exposição

Mostra inédita reúne grandes nomes das artes plásticas do acervo de Priscila Freire no CCBB

Luciane Amaral
lamaral@hojeemdia.com.br
24/05/2022 às 21:19.
Atualizado em 24/05/2022 às 21:22

“Esta caixa de madeira era do meu pai; eu ganhei esta bola; eu tinha este almofariz, comprei esta boneca não sei onde e montei isso. Eu chamei: O Mundo é Meu.”

A frase parece uma síntese da inspiração da inspiração de uma das maiores autoridades em artes plásticas do país, Priscila Freire, que, aos 88 anos, faz a primeira mostra de seu acervo, no Centro Cultural do Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, em BH.

A exposição Coleção Brasileira – de Alberto e Priscila Freire é um pedaço do mundo da mulher que dedicou a vida à arte e à cultura, em uma carreira admirável: escritora, atriz, musa, artista plástica.

Priscila conta que ajudou a montar diversos museus. “Foram muitos. Montei o Museu Guignard, em Ouro Preto; Museu Casa de Alphonsus de Guimaraens, em Mariana; Museu Guimarães Rosa, em Cordisburgo; montei o Museu do Zebu, em Uberaba; montei o Museu Dona Beja, em Araxá; montei o Museu Regional (do Sul de Minas), em Campanha. Reformei e restaurei o Museu Mineiro, em BH; restaurei e montei o Museu de Arte da Pampulha.” Ela ainda foi superintendente dos museus de Minas Gerais e coordenadora do Sistema Nacional de Museus em Brasília.

O amor pelas artes começou cedo, quando ela foi levada pela amiga Sara Ávila para  estudarem na Escola Guignard, que funcionava no Palácio das Artes. “Era uma escola muito rudimentar. As paredes eram cobertas de limo, não tinha lugar para guardar as obras. Mas tinha ele (Alberto da Veiga Guignard). E a gente era livre”, conta Priscila.

Os alunos, continua, recebiam uma tábua de madeira com papel e um lápis duro. “ A gente chegava cedo ao parque. Ele dizia: ‘Como é que a gente começa? A gente começa olhando a natureza’. Dali saíram grandes artistas, como Amílcar de Castro, Iberê Camargo, que 
desenvolveram um trabalho próprio, diferente do que o Guignard fazia” - explica.

Passeando pelas três salas, entre as 108 peças da mostra, percebe-se que a aluna se tornou mestra e vai dando uma aula de arte e história. Priscila diz que sempre se interessou muito por Guignard e mostra os dois quadros que ele fez, dela e do marido. E que foi posar com uma roupa muito simples, porque sabia que o fundo dos retratos seriam mais interessantes do que o retrato em si. 

Ela destaca os fundos leonardescos, ricos em detalhes que passariam despercebidos para a maioria das pessoas, como o do retrato do marido, que remete a pinturas japonesas do Séc. XIX.

A coleção traz algumas preciosidades, como um quadro de Guignard com uma paisagem de Tiradentes, feito em papel de pão. Há, além das tradicionais paisagens e os famosos e raros quadros com balões, as duas únicas pinturas que Guignard fez de bebês.

A mostra tem um elenco estelar de artistas, muitos deles amigos de Priscila. E está dividida em três núcleos: Arte Brasileira, Arte Mineira e Arte Popular. Em Arte Brasileira, estão grandes nomes da pintura nacional, como Guignard, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Genesco Murta e José Pancetti, entre outros.

Já em Arte Mineira, estão telas pintadas por Yara Tupinambá, Mário Zavagli, Lorenzato e Irma Renault; esculturas de Farnese de Andrade, Solange Pessoa e composições da própria Priscila Freire. 

O núcleo Arte Popular conta com peças de Maurino de Araújo, G.T.O., Nino e Maria Lira, além de obras do Vale do Jequitinhonha, assinadas por artistas de destaque daquela região, como Ulisses Pereira Chaves, Noemisa Batista Santos e Isabel Mendes. 

Esse núcleo está entre os favoritos de Priscila Freire. Ela conta que começou a comprar as peças na antiga loja da Codevale, que nem existe mais. Hoje tem no acervo, só do Vale do Jequitinhonha, mais de 200 peças, de artistas que até já morreram. São animais, cenas domésticas, do cotidiano - o casamento, o ladrão de galinhas. Outras esculturas nasceram com um fim utilitário para guardar água, mas que têm características únicas e valor artístico incomparável.

Visitar a exposição é conhecer a evolução das artes plásticas em Minas e no Brasil. E a mulher que dedicou a vida a valorizar a cultura sonha em transformar a chácara em que vive, no bairro São Bernardo, na região da Pampulha, em Casa Museu. O acervo já foi doado à Universidade de Minas Gerais (Uemg). As peças maiores não puderam ser levadas para esta primeira exposição. Confira as imagens no fim da matéria.

“Foi a primeira vez que eu pude mostrar este acervo. Tem muita gente que quer ir lá em casa ver, mas eu não posso abrir a casa, por enquanto, que eu não tenho estrutura pra abrir. Então, pra mim, foi fundamental mostrar o que eu tenho - eu fico comovida também - e mostrar para o poder público o que ele tem e que ele não sabe.” finaliza.

Serviço:

  • Coleção Brasileira – de Alberto e Priscila Freire
  • Curadoria: Priscila Freire
  • 25 maio a 29 agosto 2022
  • De quarta a segunda, das 10h às 22h
  • Centro Cultural Banco do Brasil - Praça da Liberdade
  • Entrada franca

Leia mais

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por