Influência Arquitetônica

História da imigração italiana em Minas se mistura à construção de Belo Horizonte

Clara Mariz*
Publicado em 21/02/2022 às 20:52.Atualizado em 21/02/2022 às 21:02.
Sede da Prefeitura de Belo Horizonte foi construída seguindo a influência da arquitetura italiana (Hoje em Dia)
Sede da Prefeitura de Belo Horizonte foi construída seguindo a influência da arquitetura italiana (Hoje em Dia)

Nesta segunda-feira (21) é comemorado o Dia Nacional do Imigrante Italiano. A data é uma homenagem à primeira leva de imigrantes da Itália que desembarcaram no Brasil em 1874. Em Belo Horizonte, a história da comunidade se mistura à construção da capital.

Segundo o professor e especialista em direito urbanístico e patrimônio cultural, Daniel Silva Queiroga, em 1818, o imperador Dom João VI iniciou uma política de estímulo à importação de mão-de-obra livre. Porém, apenas com o fim da escravidão em 1888 é que o fluxo imigratório aumentou devido a uma conjução de fatores externo e interno.

"A Europa vivenciava os desdobramentos da Revolução Industrial com a dispensa de mão-de-obra; explosão demográfica; facilitação dos meios de transporte e comunicação; agitações políticas e guerras. O Brasil, por outro lado, estava no auge da expansão da lavoura cafeeira no Sudeste, e havia muitas áreas inabitadas na região Sul que precisavam ser colonizadas”, explica.

Mesmo todo o país sendo um local atraente para os italianos, Minas estava começando a expansão da lavoura cafeeira e, por isso, acabou se tornando um dos principais destinos dos imigrantes. "A construção de Belo Horizonte carecia, também, de mão de obra qualificada para as obras dos palácios administrativos e de todo tipo de arte", conta Queiroga.

De acordo com o professor, durante a construção de BH, os italianos se concentraram na favela do Leitão, que existia nas imediações do Mercado Central, e na favela do Alto da Estação, que ocupou o entorno da rua Sapucaí. "Depois da inauguração da capital, muitos foram transferidos para o Barro Preto. Mas também ocuparam bairros que ficam ao redor da avenida do Contorno, em especial, Lagoinha, Bonfim, Carlos Prates, Prado e Calafate”, conta Daniel Queiroga.

Influência 
Conforme o especialista em direito urbanístico, entre 1894 e 1940, a arquitetura da capital tinha uma inspiração eclética, seguindo a tendência da Europa desde o século XIX. Com a chegada dos dos italianos e ítalo-brasileiros, surgiu uma forma definitiva na configuração arquitetônica da cidade.

"Além de marcos arquitetônicos do presente, há uma marca inconfundível nas edificações mais populares, de traço simples, comumente encontradas em bairros como Santa Teresa, Floresta, Lagoinha, Bonfim, Carlos Prates, Prado, Calafate, Serra, São Cristóvão, Colégio Batista e Santo André. Essas construções trazem os signos da cultura arquitetônica italiana, em que se revisitam elementos clássicos e os aliam a uma genuína atenção ao modernismo, que ganha cada vez mais terreno na Europa do século XX", explica o professor.

Queiroga lembra que além dos grandes arquitetos e construtores que chegaram à capital mineira, italianos exerceram outras atividades em BH e também foram fundamentais para a construção cultura local.

"Eles abasteciam a cidade com vida social e economia intensa, oferecendo aos servidores públicos do Bairro Funcionários serviços de alfaiataria, sapataria, marcenaria, marmoraria, barbearia, lavanderia. No campo do comércio, entregavam gêneros alimentícios, roupas, material de construção e outros artigos de primeira necessidade. Inclusive, a primeira fábrica de cerveja de Belo Horizonte foi fundada por uma família", afirma. 

(*) Com Vivian Chagas.

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