
Fim de tarde na Pampulha. Priscila Freire, então diretora do Museu de Arte (MAP), segue em direção aos jardins da orla, projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909–1994). Lá, bem à vontade, puxa uma cadeira e abre uma garrafa de champanhe para admirar o pôr do sol na região. “Esse belo horizonte também precisa ser tombado”, crava Priscila, aos 82 anos.
Ela que já foi atriz, superintendente de museus de Minas e coordenadora do Sistema Nacional de Museus, em Brasília, trabalhou durante 14 anos no MAP. Em várias oportunidades, após a correria diária do expediente, cumpriu esse ritual.
Na última semana, se encontrou com a reportagem do Hoje em Dia. A entrevista estava agendada para as 15h e, pontualmente, ela chegou no edifício projetado por Oscar Niemeyer. Bem elegante, de cabelo impecável e astral nas alturas, relembrou casos que marcaram a história do museu.
“O tombamento pela Unesco é legítimo. Qualquer bem protegido, porém, exige uma comunicação intensa com a população. É ela que vai defendê-lo. Por isso, o uso do espaço tem que ser constante”
Priscila Freire
Ex-diretora do MAP
“Brigava muito para manter o espaço funcionando. Mas, quando se fala de administração pública, às vezes falta investimento. Certa vez, me falaram que não tinha dinheiro. Então, eu disse que ia fechar o museu. Apareceram vários artistas para protestar. E é assim mesmo. Temos que lutar pelo nosso patrimônio”, conta.
Priscila Freire foi a guia da reportagem nesta rápida visita. Com uma memória impressionante, a ex-diretora sabe de cor e salteado as principais exposições realizadas durante sua gestão. Na hora de falar o que nunca pode faltar no equipamento público, ela é categórica. “O museu precisa de cuidado e atenção. Espero tão logo vê-lo restaurado”.

Restauro pode vir por meio de fundo cultural do BNDES
O desejo de Priscila Freire em ver o Museu de Arte restaurado ganha fôlego. Na segunda reportagem da série “Patrimônio de todos”, que mostra a reta final para reconhecimento mundial pela Unesco do conjunto moderno da Pampulha, o Hoje em Dia mostra uma nova cartada em busca da revitalização que contemplará elementos físicos e artísticos do MAP.
O espaço estava incluído na lista de obras a serem tocadas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. No entanto, a licitação se arrasta e não há previsão para a liberação da verba federal. Agora, a Fundação Municipal de Cultura (FMC) busca apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O MAP reflete importantes princípios da arquitetura moderna devido à integração visual entre interior e exterior proporcionada pela estrutura envidraçada
A obra está orçada em R$ 4,2 milhões. Os recursos não reembolsáveis viriam de um fundo cultural do banco. Conforme a diretora do conjunto moderno da Pampulha, Luciana Rocha Féres, o pedido está em análise e, até o momento, não há definição oficial.
Intervenções
O trabalho de restauro deve durar cerca de dois anos. O presidente da Fundação de Cultura de BH, Leônidas Oliveira, explica que a obra visa acabar com um problema antigo.
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Há mais de 60 anos, após o rompimento da barragem da Pampulha, houve uma pequena movimentação de terra que danificou as esquadrias das janelas. “Quando chove, entra muita água no museu. Tentamos várias vezes resolver a questão, mas ainda não foi possível. Com a restauração isso será resolvido”, garante.
Leônidas Oliveira informou que o mármore das paredes será recuperado na obra, que prevê também intervenções nos banheiros, piso de madeira e os espelhos do interior.
Expectativas
Erguido para abrigar um cassino, o espaço virou museu em 1957 e, desde então, jamais passou por uma restauração deste porte. “Estamos na expectativa do restauro acontecer o quanto antes. É uma necessidade real para que se preserve o equipamento e se ofereça ao público boas condições de visitação”, diz a atual gestora do MAP, Carolina Andreazzi. Além disso, ela destaca que será feita uma licitação para o funcionamento de um café no local.
