Projeto de Lei

Violência contra a mulher pode ser debatida em escolas de Minas para conscientizar futuras gerações

Vanda Sampaio
vsampaio@hojeemdia.com
Publicado em 08/05/2022 às 08:00.
 (Pixabay)

(Pixabay)

Levar o debate sobre violência contra a mulher para perto dos adolescentes é uma medida preventiva para tentar romper um ciclo de medo, silêncio, dor e morte que atinge milhares de lares brasileiros.

A discussão sobre o tema pode chegar às escolas públicas de Minas Gerais por meio de um projeto de lei aprovado em primeiro turno na Assembleia Legislativa (ALMG). A  iniciativa conta com o apoio de mulheres, educadores, ativistas e especialistas.

Para a publicitária Dani Schanen, que viveu um relacionamento abusivo por 20 anos, a medida é urgente e necessária, principalmente para adolescentes que estão começando a vida amorosa.

"Quando as meninas descobrem que o agressor repete um padrão de fala e comportamento, fica muito mais fácil se proteger e sair desse relacionamento perigoso", defende a publicitária, que  escreveu o livro "Eu Disse Não" e, atualmente, dá palestras para ajudar outras mulheres vítimas de violência.

Dani Schanen lembra ainda que é muito mais fácil desconstruir crenças equivocadas entre os meninos, quando são jovens, do que mudar o comportamento deles no decorrer da vida. "O debate é sempre positivo para todos", defende.

Para a autora do projeto da ALMG, a deputada Ana Paula Siqueira (Rede), a ideia não é repassar a legislação para estudantes, como uma matéria do currículo escolar, mas ser trabalhada nas escolas ao longo do ano.

Apoio de especialistas
Para a socióloga e professora da UFMG, Ludmila Ribeiro, o debate sobre violência contra a mulher deveria ser estendido a todas as escolas e não apenas da rede estadual. "É um problema que ocorre em todas as classes sociais e precisa ser debatido por todos,  desde a infância", completa.

Para a especialista, conversar sobre o assunto nas escolas, principalmente com os meninos, pode evitar a repetição de comportamentos violentos no futuro que, muitas vezes, são presenciados dentro de casa, do pai contra a mãe. "Crimes não podem ser vistos como comportamentos normais", critica Ludmila Ribeiro.

A socióloga argumenta que é preciso discutir as faces perigosas da sociedade patriarcal em que o homem aparece como dono e senhor da mulher. "A mulher precisa ser enxergada e entendida como um ser social capaz de fazer escolhas e tomar decisões", defende.

Na outra face da moeda estão as adolescentes que, para a especialista, precisam de orientação para saber como reagir à agressão física, moral, psicológica e financeira.

Acostumada a atender mulheres vítimas de relacionamentos abusivos, a diretora da ONG Elos de Amor, Kátia Pereira, também defende o projeto de lei da Assembleia como um aliado na identificação e nas denúncias dos casos de agressão da mulher pelo companheiro, marido ou namorado.

"É importante que a criança aprenda a identificar, desde pequena, que existem várias formas de abuso além da violência física", explica a ativista da ONG que atende 60 mulheres por mês, em Ibirité, na região Metropolitana de BH.

Apesar de apoiar a proposta da ALMG, a Kátia se mostra preocupada com os educadores que vão tratar do assunto nas escolas. "É um tema complexo e precisa ser tratado com cuidado", analisa.

Agressão e morte
Dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) mostram como é grave a ameaça às mulheres.  Diariamente são registrados cerca de 400 boletins de ocorrência desse tipo de violência no Estado. São 16 casos por hora.

Somente nos três primeiros meses deste ano, 25 mulheres foram assassinadas em Minas, segundo a Sejusp.

Romper violência e conhecer a lei 
Romper o ciclo de violência para muitas mulheres é um processo complexo e demorado. Quase sempre vivendo com o agressor, muitas vítimas enfrentam o medo em silêncio ou sem ter consciência de que a violência física, moral, psicológica e financeira são crimes previstos em lei.

Um dos pontos centrais do projeto m análsie na ALMG é que as crianças e adolescentes entendam a Lei Maria da Penha, que estabelece como crime qualquer tipo de violência doméstica e familiar contra a mulher, de natureza física, psicológica, sexual e patrimonial.

Ela foi sancionada em 2006 e prevê punição de até dois anos de prisão e multa para o agressor. Outro avanço da lei foi a determinação de afastamento imediato do agressor, como medida protetiva de urgência, em caso de ameaça à vida da mulher.

"Todas essas faces da conscientização que passam pela identificação do abuso, da importância do apoio à vítima e da denúncia à Polícia vão ajudar as novas gerações a repudiar a violência contra a mulher sem tantos conflitos", finaliza a socióloga Ludmila Ribeiro.

Leia mais: 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por