois que a medicação é aberta, o prazo restante da data de validade reduz 25%. E há outros riscos: “A pessoa pode misturar a medicação”, afirma a farmacêutica.

(Pixabay)

(Pixabay)

Gizele Leal, farmacêutica coordenadora do Grupo de Trabalho de Resíduos e Meio Ambiente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG), reforça que o mais indicado é deixar os medicamentos na embalagem primária, ou seja, em cartelas, cápsulas, tubos de pomadas e dentro dos frascos, garantindo a segurança do produto.

O que fazer com remédios vencidos ou que não são mais necessários após um tratamento? 

Depois que são comprados em farmácias ou drogarias e levados para casa, o comprador passa a ser o responsável pelo uso correto - seguindo a prescrição médica - e pelo armazenamento do fármaco, conforme orientado nas bulas. Essa é a primeira etapa de um processo correto de descarte de medicação.

Jogar remédio no lixo comum de casa, em pias ou vasos sanitários não é uma boa opção. Especialistas afirmam que os produtos são levados para aterros sanitários e podem contaminar o solo, a água, liberando substâncias tóxicas que podem comprometer a saúde de pessoas e animais, além de contribuir para o desenvolvimento de bactérias multirresistentes. 

Os fármacos que vão para a rede doméstica de esgoto, liberam substâncias químicas presentes em suas fórmulas que os sistemas de tratamento não são capazes de eliminar completamente. 

PMMG/Divulgação/Arquivo

PMMG/Divulgação/Arquivo

Descarte correto

Em BH todos os 152 centros de saúde podem receber medicamentos vencidos e que não serão utilizados de acordo com a orientação médica. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, todos os produtos recolhidos são enviados para incineração por uma empresa licenciada. 

Farmácias, drogarias e representantes da indústria farmacêutica também são responsáveis por direcionar o descarte, conforme normas próprias de cada segmento.

O Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG) orienta que os medicamentos podem ser entregues em drogarias e farmácias ou em pontos de coleta licenciados. Depois de recolhidos, os produtos são incinerados ou depositados em aterros sanitários especiais para resíduos perigosos.

Pesquisa

Para saber a dimensão destas iniciativas, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG) resolveu investigar a coleta de medicamentos em 189 farmácias e drogarias de Minas. 

E o resultado foi surpreendente: pelo menos 23 toneladas de medicamentos são descartados por mês no estado. E esse volume considera apenas os descartes feitos em pontos de coleta licenciados. 
 
Os resultados revelam ainda que a média mensal estimada é de 2,6 Kg por estabelecimento. "Portanto, podemos extrapolar os dados para aproximadamente 23 mil kg de medicamentos a serem descartados”, comenta a coordenadora do CRF-MG, Gizele Leal, que é especialista em Gestão de Resíduos e Serviços de Saúde.

O levantamento mostrou que 45% dos estabelecimentos têm ponto de coleta para a população. Desse total, pouco mais de 45% dizem ter o serviço para cumprir a legislação e 40% o fazem de forma voluntária.

A pesquisa alerta ainda que 23% dos estabelecimentos pesquisados afirmaram que a demanda  por parte  da população é baixa, o que leva à hipótese de que a maioria das pessoas descarta medicamentos inadequadamente. Os pesquisadores concluíram, então, que é necessário ampliar a conscientização sobre a maneira correta de descarte desses materiais, tanto para profissionais do setor quanto para consumidores. 

O CRF-MG, por exemplo, possui o programa Traga de Volta, que incentiva farmácias e drogarias de Minas a se cadastrarem como pontos de coleta desses produtos.  “Nosso desafio é grande, mas juntos podemos proteger a saúde das pessoas e do meio ambiente'', conclui a especialista.

Solidariedade

Em Belo Horizonte, há projetos para aproveitar medicamentos e doar a quem necessita. 

 (Reprodução / Arquivo pessoal)

(Reprodução / Arquivo pessoal)

(Reprodução / Arquivo pessoal)

Johny Marcos de Almeida é proprietário da Droga G, no  bairro São Geraldo, região Leste da capital. Ele é também coordenador do “Benção da saúde”, um projeto social que funciona como uma espécie de farmácia solidária, doando medicamentos a quem necessita. 

O farmacêutico conta que, além das doações das pessoas, recebe muitas amostras grátis de representantes. Segundo ele, os medicamentos mais doados são para hipertensão, remédios controlados e para tratamento de doenças crônicas. Já os remédios mais procurados na farmácia solidária são anticoagulantes e medicação para tratamento de embolia pulmonar.

Para ser contemplado com a doação, o paciente deve apresentar a receita médica antes de levar o produto para casa. 

(Divulgação / Santa Casa BH)

(Divulgação / Santa Casa BH)

Na Santa Casa de BH, o maior hospital filantrópico de Minas, um programa de reaproveitamento de remédios existe desde a inauguração, em 1899.

Tanunes Dias é gerente de farmácia, abastecimento e distribuição do hospital e conta que o local também recebe doações de medicamentos de qualquer pessoa. Segundo ele, os remédios mais doados para a Santa Casa BH são para hipertensão e anticonvulsivos.

“Assim que são entregues, o departamento de farmácia faz uma análise criteriosa das embalagens, dos aspectos físicos e da forma como (os medicamentos) estão acondicionados, para avaliar se estão em condições de serem usados pelos pacientes”, explica.

Se atender aos critérios de avaliação, o medicamento é encaminhado para uma central de abastecimento, preparado para distribuição às unidades do Grupo Santa Casa, ou doado para outros hospitais, onde é comum esse trâmite. Se o produto não estiver adequado, é entregue a uma empresa terceirizada para fazer o descarte correto.

Leia mais

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por