COLÉGIO MILITAR

'Carreguei duas amigas que desmaiaram', diz aluno ao relatar desespero após intoxicação por gás

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
09/08/2022 às 12:07.
Atualizado em 09/08/2022 às 12:28
 (Lucas Prates / Hoje em Dia)

(Lucas Prates / Hoje em Dia)

Estudantes do Colégio Tiradentes relataram momentos de desespero depois que colegas passaram mal ao inalar gás químico na manhã desta terça-feira (9), no bairro Prado, região Oeste de Belo Horizonte. Cerca de 30 alunos foram atendidos pelo Corpo de Bombeiros com problemas respiratórios. O vazamento do agente tóxico teria ocorrido durante um treinamento na Academia de Polícia Militar (APM), localizada ao lado da escola. 

O adolescente José Guilherme, de 17 anos, é estudante do terceiro ano do ensino médio. Ele conta que estava em sala de aula quando alguns colegas começaram a passar mal devido ao forte cheiro de gás que atingiu o local. O jovem relata que chegou a carregar duas amigas que desmaiaram após o incidente. 

"O pessoal começou a passar mal. Alguns alunos tiveram que carregar os outros para descer para o pátio. Eu carreguei duas amigas minhas que desmaiaram lá em cima por conta do gás. Tinha alunos com asma que entraram em crise", afirma. 

José Guilherme ajudou a socorrer colegas que passaram mal após vazamento de gás. (Lucas Prates / Hoje em Dia)

José Guilherme ajudou a socorrer colegas que passaram mal após vazamento de gás. (Lucas Prates / Hoje em Dia)

José Guilherme detalha os efeitos sentidos pelos alunos após a inalação do gás tóxico. "A gente sente o cheiro do lacrimogêneo, arde o olho e começa a tossir, mas pra quem não tem problemas de saúde é bem fraco por causa da distância. Mas quem não passa mal fica super assustado porque a gente vê nossos amigos passando mal, pessoas que a gente gosta. Os professores também nos ajudaram", conta. 

Mãe do estudante, a servidora pública Luciana Abade disse que tomou ciência do incidente através de um grupo dos pais no WhatsApp. Segundo ela, os treinamentos são comuns no local. 

"Isso é comum por causa dos treinamentos e eu não me assustei no primeiro momento. Mas, como não consegui falar com meu filho, eu vim até aqui. Graças a Deus ele está bem", desabafa. 

'Deu para escutar a 2ª vez que estourou'

A aluna do 2º ano, Luiza de Souza Leandro, de 16 anos, disse que o primeiro sintoma apresentado pelos colegas foi a tosse. Durante a evacuação do local, Luiza afirma ter escutado um segundo estouro. 

"A gente estava tendo aula normal quando algumas pessoas começaram a tossir. A gente viu que era gás e deu pra escutar a segunda vez que estourou. Teve gente que começou a desmaiar, chorar e a passar mal. Teve duas pessoas da minha sala que passaram mal e foi muito desesperador. Teve gente com crise de ansiedade e piorou tudo", detalha. 

Apesar de não ter sido vítima dos efeitos da inalação, Luiza foi liberada do colégio com a presença do irmão, Lucas de Souza. Ele conta que a escola informou a família sobre o incidente. "Assim que liberaram vim buscar ela", completa. 

Cerca de 30 alunos foram socorridos

Responsável pelo atendimento às vítimas, o tenente dos Bombeiros, Eduardo Moreira, disse que pelo menos 30 crianças foram atendidas. Quatro foram encaminhadas para a UPA Oeste e para o Hospital Militar. Conforme o tenente, os alunos apresentavam problemas respiratórios. 

“Fomos acionados por volta de 8h, para atendimento para as crianças que estavam com dificuldade para respirar. Fizemos triagem e deslocamos com elas para o hospital militar. Algumas crianças chegaram a ter crises de ansiedade, o que dificultou o atendimento”, detalha. 

O militar afirma que apesar do susto, os agentes químicos tem efeitos instantâneos e sem danos posteriores.

Gás vazou durante treinamento

De acordo com o coronel Eugênio Valadares, comandante da Academia de Polícia Militar, na manhã desta terça-feira (9) os militares passavam por treinamento para operar instrumentos de menor potencial ofensivo quando o incidente ocorreu

“Estavam tendo treinamento normal em uma barraca de gás. Pode ser que essa barraca tenha caído e o gás vazado. Estamos apurando quais agentes químicos foram e o que ocorreu”, explicou. 

Segundo o coronel, as substâncias cloroacetofenona - usada na confecção de gás lacrimogêneo - e clorobenzeno - composto orgânico aromático - podem estar associadas ao caso. 

Os treinamentos com munição química no local foram cancelados e um inquérito foi instaurado para apurar os fatos. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por