estatua Carlos Drummmond e Pedro Nava na rua da Bahia (João Lucas Machado Salgado)
“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do Mundo”. A frase é do poeta Carlos Drummond de Andrade, um dos ícones do movimento modernista no país que, este mês, comemora 100 anos.
Enquanto em São Paulo acontecia a Semana de Arte Moderna, na década de 20, aqui em Belo Horizonte jovens escritores se encontravam na rua da Bahia para também pulsar com o movimento que defendia a informalidade, o improviso e a liberdade de produção. Um sentimento de nacionalismo que valorizava nossa cultura.
A rua da Bahia, esquina com rua dos Goitacazes, foi apenas um dos pontos de encontro dos modernistas mineiros. O endereço ganhou as estátuas de Carlos Drummond e do médico e escritor Pedro Nava. Drummond, estudante de farmácia, causava espanto na elite intelectual com seus poemas nada convencionais.
Bem perto de onde foram instaladas as estátuas, a dupla tinha o hábito de se encontrar com outros boêmios no Café Estrella, uma casa de artigos de alimentação e bebidas, onde eles também gostavam de tomar café.
Casa Estrella (Internet)
Onde ficava a Casa Estrella (João Lucas Salgado Machado )
O jornalista e historiador João Lucas Salgado Machado vem rastreando os passos dos modernistas mineiros e prepara uma exposição com textos, fotos e documentos, para resgatar a memória desse movimento importante que revolucionou as artes e literatura. A expectativa é de que o trabalho fique pronto ainda este ano.
“É um trabalho de garimpo, já que são raras as fotos e os registros no Arquivo Público Mineiro e no Arquivo Público de BH”, lamenta. O projeto é da Diretoria de Museus da Secretaria de Estado de Cultura e coordenado pelo diretor Alexandre Milagres.
João Lucas relata que, entre um chopp e outro, o grupo confabulava sobre a nova estética que tomava conta das artes plásticas e da poesia. As ideias modernistas chegavam em caixas de livros da Europa na Livraria Alves, outro ponto de encontro dos modernistas mineiros, explica.
Livraria Alves (João Lucas Salgado Machado)
Os vanguardistas também se reuniam no Cine Odeon, que funcionava na rua da Bahia.
Cine Odeon na Rua da Bahia (Internet)
O grupo costumava frequentar o Hotel Globo, onde também funcionava o Café do Ponto e que hoje abriga o antigo Hotel Othon Palace.
Café do ponto (internet )
hotel Othon (João Lucas Salgado Machado )
Modernistas Paulistas em BH
Dois anos depois da Semana de Arte Moderna, entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, os modernistas de São Paulo chegaram à Capital mineira com disposição para conhecer de perto as diversidades culturais de Minas. “Eles ficaram impactados com a beleza do Barroco, em Ouro Preto, especialmente das obras de aleijadinho”, conta o jornalista e historiador.
Os modernistas mineiros receberam a artista Tarsíla do Amaral, autora da obra O Abapuru, além dos poetas Oswald de Andrade e Mário de Andrade, entre outros.
“O grupo ficou hospedado no Grande Hotel, onde hoje fica o prédio do Condomínio Maleta. Um ponto de encontro para discutir o nascimento de um nacionalismo que valorizava a nossa cultura”, relata João Lucas Machado.
Grande Hotel onde fica o Maleta (Arquivo Público Mineiro)
Edifício Maleta onde ficava o grande hotel (João Lucas Machado Salgado )
Mesmo depois de cem anos, a semana que marcou o início de uma revolução no modo de encarar a cultura e a arte brasileiras nunca esteve tão atual. E merece ser resgatada nas ruas da capital.
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