Provar, sentir, experienciar

Turismo de Experiência atrai turistas que querem viajar e tirar o atraso da pandemia

Luciane Amaral
@luciane_amarallamaral@hojeemdia.com.br
18/06/2022 às 12:46.
Atualizado em 18/06/2022 às 13:14

Quem depende do turismo para viver comemora. Com o avanço da vacinação e a flexibilização das medidas de proteção contra a Covid-19, o setor vem reagindo. O Índice de Atividades Turísticas no país registrou, segundo dados mais recentes do Ministério do Turismo (MT), crescimento de 85,7% em abril, na comparação com o mesmo período de 2021. No acumulado do ano até abril, a alta chega a 51,3%. 

O turismo foi fortemente afetado pela pandemia nos últimos dois anos, mas não houve danos irreversíveis, explica Vinícius Policarpo Quintão, especialista de turismo e logística da unidade de Indústria, Comércio e Serviços do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Houve uma queda no faturamento, mas as pessoas não abandonaram o sonho de viajar, elas postergaram”, afirma o especialista.

O avanço das atividades turísticas no país, segundo o MT, pode ser constatado pelo aumento na receita de empresas dos setores de transporte aéreo, restaurantes, hotéis, locação de automóveis, transporte rodoviário coletivo de passageiros, serviços de bufê e agências de viagens.

Vinícius Quintão, que é formado em Turismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mestre em Engenharia Civil na área de transportes pela Universidade de Brasília (UNB) e especialista em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral (FDC), afirma que os pequenos negócios foram os mais afetados.

“Eles têm capital de giro pequeno e muitos fecharam, mas o setor não se desestruturou. O que estamos vendo agora é um grande crescimento de uma demanda que estava represada, com aumento da ocupação. Mas é uma situação atípica e quem pensa em expandir tem que fazer um bom planejamento”, alerta o especialista.

Depois de quatro anos de reformas, casarão centenário se transformou em pousada e centro de cultura e arte em Santana dos Montes (Luciane Amaral)

Depois de quatro anos de reformas, casarão centenário se transformou em pousada e centro de cultura e arte em Santana dos Montes (Luciane Amaral)

As restrições do transporte aéreo na pandemia resultaram em um aumento das tarifas. E muita gente passou a buscar viagens domésticas, muitas vezes dentro do próprio estado, diz Quintão.

Os empresários em Minas passaram a receber maior demanda e querem ampliar o negócio. “A demanda pode ter um pico e depois cair. É uma alta temporada artificial e não se sabe se ela vai se manter. É diferente da curva de sazonalidade, que apresenta altas temporadas no inverno para destinos de montanha, por exemplo”, alerta.

Mas quem souber surfar nessa alta pode se dar bem. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), órgão das Nações Unidas (ONU),” tendências como ‘turismo doméstico’, ‘viagem próximo de casa’, ‘atividades ao ar livre’, ‘produtos baseados na natureza’ e ‘turismo rural’ estão entre as principais que devem moldar o setor em 2022”.

Minas Gerais aparece em segundo lugar no ranking dos doze estados em que o indicador de atividade turística é investigado pelo MT. 

Minas Gerais aparece em 2º lugar nas atividades turísticas entre os estados em que o índice é monitorado pelo Ministério da Agricultura 

Minas Gerais aparece em 2º lugar nas atividades turísticas entre os estados em que o índice é monitorado pelo Ministério da Agricultura 

Além de conjuntos arquitetônicos históricos e de paraísos ecológicos que o estado oferece, muitas iniciativas fortalecem os pequenos negócios e criam novas oportunidades a partir do chamado turismo de experiência. “Nós somos muito mais do que casarios antigos. Nós temos música e cultura”, afirma Adriana Couto, secretária de Cultura de Santana dos Montes, a 130 km de BH, próximo a Conselheiro Lafaiete.

Na cidade, a Escola de Violeiros Chico Lobo, em Santana dos Montes, resgata um dos mais significativos bens culturais do estado: a moda de viola. Há famílias inteiras tocando juntos, em uma tradição que atravessa gerações. E o visitante, que é recebido com roda de viola, ainda pode aprender com um violeiro que se tornou luthier como o instrumento é feito.

