Folia em BH

‘Liberdade’ e ‘viva a democracia’, gritos presos na garganta

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
Publicado em 23/01/2023 às 08:08.
“Samba Queixinho” arrasta multidão pela capital; folia renasceu após movimento espontâneo inspirado no praia da Estação (Lucas Prates/Hoje em Dia)

“Samba Queixinho” arrasta multidão pela capital; folia renasceu após movimento espontâneo inspirado no praia da Estação (Lucas Prates/Hoje em Dia)

“Viva a democracia”. As manifestações populares são a identidade do Carnaval de Belo Horizonte, que tem como um dos principais atrativos a essência democrática e plural. Ao longo de dois anos marcados por isolamento social e sem folia, participantes cativos da festa seguraram sentimentos e receios e planejam na edição de 2023 extravasar o sentimento de “liberdade”.

É o caso do ator e jornalista Richard Novaes, de 34 anos, que carrega no “sangue” o amor pela folia. Nascido em um sábado de Carnaval, ele afirma que os dois anos sem a festa foram marcados por tristeza, mas com a certeza de que era algo necessário.

“A gente estava enfrentando uma pandemia global então todo mundo entendeu que era necessário essa pausa que seguia as diretrizes da Organização Mundial de Saúde. Mesmo em um país que o presidente foi muito imprudente com relação às medidas de prevenção a Covid-19, a gente, como cidadão, percebe a importância de ficar parado. Foi triste, mas foi necessário e isso serviu pra voltar com ânimo total este ano”, afirma.

Para ele, o Carnaval de BH é um movimento espontâneo que nasceu na rua e é marcado pela diversidade de pessoas e estilo. Diante disso, nesta edição ele quer explanar seu grito pela democracia. 

“Sem dúvida é um grito de liberdade. Estamos muito felizes de estar voltando e principalmente com um governo que a gente acredita que vai olhar por nós, pelo povo. É um grito de que agora estamos com esperança de voltar às ruas para carnavalizar”, ressalta.

Livres

Grito parecido será entoado pela publicitária Thais Café, de 38. “Eu quero é xô corona, mas eu acho que vou me sentir é muito livre. É liberdade, ter essa possibilidade de abraçar as pessoas e estar na rua é muito agregador”, comemora.

A publicitária opina que o diferencial do Carnaval de BH está na receptividade do belo-horizontino. “Nós somos muito acolhedores e isso faz diferença para os outros foliões. Nós oferecemos comida, bebida e até um cantinho em casa. Tem a parte de segurança, porque a capital está bem estruturada”, pontua.

Adepto do Carnaval de BH desde 2015, David Sebastião Monteiro Barbosa Duarte, de 35 anos, conta que a folia aqui representa alegria e diversidade. “Assim como todo mundo, eu senti muita falta do Carnaval. Essa volta vai ser muito representativa. Meu grito é ‘viva a democracia e a liberdade de sermos quem nós queremos ser’”, celebra o folião, que pretende ir a pelo menos três blocos por dia durante a festa.

Blocos de rua vão explorar temas que vão da luz às mulheres 

 Quem também comemora o retorno do Carnaval de BH são os responsáveis por “botar o bloco na rua”. Integrante do comitê deliberativo do tradicional bloco “Então, Brilha!”, Samuel França Alves, de 40 anos, conta que neste ano o cortejo vai discutir realidades vividas nos últimos dois anos, além de reafirmar os valores do movimento.

“Então, brilha” faz suspense sobre tema do desfile deste ano, e pretende construir narrativa até a data do cortejo

“Gente é para brilhar. Enquanto sociedade, precisamos repensar formas de relação e organização da vida objetiva que coloquem a vida humana em primeiro lugar, esse será nosso principal grito”. O bloco que arrastou cerca de 300 mil pessoas em 2020, no entanto, faz mistério sobre o tema escolhido para esta edição.

“Nas próximas semanas vamos dar dicas, mas vamos construir uma narrativa. Será uma tentativa de explicitar os símbolos do bloco, a luz. Entendemos que o mundo inteiro tem passado por um momento sombrio. O Brasil viveu nos últimos anos um momento de escuridão que nega o conhecimento científico, a importância da cultura e da arte”.

Desfilando no Carnaval de BH desde 2013, o Bloco da Calixto traz o tema “Divinas Divas”. No comando do cortejo, a cantora e compositora Aline Calixto, que é carioca, mas mora em BH desde os 6 anos de idade, explica que a ideia é homenagear as mulheres. “O repertório exalta essas mulheres. Tem de tudo, desde Marília Mendonça, passando por Lady Gaga a Beth Carvalho”, detalha.

A cantora comemora a retomada da folia e conta qual será seu grito carnavalesco. “Carnaval em BH é um ato político, ele nasceu assim. Tivemos um momento de muita inércia, ingestão e isso afetou o processo da pandemia. Eu quero comemorar a retomada da democracia. Viva a democracia”, comemora.

O Carnaval em BH vai acontecer oficialmente de 4 a 26 de fevereiro com atrações diversas já confirmadas, entre elas a cantora Daniela Mercury, prometendo embalar BH com “O Canto da Cidade”. A folia terá o auge entre 17 e 21 de fevereiro em diversos pontos da cidade. A proposta é ocupar todas as regionais da capital com atrações.

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