‘Ela tinha pela frente a vida inteira com as duas pernas’, diz filha de vítima de amputação em obra
Natalice Gomes da Silva, de 49 anos, sofreu um acidente nos trilhos, em junho, e parentes pedem indenização; outras 16 famílias reivindicam reparação financeira por desocupação

Moradores e líderes comunitários foram ao local das obras da Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte reivindicar indenizações para Natalice Gomes da Silva, que perdeu a perna em um acidente durante a construção do ramal, na altura do bairro Nova Cintra, região Oeste. Além disso, cobram compensações financeiras para 16 famílias que teriam sido afetadas pelos trabalhos de ampliação do meio de tranporte. As manifestações ocorreram nesta terça-feira (15).
A filha de Natalice, Jéssica Gomes da Silva, de 33 anos, contou que a mãe morava nas proximidades das obras da estação Nova Cintra e atravessava o trilho quase todos os dias. No entanto, em 20 de junho a mulher teria escorregado em escombros da obra e acabou atingida pelo vagão de um trem que passava no momento.
“Queremos ajuda. Onde ela está, o acesso é difícil. Ir ao hospital é difícil. Ela está acamada, as costas dela ficam feridas. Ela está pedindo ajuda, tinha uma vida inteira pela frente, com as duas pernas. Hoje ela não tem. Depende de mim e das minhas irmãs”, disse.
Segundo Jéssica, a família teve que deixar a moradia devido à poeira e à falta d'água causada pelas obras. Mas, ao contrário de vizinhos, afirma, não foram indenizadas pela desapropriação nem pelo acidente envolvendo a mãe.
Ainda conforme a filha de Natalice, o trem que atropelou a vítima era da empresa de logística MRS. A linha usada pelo veículo é gerenciada pela VLI. As duas companhias, junto com o Metrô, teriam oferecido um acordo de R$ 15 mil para “indenizar” a mulher, mas não houve consenso.
Por nota, a VLI informou que acompanha o caso desde o primeiro momento. “A empresa lamenta o fato e esclarece que, em conjunto com a outra operadora responsável pela composição envolvida no acidente, foi oferecido à pessoa envolvida um valor com natureza de ajuda humanitária, não relacionado à responsabilização de nenhuma das partes pelo caso”, escreveu.
A empresa reiterou o respeito com as comunidades onde atua e afirma que seguirá tomando "as medidas cabíveis" e colaborando com as autoridades competentes.
O Hoje em Dia entrou em contato com a MRS e com o Metrô BH. A matéria será atualizada após os retornos.
Famílias reivindicam indenização
Moradores do bairro Nova Gameleira, junto com a família de Natalice, reivindicam indenizações após serem “despejados” de casa. Segundo os manifestantes, 16 famílias ainda não receberam reparações nem entraram no acordo de outras casas afetadas pela obra da Linha 2.
A concessionária Metrô BH relatou que cada caso será analisado separadamente. As famílias podem procurar por estações de assistência social espalhadas pela área das obras, informou.
“Queremos buscar uma solução que não impacte na obra e não prejudique as famílias. Cada caso será estudado”, disse o presidente da concessionária, Cláudio Andrade.
Segundo a Metrô BH, 341 famílias receberam indenizações a partir de R$ 105,9 mil, podendo chegar a R$ 346,9 mil, dependendo das características de cada imóvel. Além da compensação financeira, as famílias terão direito a quatro meses de aluguel social custeados pela concessionária, no valor de R$ 850 mensais.
Por nota, a concessionária relatou que as demolições realizadas ao longo da Linha 2 "não afetaram qualquer rede de água ou luz existente no local e que a empresa sequer foi notificada pelas concessionárias responsáveis por estes serviços".
"Sobre os entulhos remanescentes das demolições, esclarecemos que os materiais são contidos nos locais e descartados de forma adequada, posteriormente. Já sobre as casas construídas irregularmente na faixa de domínio e não indenizadas, informamos que todas as famílias identificadas como aptas à indenização nos termos do Acordo mediado pelo Compor no Ministério Público de Minas Gerais já foram contactadas pelo Metrô BH", diz trecho da nota.
Linha 2 do Metrô de BH
As duas primeiras estações da Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte devem começar a operar até o segundo semestre de 2026. A previsão foi confirmada por Cláudio Andrade, nesta terça-feira (15). Os dois pontos irão integrar a Linha 1 do Metrô enquanto o novo trajeto ainda não estiver concluído.
“Originalmente, a Linha 2 estava prevista para operar apenas em 2028. No entanto, fizemos estudos e estamos com o objetivo de iniciar essa operação ainda em 2026, dois anos antes do que estava previsto, com duas estações: Nova Suíça e Amazonas”, afirmou o presidente.
Antes das estações da Linha 2, outra parada deve ser entregue em janeiro: a estação Novo Eldorado, que será a 20ª estação, adicionando mais 1,6 km de via.
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