DIA NACIONAL DO LIVRO

Mais barato e artesanal, o formato ‘zine’ tem democratizado a publicação de livros em Belo Horizonte

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
29/10/2022 às 10:26.
Atualizado em 29/10/2022 às 10:26

Eles são bem menores que os livros tradicionais, têm custo reduzido de produção e podem ser fabricados de maneira quase independente, em um formato artesanal que pouco se vê atualmente.

Você pode até não conhecer as "zines", mas esse formato tem democratizado a publicação de histórias. Diversos autores e autoras de Belo Horizonte têm recorrido a ele para espalhar seus textos no mercado editorial.

Neste sábado (29), em que se celebra o Dia Nacional do Livro, convidamos três autoras para contar suas experiências com esse tipo de publicação.

Entre romances e zines 
Uma delas é a escritora Laura Cohen, que já tem quatro romances publicados e, entre um livro e outro, lança suas zines com poesias e ensaios.

Entre eles está o "Escrever é uma Maneira de se Pensar para Fora", que foi escrito em um avião em 2018 e lançado pela Impressões de Minas, mesma editora que publica os romances dela.

"A zine é boa para quando estamos com pressa de lançar algo. Não demanda tanto tempo e preparação como um romance, por exemplo. Também é legal para testar materiais e novos formatos de escrita”, disse.

Laura Cohen já tem romances publicados, mas não abre mão das zines (Tatiana Bicalho)

Laura Cohen já tem romances publicados, mas não abre mão das zines (Tatiana Bicalho)

Laura explica ainda que, diferentemente dos livros tradicionais, a maioria das zines não têm registro ISBN na Biblioteca Nacional, que comprova que determinada obra é única, e podem ser impressas em gráficas e até mesmo em casa.

"Tem um afeto maior na produção das zines e também acho um formato muito divertido. Às vezes penso que gosto mais de publicar estas coisinhas pequenas do que os livros maiores", afirmou. 

Livro foi escrito durante uma viagem de avião (Reprodução/Redes Sociais)

Livro foi escrito durante uma viagem de avião (Reprodução/Redes Sociais)

Laura Cohen, que é fundadora do Estratégias Narrativas, um espaço com cursos e oficinas literárias em BH, também apontou a zine como uma boa solução para o lançamento de novos autores.

"É um formato legal para que quem quiser sentir a experiência da publicação. Por menor que seja o tamanho do texto, publicar pela primeira vez muda a vida de quem escreve. Estamos para lançar uma zine neste ano, juntando os textos de alguns alunos", contou.  

Oficinas democráticas 
A escritora Lívia Aguiar só no ano passado lançou o seu primeiro livro por uma editora ("Histórias do Tempo do Amém", pela Quintal Edições). Antes disso, porém, ela já havia publicado 13 zines em um período de nove anos.

A mais recente é a "5h55", uma zine toda feita com carimbos criados especialmente por ela com tinta azul, verde e dourada sobre papel especial marrakesh mostarda. A 1ª tiragem foi de 55 exemplares e, segundo a autora, “nenhuma zine é igual à outra”.

Veja o vídeo:

“Uma das características mais legais é poder publicar sem ter que passar por todos os trâmites de uma grande editora ou ter uma grande quantidade de textos que justifique a criação de um livro. Com a zine você pode publicar textos bem menores e com um custo muito mais baixo. É bem democrático", disse.

Outro ponto destacado por ela é a oportunidade que os autores têm de comercializar as zines em feiras, saraus e qualquer ponto da cidade. Um deles é o tradicional edifício Arcângelo Maletta, no Centro de BH, conhecido reduto de autores independentes.

"Porém, isso demanda que a pessoa seja muito ativa, pois ela vai precisar oferecer a zine e até recitar seus poemas, caso esteja em um sarau, por exemplo. Acredito que, para quem é mais tímido, não seja um modelo muito atraente", avaliou Lívia Aguiar. 

Lívia Aguiar já publicou 13 zines e ministra oficinas sobre o tema (Reprodução/Redes Sociais)

Lívia Aguiar já publicou 13 zines e ministra oficinas sobre o tema (Reprodução/Redes Sociais)

A experiência da autora é tanta que, agora, ela já ensina outras pessoas a produzirem suas próprias zines. A escritora mineira já realizou oficinas no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e em Portugal.

"A cena das zines é muito propícia para a troca entre autores. Com as oficinas, eu mostro como é fácil fazer, quais as possibilidades e limitações. É preciso democratizar os meios de produção e comercialização da literatura", comentou.

Conversas de WhatsApp 
Finalista do Prêmio Jabuti 2022, com o livro "Tríbades, Safistas e Sapatões do Mundo, Uni-vos: Investigações Sobre a Poética das Lesbianidades", a artista visual e escritora Leíner Hoki também já publicou uma zine antes de passar por uma editora.

Batizado de "Quando a Gente Fumarra Cigarro", o livro nasceu de uma conversa em um grupo de WhatsApp. Leíner cuidou de todo o processo da publicação – incluindo ilustrações, impressão, dobras e costura.

"Eu imprimi em uma gráfica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Primeiro testei em um papel normal, para ver se estava certo, e depois imprimi a versão final em um papel amarelinho, que eu tinha comprado em uma loja especializada", contou.

Leíner Hoki: é um formato de pura liberdade! (Reprodução/Redes Sociais)

Leíner Hoki: é um formato de pura liberdade! (Reprodução/Redes Sociais)

Segundo ela, trata-se de um formato de “pura liberdade”.

“Eu amo zine, porque ela pode ser tudo! É mais baratinho de imprimir e isso dá possibilidades de alcance ao texto. Você fica livre para testar mais e mais. Eu gosto muito disso, abre o leque de possibilidades", garantiu.

Leia Mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por