Donos de bares e restaurantes criticam protocolo da PBH para a reabertura do comércio

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
16/07/2020 às 12:09.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:02
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Donos de bares e restaurantes em Belo Horizonte classificaram como “inviável” o protocolo elaborado pela prefeitura para a reabertura dos estabelecimentos, após a redução dos casos de Covid-19 na cidade. Para os comerciantes, as regras podem prejudicar ainda mais os negócios, levando as empresas à falência. Eles também criticam o fato de que a mesma rigidez não foi adotada em alguns serviços essenciais, como supermercados e farmácias.

Na noite de quarta-feira (15), a prefeitura de BH publicou comunicado com as normas a serem adotadas. As medidas de segurança limitam a capacidade a uma pessoa a cada sete metros quadrados, incluindo o funcionário, além de mesas com no máximo dois clientes. O uso de calçadas será permitido, mas é preciso uma licença do órgão fiscalizador.

Na capital, os estabelecimentos estão fechados há 119 dias e sem previsão de retorno das atividades. No Paracone, tradicional restaurante da região Leste da metrópole, o plano de reabertura foi avaliado como “absurdo”, disse o proprietário Lindoval Conegundes, de 52 anos. "Seria para acabar de quebrar", afirmou.

Funcionando há 31 anos na avenida Brasil, a casa recebia só durante o almoço cerca de 250 pessoas. Caso seguisse à risca os limites de isolamento, Conegundes calcula que esse número seria reduzido a 35, contando os funcionários. Antes da pandemia, dez colaboradores cuidavam do atendimento ao público. "Faltam critérios plausíveis. As regras não são tão rígidas, por exemplo, para os bancos, supermercados e farmácias".

Se a prefeitura manter as normas, o dono do Paracone garante não reabrir para receber clientes. "Vou continuar apenas com o delivery e take away (quando o consumidor pega a comida na porta)", diz o empresário, que teve queda de 85% no faturamento. Por causa da crise, ele já demitiu 16 funcionários.

"Não existe nada parecido no mundo. Isso é a maior demonstração de incompetência. É vergonhoso. E a prefeitura não ouviu o setor", afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci

Rigidez

Dono do Boi Vitório, no bairro Cruzeiro, na região Centro-Sul da capital, Fabrício Lana também garante seguir fechado para o atendimento presencial. Ele classificou como "insustentável o protocolo".

O restaurante com 13 anos de história funciona na rua Vitório Marçola e tem 450 metros. Com as regras de distanciamento entre a clientela, poderia atender mais de 50 clientes, simultaneamente. "É sem sentido um filho não poder sentar na mesa com os pais. O protocolo está errado, houve um equívoco ", lamentou.

Já o dono do tradicional Chef Túlio Internacional Butiquim, no Horto, região Leste, diz que "é melhor ficar fechado, temporariamente, até aparecer uma vacina". Túlio Montenegro reforça ser inviável funcionar nessas condições. Ele diz que, além da queda drástica de clientes, os estabelecimentos teriam que investir na compra de termômetros. "É hilário, um protocolo absurdo”.

Segurança

Em meio a tantas críticas, há quem avalie as medidas provisórias como necessárias para conter o avanço do novo coronavírus. Caso de Gabriela Furtado, sócia do Asacabrassa. Segundo ela, os oito restaurantes da rede já estão se adaptando para receber os clientes. Estruturas de acrílico foram instaladas para impedir o contato do público com a comida. A refeição, conforme a empresária, será servida pelos funcionários. "Realmente, as medidas de distanciamento vão reduzir o movimento. Mas é para o bem da população e o controle da doença", disse.

O Hoje em Dia apurou com uma fonte ligada à prefeitura que o Comitê de Combate à Covid-19 não participou da elaboração do protocolo. O documento teria sido feito pela Secretaria de Planejamento.

Outro lado

Em nota, a PBH informou que as propostas com os protocolos de funcionamento foram construídas a partir do diálogo constante e das sugestões enviadas por cada segmento, ajustados de acordo com critérios apontados pela Vigilância Sanitária e pelo Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19. 

"Mas, caso haja divergências nessas diretrizes, os setores organizados podem consolidar as avaliações e enviar à Prefeitura para análises quanto a ajustes e aperfeiçoamentos possíveis".

A PBH ainda destaca que, enquanto não for disponibilizada uma vacina, a adoção de medidas mais restritivas será necessária para preservar vidas e evitar o colapso assistencial de saúde. 

"A Prefeitura continuará acompanhando diariamente os indicadores epidemiológicos (índice de transmissão e ocupação de leitos) e, somente quando os números estiverem estáveis, vai propor a retomada", completa.

Veja as regras da PBH para bares, restaurantes e lanchonetes

• Capacidade máxima de 1 pessoa a cada 7 m², incluindo os funcionários
• Aferir as temperaturas de clientes e funcionários por termômetro digital infravermelho antes da entrada no estabelecimento
• Privilegiar a disposição dos clientes em área externa do estabelecimento e/ou em locais com maior ventilação
• Uma mesa a cada 6,5 m², respeitado o distanciamento mínimo de 2,5 m entre mesas, com no máximo duas cadeiras por mesa
• Máximo de duas pessoas por mesa
• É admitido o uso das calçadas para disposição de mesas mediante licenciamento junto ao município e isolando-se a área para evitar aglomeração e circulação
• Vedado o modelo de self-service. Admite-se serviço com buffet com isolamento dos alimentos em relação aos consumidores e montagem do prato por profissional do estabelecimento devidamente paramentado
• Proibida a abertura de espaços de entretenimento infantil (kids) ou área de lazer, caso o estabelecimento possua
• Funcionários devem vestir uniforme somente no local de trabalho. Uniformes, equipamentos de proteção e máscaras não devem ser compartilhados

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