Sob a mira de metralhadoras

Duas siderúrgicas mineiras são investigadas pelo MPF por violar direitos humanos durante ditadura

Vanda Sampaio
vsampaio@hojeemdia.com
26/05/2022 às 22:51.
Atualizado em 27/05/2022 às 00:16
 (Maurício de Souza/ARQUIVO HOJE EM DIA)

(Maurício de Souza/ARQUIVO HOJE EM DIA)

Dois inquéritos civis abertos pelo Ministério Público Federal investigam a participação das siderúrgicas Belgo Mineira (comprada pelo grupo ArcelorMittal) e Mannesmann (comprada pelo grupo Mannesmann Vallourec) em violações de direitos humanos durante a ditadura militar, por meio por meio de colaboração com órgãos de repressão estatais. 

As  investigações são decorrem do relatório final dos trabalhos realizados pela Comissão da Verdade em Minas Gerais.

De acordo com o documento, a Belgo e a Mannesmann teriam apoiado política e financeiramente a ruptura institucional causada pelo golpe de estado de 1964.

Durante a ditadura, as duas empresas teriam colaborado ativamente com a repressão política contra seus próprios trabalhadores. 

Entre seus principais alvos, afirma o documento, estavam os operários filiados ao Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de João Monlevade, na região Central de Minas. 

O relatório final da Comissão da Verdade MG esclarece com detalhes  como cada empresa atuava internamente. 

Belgo Mineira  

Segundo o MPF, a Belgo teria “demitido” de forma coercitiva cerca de 74 operários acusados pela empresa de serem agitadores. Todos tinham carteira assinada e estabilidade no emprego. 

O documento também destaca que “os trabalhadores eram forçados a assinar rescisões contratuais sob a mira de metralhadoras e sofrendo humilhações”. 

Mannesmann 

Já na Mannesmann, segundo a investigação, “os funcionários eram aprisionados dentro da própria empresa pelo tenente Schmitz e pelo policial Gustavo, ambos da Patrulha Volante, como foi constatado no Boletim de Ocorrência de número 8684", relata o levantamento.

A justificativa da siderúrgica, segundo a Comissão da Verdade, era que “os operários eram qualificados como líderes agitadores no movimento”.  

Para agir dentro da empresa livremente, segundo as investigações, os agentes de repressão eram infiltrados entre os operários com a ajuda, por exemplo, das Assessorias de Segurança e Informação (ASI) para fornecer listas para o DOPS (Departamento de Ordem Política Social) e Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). 

Fiat investigada 

O Ministério Público Federal também investiga a atuação da Fiat Automóveis S.A há cerca de três anos, por colaboração com o sistema de repressão do governo militar com informações sobre o movimento sindical. 

Segundo o MPF, a empresa teria recebido facilidades econômicas e fiscais do governo brasileiro para a instalação da montadora no país em 1976, em plena ditadura.

Em troca, a Fiat Automóveis permitia que militares trabalhassem como seguranças na empresa e o funcionamento de um complexo de vigilância e informação para coibir ações políticas dos empregados. 

O que dizem as empresas: 

A  ArcellorMittal informou em nota que tomou conhecimento na noite desta quinta-feira (26) da abertura de inquéritos pelo Ministério Público Federal, referentes a possíveis eventos ocorridos na década de 1960, na antiga Belgo Mineira, época anterior à aquisição da empresa pelo Grupo ArcelorMittal. E declarou que "a companhia ainda não foi notificada pelas autoridades e desconhece a natureza da demanda e reforça seu respeito incondicional pelos direitos humanos", escreveu.

Também em nota, a Fiat Automóveis declarou que a empresa está à disposição das autoridades para cooperar no que for solicitada. 

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