Cerveja contaminada

Caso Backer: 2º dia de julgamento em BH é marcado por depoimento de familiares de vítimas

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
24/05/2022 às 18:31.
Atualizado em 24/05/2022 às 18:50

O segundo dia de julgamento do "Caso Backer" foi marcado pelo depoimento de representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de perita e de parentes das vítimas que morreram depois de ingerirem bebidas contaminadas entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, produzidas pela cervejaria Backer. A sessão ocorreu no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH, a portas fechadas, sem presença da imprensa.

Na manhã desta terça-feira (24), a primeira testemunha a ser ouvida foi um engenheiro do Mapa, cujo nome não foi divulgado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O profissional detalhou os procedimentos realizados desde a contaminação da cerveja Belorizontina com dietilenoglicol.

De acordo com o especialista, assim que foi identificado que essa bebida era o elemento comum entre os casos de pessoas intoxicadas, o órgão compareceu a um supermercado para determinar o recolhimento dos produtos. Posteriormente, quando houve a primeira morte, foi determinada a suspensão da comercialização da cerveja. As bebidas, então, foram submetidas a análise para identificação das causas da contaminação.

Durante o julgamento desta terça, uma perita responsável pela equipe de investigação relatou que, em um primeiro momento, não se sabia a origem da intoxicação dos consumidores. Ela também confirmou que, após análise das amostras, foi constatada a contaminação da bebida.

Familiares de vítimas
A sessão também contou com o depoimento de familiares de vítimas que morreram depois que apresentaram sérios problemas de saúde ao consumirem as bebidas da Backer. A viúva de uma das vítimas, que era juiz do trabalho em Belo Horizonte, explicou que o marido era apreciador de cervejas artesanais. Ele se declarava admirador da marca e, por estar de férias à época, consumia a Belorizontina com frequência.

Nove dias após abrir uma caixa da cerveja, o homem começou a passar mal, mas não acreditou ser culpa da bebida, por acreditar que a marca "era boa". Pouco depois, precisou ser levado ao hospital, e morreu após 21 dias internado.

Outra testemunha relatou que o pai e o marido passaram mal na semana do Natal de 2019 após consumirem a Belorizontina. Nos primeiros dias de 2020, o pai da testemunha morreu, sendo identificado como a primeira vítima da intoxicação. Já o marido da testemunha ficou internado até março daquele ano e se recuperou, com sequelas.

O julgamento ouviu a filha de outra vítima, que descreveu o pai como alguém que apresentava ótima saúde. De acordo com ela, ele ingeriu apenas uma garrafa da cerveja em um fim de semana. Na segunda semana de janeiro de 2020, passou mal e foi levado ao hospital, onde os médicos já tinham conhecimento dos casos de intoxicação. No local, os profissionais questionaram sobre o consumo da bebida. Como a vítima confirmou a ingestão, foi realizado o tratamento adequado para a condição, mas o pai dela faleceu poucos dias depois.

Caso parecido foi relatado por uma mulher que, emocionada, contou que o pai cuidava muito da saúde e que, inclusive, não tinha o hábito de consumir cerveja da Backer. A testemunha contou que durante as festas de fim de ano, ela comprou a Belorizontina que estava em promoção em um supermercado.

Segundo a testemunha, na véspera do Ano |Novo, o pai começou a passar mal e foi hospitalizado com suspeita de infarto. No entanto, um cardiologista descartou o diagnóstico e suspeitou de problemas relacionados aos rins. A vítima foi, então, internada na UTI e chegou a voltar para a enfermaria, mas começou a demonstrar sérias alterações e faleceu cerca de 15 dias depois.

Relembre o caso
O "Caso Backer" ganhou notoriedade em janeiro de 2020, quando algumas pessoas começaram a manifestar sintomas de uma síndrome nefroneural, que provocava insuficiência dos rins e problemas neurológicos.

Uma investigação da Polícia Civil (PC) relacionou os problemas de saúde ao consumo de cervejas da Backer, principalmente Belorizontina, que estariam contaminadas com uma substância tóxica conhecida como dietilenoglicol. Dez vítimas morreram e várias tiveram sequelas.

Em junho daquele ano, a investigação da PC indicou que a contaminação ocorreu devido a um furo no sistema de refrigeração de um dos tanques utilizados pela cervejaria.

Em agosto de 2020, relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento confirmou que as contaminações ocorriam desde janeiro de 2019, afastando a possibilidade de evento isolado no histórico de produção das bebidas.

Fase de instrução
No Fórum Lafayette, até a próxima quinta-feira (26), devem ser ouvidas 28 pessoas que foram arroladas como testemunhas pelo Ministério Público. As vítimas podem optar por prestar depoimento por videoconferência.

Não há limite de tempo para cada depoimento. A data para audição das testemunhas de defesa e dos réus será marcada posteriormente. Os acusados podem acompanhar os depoimentos, se desejarem.

No total, 11 pessoas foram denunciadas. Três sócios-proprietários da empresa respondem por envolvimento na adulteração de bebidas alcoólicas, perigo comum e crimes tipificados no Código de Defesa do Consumidor.

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