Entre os doze municípios que integram o Circuito Villas e Fazendas, a cidade de pouco menos de quatro mil habitantes “é a mais bem estruturada em termos de hotelaria e produtos turísticos”, afirma a secretária. 

E mais do que o tradicional turismo contemplativo, de visitas a museus e passeios nas ruas com os casarões coloniais, a cidade quer oferecer uma experiência ao visitante, que pode conhecer como tudo é feito na roça.

Conhecer o jeitinho mineiro de fazer biscoito no fogão a lenha é uma atração para turistas em Santana dos Montes (Adriana Couto / acervo pessoal)

Conhecer o jeitinho mineiro de fazer biscoito no fogão a lenha é uma atração para turistas em Santana dos Montes (Adriana Couto / acervo pessoal)

“Aqui tem trilha de bike, de jipe, de caminhada. Na casa da Dona Lúcia, que planta a mandioca e faz o polvilho, o turista aprende como se faz biscoitos; na casa do Amarildo, ele vê como o queijo minas é feito; na do Tarcísio é a muçarela e na da Jéssica é a manteiga. O roteiro termina na cervejaria Loba, onde ele entende como se faz cervejas artesanais. Não temos ouro, mas temos muitas riquezas”, conta orgulhosa a secretária.

E é disso que trata o turismo de experiência: o envolvimento do visitante, a partir de experiências significativas, memoráveis. É tornar tangível sensações, emoções e fazer com que o turista seja personagem de sua própria viagem.

Provar, sentir, experienciar

O analista Vinícius Quintão do Sebrae explica que “depois da pandemia, o consumidor quer viver a experiência”. E que, do ponto de vista técnico, de produto, há quatro aspectos que devem ser considerados: 

  • Você vai provar um bolo, é o básico. Todo produto turístico tem o lado sensorial;
  • é o sensorial e o engajamento (fazer parte disso).
  • a pessoa prova o bolo, faz a produção e aprende como ele é feito, aprende alguma coisa que não sabia antes;
  • vê, participa, aprende e constrói uma lembrança, torna a experiência memorável.

Esses diferenciais podem ser criados a partir de experiências próprias, que são comuns para o empreendedor, mas novidade para o consumidor. “Ninguém quer viajar para passar roupa. Mas muita gente pode ter interesse em saber como isso era feito no passado, com ferro de brasa. Até apanhar café tem se tornado experiência”, explica o analista.

Quintão afirma que os processos fabris têm grande potencial e que todos os produtos típicos têm oportunidade de se transformar em experiência para o turista. “Não é encontrar uma mina de um milhão de dólares, é muito mais um exercício de criação.”

Produtos típicos, como o queijo de minas, têm a oportunidade de se transformar em experiência para o turista que quer descobrir como é a vida na roça (Adriana Couto / Acervo pessoal)

Produtos típicos, como o queijo de minas, têm a oportunidade de se transformar em experiência para o turista que quer descobrir como é a vida na roça (Adriana Couto / Acervo pessoal)

Dicas para quem quer empreender

Encantar as pessoas não é necessariamente caro. É preciso investir em treinamento da equipe, estar atento à segurança e é importantíssimo conhecer o seu público para entender o quanto ele pode e está disposto a pagar, argumenta Quintão.

Existem, na opinião dele, alguns critérios básicos para quem pensa em empreender ou alavancar o negócio:

  • Fazer pesquisa de mercado para conhecer o cliente;
  • ofertar algo que ele queira - a pesquisa vai dizer que as pessoas querem sair de casa, querem viver, querem aprender
  • conversar com conhecidos e empreendedores e com o Sebrae que faz essa ponte, para orientar com oficinas, cursos, capacitações, palestras;
  • plano de negócios - que vai ajudar a entender como essa possível experiência pode se tornar produto ou serviço, quanto vai custar, se há público, como precificar e como você pode vender.

“O céu é o limite, as pessoas querem viver coisa diferentes”, conclui Vinícius Quintão.

Leia mais

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por