Busca por sobreviventes em Brumadinho é verdadeira luta contra o tempo

Lucas Eduardo Soares, Malú Damázio, Mariana Durães, Raul Mariano e Simon Nascimento
25/01/2019 às 23:23.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:14
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Pouco mais de três anos após um tsunami de lama deixar 19 mortos em Mariana, na região Central, Minas se vê às voltas com uma nova tragédia – e que pode ser ainda mais catastrófica. O rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, pode ter feito dezenas de vítimas. Na sexta-feira à noite, cerca de 200 pessoas seguiam desaparecidas, segundo o Corpo de Bombeiros.

O desastre foi por volta de 12h30. Até o fechamento desta edição, havia sete mortos. As causas do desabamento da estrutura, de propriedade da multinacional Vale, ainda serão investigadas.

Na hora do acidente, 427 pessoas estavam em áreas administrativas da mineradora, inclusive no refeitório, cheio devido ao horário de almoço.

Em comunicado, o governo do Estado informou que 279 tinham sido resgatadas e 150 funcionários da Vale estavam desaparecidos. Cem bombeiros prestam o socorro.

Durante toda a tarde, helicópteros sobrevoaram o local em busca de algum sinal de vida. O que se via, no entanto, era uma avalanche de lama que arrastou carros, soterrou casas e deixou a paisagem em volta do rio Paraopeba irreconhecível. 

O restaurante da Vale, por exemplo, sumiu. Pouco depois de ficar sabendo do rompimento, o trabalhador rural Junior dos Santos, de 35 anos, seguiu para a Unidade de Pronto-Atendimento de Brumadinho em busca da irmã, Joiciane dos Santos, de 31, cozinheira na mineradora. “Ninguém tem notícia. É uma sensação terrível”.

Ajuda

Jeferson Ferreira (foto), de 34 anos, lutou contra a força da lama para salvar uma mulher e uma adolescente ilhadas na área da pousada Nova Estância, que está na região devastada. Ele andou até lá à procura da irmã, funcionária do estabelecimento. Ao chegar, viu o imóvel destruído. “A lama não só cobriu como levou tudo. Cheguei e não tinha mais nada, só uma senhora que subiu em uma árvore e uma moça de uns 15 anos”, disse,

Exausto e desolado

Jeferson ajudou a resgatar as vítimas e ficou ao lado da adolescente por 40 minutos, até a chegada do helicóptero dos Bombeiros.

Procura

Irmão de uma funcionária terceirizada do restaurante, que também está desaparecida, o operador de máquinas Carlos Roberto Pereira afirma que Carla Borges Pereira, de 35, já tinha “cantado a pedra” de que um desastre poderia ocorrer. "Em 2017, ela comentou que 'o Feijão não demorava a estourar', se referindo à segurança da barragem. Quando uma pessoa fala assim, é porque alguém lá de dentro já tinha mencionado o risco", disse.

Sem parar de chorar, o irmão de Carlos, Helton Adriano Pereira, de 28 anos, não pensou duas vezes em ir até o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, para saber se, entre as cinco pessoas resgatadas na tragédia e levadas para a unidade de saúde até o início da noite, estavam, além de Carla, a mulher, Sâmara Cristina dos Santos Souza, ajudante de cozinha no refeitório da Vale. “Assim que eu soube, tentei falar pelo celular, mas não tinha sinal. Estou ansioso, querendo notícia. Não tem nem como falar”, lamentou.

Esperança

Pai do lubrificador Tiago Tadeu Mendes da Silva, de 35 anos, o aposentado Arnaldo da Silva, de 58, ainda espera notícias do filho, que está incomunicável desde o momento da tragédia. 

“A gente fica desesperado, não sabemos se ele está machucado, se está bem. Fico pensando que ele pegaria o celular de algum conhecido para mandar uma mensagem nos tranquilizando se nada tivesse acontecido. Estamos apavorados”. 

Tiago trabalha há poucos meses em Brumadinho. Todos os dias ele sai do Barreiro, na capital, onde vive com a esposa e os filhos, uma menina de 4 anos e um recém-nascido, para ir à cidade vizinha. A Vale fornece a condução para os trabalhadores. “Esperamos o melhor, mas é difícil ficarmos sem notícias”, lamenta Arnaldo. 

A engenheira sanitarista e ambiental Vitória Las Casas, de 24 anos, também aguarda notícia de amigos e primos que estavam na unidade da mineradora durante o rompimento da barragem. Segundo ela, o boca a boca assusta ainda mais quem não tem informações sobre a tragédia. “Ficamos sabendo do acontecido por terceiros, e as notícias não são boas”. 

Por meio de colegas e familiares, Vitória descobriu que alguns conhecidos estão vivos. “Alguns contam que grande parte das pessoas estava no refeitório, quando veio uma onda de lama muito forte e devastou tudo. Ver as pessoas que você ama sumindo nesse rastro é terrível”, relata.

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