Tem insônia ou dorme muito?

Duração do sono pode afetar desempenho da função cognitiva em adultos, aponta pesquisa da UFMG

De acordo com o estudo da Faculdade de Medicina, os que dormem menos de 6 ou mais de 8 horas apresentaram menos habilidade nos testes

Do HOJE EM DIA
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18/07/2024 às 13:24.
Atualizado em 18/07/2024 às 13:26
Participantes que haviam dormido menos ou mais de sete horas apresentaram um desempenho inferior em habilidades cognitivas (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Participantes que haviam dormido menos ou mais de sete horas apresentaram um desempenho inferior em habilidades cognitivas (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Caracterizada pela dificuldade de iniciar o sono e de mantê-lo de forma contínua durante a noite, ou ainda pelo despertar muito antes do horário desejado, a insônia pode estar relacionada a diversos fatores, entre os quais, aspectos genéticos, transtornos do humor, problemas emocionais e estresse.

Pesquisa realizada pela pesquisadora Tamiris Amanda Rezende em doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da UFMG, revela dados importantes sobre a relação entre distúrbios do sono e o desempenho cognitivo: a curta (menos de seis horas) e a longa (mais de oito horas) duração do sono estão associadas a um pior desempenho cognitivo em adultos. 

Orientado pela professora Sandhi Maria Barreto, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina, o estudo baseou-se em uma análise transversal de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa) Brasil, coletados entre 2014 e 2017, com participantes de 55 a 79 anos. O objetivo foi investigar a relação entre distúrbios do sono (duração, dificuldade de iniciar ou manter o sono, sintomas de insônia) e o desempenho cognitivo, por meio de testes específicos.

A pesquisa também demonstrou que a relação entre tempo de sono e desempenho cognitivo não é linear, mas curvilínea, com o melhor desempenho cognitivo observado em participantes que dormiam cerca de sete horas por noite. Desse modo, os participantes que haviam dormido menos ou mais de sete horas apresentaram um desempenho inferior nas habilidades cognitivas: memória, fluência verbal, funcionamento executivo e funcionamento cognitivo global.

“Esse padrão foi consistente tanto para adultos de meia-idade (55-60 anos) quanto para adultos mais velhos (60-79 anos), embora os participantes mais velhos tenham apresentado pontuações cognitivas ligeiramente menores”, destaca Tamiris.

Distúrbios do sono

A relação entre sintomas de insônia e desempenho cognitivo também foi analisada por meio de modelos de regressão linear. A pesquisa demonstrou que a insônia impactou significativamente os resultados, independentemente da duração do sono ou da presença de cansaço ao longo do dia. Os participantes que relataram dificuldades para iniciar ou manter o sono, e aqueles que acordavam muito antes do horário programado, apresentaram pior desempenho cognitivo que os demais.

Segundo Tamiris Rezende, os distúrbios do sono devem ser tratados como fatores potencialmente modificáveis para prevenir o declínio cognitivo e as demências em longo prazo. Nesse sentido, intervenções que promovam a qualidade do sono, especialmente a partir da meia idade, podem melhorar a saúde cognitiva, a qualidade de vida dos indivíduos e gerar benefícios para a saúde pública.

A pesquisadora integra a equipe de supervisores do Elsa Brasil, o que a motivou a aprofundar os estudos sobre o tema. Interessada em cognição e envelhecimento, Tamiris Rezende considera essa questão extremamente importante para a sociedade.

“É um assunto de grande relevância não apenas para a comunidade científica, mas também para a população em geral, que convive diariamente com questões relacionadas ao envelhecimento”, diz.

Elsa Brasil

Criado em 2008, o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto Brasil já teve quatro fases de pesquisa, e conta, atualmente, com mais de 13 mil voluntários, todos servidores públicos nos estados participantes. O programa produz diretrizes para o SUS nas áreas de alimentação, hipertensão, diabetes, doenças renais e da tireoide. A pesquisa explora fatores como local de moradia, ambiente de trabalho e alimentação, combinando marcadores bioquímicos e anatômicos com variáveis psicossociais. Além da UFMG, participam do Elsa as universidades federais da Bahia (UFBA), do Espírito Santo (Ufes) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de São Paulo (USP) e a Fiocruz, no Rio de Janeiro.

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