
No primeiro dia do novo julgamento de Antério Mânica, acusado de ser um dos mandantes do caso que ficou conhecido como Chacina de Unaí, foram ouvidas testemunhas de acusação.
O júri começou nesta terça-feira (24), por volta das 11h30. E até o fechamento desta matéria, às 22h, auditores fiscais matinham uma vigília acompanhando as oitivas, na Sede da Justiça Federal, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Ao todo, são serão ouvidas seis testemunhas de defesa e 14 de acusação, sendo dois réus colaboradores.
Entre as de acusação, neste primeiro dia, foram ouvidos o delegado aposentado Wagner Pinto de Souza, o servidor aposentado do Ministério do Trabalho e Previdência (MTE) Afrânio Gonçalves e o policial militar Vilmar Ferreira. O chefe do MTE à época, Carlos Calazans, e o réu colaborador, Hugo Pimenta, também foram puderam dar seus relatos aos sete jurados, diante do juiz.
A audiência contou ainda com a declaração da colega de trabalho dos auditores vítimas da chacina, Rita Carneiro, ex-servidora da Delegacia Regional do Trabalho. O promotor de Justiça Leonardo Vilhena e do cidadão de Unaí, Vicente Ribeiro, também falaram na audiência.
Os depoimentos seguem nesta quarta-feira (24), e o julgamento deve se estender até a próxima sexta-feira (27).
Depoimentos
O delegado aposentado Wagner Pinto de Souza, que participou das investigações por seis meses, falou por cerca de duas horas. No depoimento, ele citou "insatisfação e inconformismo da família Mânica" com as fiscalizações feitas pelos auditores. Os servidores, na época da chacina, apuravam denúncias de trabalho escravo em fazendas da região. A família era uma das principais produtoras de feijão do Brasil.
“O que conseguimos esclarecer é que o Norberto Mânica [irmão de Antério Mânica] teria solicitado ao José Alberto [intermediário do crime] para contratarem pistoleiros para matar o fiscal Nelson José da Silva [uma das vítimas da chacina]. No dia 28, [quatro pistoleiros] acompanharam os fiscais até uma fazenda, onde abordaram o carro dos fiscais e mataram todos”, afirmou.
Conforme o policial aposentado, as vítimas não tiveram "chance de defesa" na emboscada. Os três auditores morreram na hora. Mesmo baleado na cabeça, o motorista Ailton Pereira de Oliveira conseguiu dirigir a caminhonete por quase 7 km. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu.
Além do delegado, o policial militar Vilmar Ferreira foi ouvido e contou detalhes dos momentos iniciais logo após o crime. Ele foi quem atendeu a chamada e ajudou a socorrer o motorista, que ainda estava vivo quando a polícia chegou ao local.
Relembre o caso
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada na região rural de Unaí.
As primeiras prisões envolvendo o caso só ocorreram em 2013, uma década após os assassinatos. Na ocasião, três pessoas — Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes — acusadas de serem “pistoleiros”, foram condenadas a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.
Os intermediários do crime, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os dois confessaram o crime e foram condenados.
O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime.
A sentença deles saiu em 2015, cada um sentenciado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.
Em 2018, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo, quando o TRF-1 anulou a condenação de Antério Mânica.
Em virtude da anulação, o ex-prefeito é submetido a novo julgamento, nesta semana.
Na época da anulação, Norberto Mânica, que também recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime, inocentando o irmão.
Leia mais