“A arte me ajudou a superar a solidão, o medo e a depressão depois de 25 anos morando nas ruas de Belo Horizonte. Estou vivendo um sonho maravilhoso”. É assim que Gerson Flores, de 49 anos, se refere à mudança repentina de vida com os quadros expostos na Galeria Nello Nuno, da Fundação de Arte de Ouro Preto, até 3 de julho.
A guinada começou quando os trabalhos dele foram inscritos em um edital com a participação de dezenas de artistas. Os quadros foram selecionados e viraram atração no centro histórico de Ouro Preto.
Por acaso
A arte entrou por acaso na vida de Gerson Flores quando a mãe dele morreu e ele foi morar na rua. “Estava sem dinheiro, há dias sem comer e sujo. Achei umas latinhas e fui caminhando para a Praça 7. Parecia que algo ia me guiando. Quando cheguei lá encontrei um artista com quem aprendi a fazer minhas primeiras obras: três carrinhos”, relembra.
Gerson conta que não teve dificuldades para vender as peças. “Nem eu acreditava no que estava acontecendo”, disse. O então morador de rua que era sempre visto na avenida do Contorno, no bairro Floresta, Leste da capital, virou atração ao começar a pintar usando pedaços de madeira que recolhia no lixo. Em vez de pincel, usava pontas de pedaços de árvores.
“O pessoal via, gostava e comprava”, conta o artista bem humorado ao se lembrar que usava o dinheiro das vendas dos quadros para comprar comida e matar a fome.
Anos depois, quando já era conhecido na capital, recebeu ajuda da Pastoral de Rua para alugar uma casa, usada por ele como ateliê. Parte das peças que estão em exposição em Ouro Preto foram produzidas lá.
Descoberta do artista
Gerson conta que foi “descoberto” nas ruas pelo professor e arquiteto Alexandre Mascarenhas. “Foi ele quem me estendeu às mãos e me incentivou a inscrever meu trabalho para exposição na galeria.
Atualmente, Gerson mora em Ouro Preto com a ajuda da Pastoral de Rua. Com um sorriso e muito brilho nos olhos, o artista diz que se sente nas nuvens com os elogios e convites para expor em outras cidades. “São brasileiros e gringos me incentivando o tempo todo. É maravilhoso”, afirma.
Exposição Principium
Na exposição Principium, Gerson Flores retrata nas pinturas cenas bíblicas, paisagens urbanas, figuras folclóricas e estruturas arquitetônicas.
Segundo o curador da exposição, Alexandre Mascarenhas, um elemento recorrente nas obras é a figura designada pelo artista como onbeck/ongbeck, representado por uma cabeça ornamentada de diamantes, estrangulada por uma serpente. Uma referência entre o poder e a traição do ser humano.
‘A Obra de Gerson é atemporal à sua história de vida e contemporâneo em seus suportes, dimensões e traços, conclui Mascarenhas.
(Arquivo Pessoal / Reprodução )
(Arquivo Pessoal / reprodução )
(Arquivo Pessoal / Reprodução)