O protagonismo das mulheres já é uma das marcas do Carnaval de Belo Horizonte em 2023. Como foliãs, instrumentistas, mestras de baterias ou à frente da organização dos blocos, elas ocupam os espaços e passam mensagens sobre o empoderamento feminino e a constante luta contra o assédio.
De acordo com balanço da prefeitura, ao todo, 24 cortejos que integram o calendário oficial são liderados por mulheres, com temáticas em defesa delas. Não há dados comparativos com a festas anteriores, mas tanta a PBH quanto a Associação dos Blocos de Rua garantem que o número aumenta a cada edição.
Entre os mais de 400 blocos da cidade, o da Calixto – que desfilou nesse domingo (19) e no sábado (18) – se destaca pelo protagonismo feminino.
Comandado pela sambista Aline, com banda e organização formada por mulheres, o cortejo é marcado por mensagens contra o assédio e à favor da diversidade. O repertório deste ano ainda homenageou diversas cantoras, de Madonna a Marília Mendonça.
Aline Calixto conta que desde a fundação o bloco se preocupa com a causa. Ela reforça que nos últimos anos houve um crescimento no número de mulheres nas ruas, participando ativamente da folia.
“Há dez anos, quando comecei, lá em 2014, eu era a única mulher com um bloco. De lá pra cá, aumentou demais. Fico muito realizada porque a gente aparece com a força, com potência, com quantidade. Quanto mais a gente chegar para tomar, melhor”, comemora a cantora.
Para ela, com a crescente onda em defesa das pautas, o Carnaval deste ano tem tudo para ser a folia das mulheres. “Esse movimento de ocupação do espaço, do protagonismo feminino, se reflete em várias áreas, inclusive na música. A tendência é mulher para todo lado”.
‘Nossa luta é todo dia, nosso país ainda é muito machista’
Integrante do bloco Filhas de Clara, formado por músicos mineiros, em homenagem a Clara Nunes, Julia Tizumba acredita que o Carnaval de 2023 é o momento de retomada de espaços pelas mulheres, que tiveram momentos nebulosos durante a Covid-19.
“O Carnaval tem a emoção de podermos voltar para as ruas e lutarmos pelas nossas pautas. Para as mulheres é significativo porque tivemos um retrocesso de participação de mulheres no mercado de trabalho durante a pandemia. Mães solo, por exemplo, tiveram muita dificuldade. Quando retornamos às ruas é um significado enorme de força” afirma.
No entanto, apesar da crescente participação das mulheres no Carnaval, a luta ainda é grande que elas sejam protagonistas. “É fundamental na arte e no Carnaval como ferramenta de luta, mas ainda é um espaço de muito assédio. Nossa luta, no entanto, é todos os dias porque nosso país ainda é muito machista. Mas acredito que é nesse espaço que fazemos nossa voz ecoar e lutar por nossas pautas”, disse.
“Mas vai ser um dia de Carnaval das mulheres. Eu luto por todas para que chegue esse dia. Quando não terá nenhuma mulher oprimida e sofrendo. Eu acho que o Filhas de Clara é uma forma de luta por celebrarmos Clara Nunes e entender como a obra dela é atemporal e influencia mulheres”, finaliza.
Adesivos da campanha “Não é Não” estão sendo distribuídos pela Associação dos Blocos de Rua de BH para reforçar o respeito às mulheres durante o Carnaval
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