Julgamento de Antério Mânica

Vítima da chacina de Unaí completaria 61 anos nesta quinta; viúva pede justiça

Gabriel Rezende
grezende.hojeemdia.com.br
26/05/2022 às 11:51.
Atualizado em 26/05/2022 às 11:56
Marinês, viúva de Eratóstenes, acompanha julgamento de Antério Mânica na porta do Tribunal Federal, em Belo Horizonte (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

Marinês, viúva de Eratóstenes, acompanha julgamento de Antério Mânica na porta do Tribunal Federal, em Belo Horizonte (Gabriel Rezende / Hoje em Dia)

"Esforçado, estudioso e digno". Assim Marinês Lima, de 54 anos, descreve o marido Eratóstenes de Almeida, um dos auditores fiscais do trabalho vítimas da chacina de Unaí, ocorrida em janeiro de 2004. Nesta quinta-feira (26), ele completaria 61 anos. Para a esposa, o sentimento é de apreensão e expectativa para pena total a Antério Mânica, acusado de ser mandante dos assassinatos

O julgamento do fazendeiro chegou ao terceiro dia nesta quinta-feira (26). Ela espera que a decisão dos jurados, que pode ser conhecida até o fim da sexta-feira (27), seja de condenação, que será um "presente de aniversário". "Representará o fim da impunidade, que a justiça foi feita, concluída", declarou. 

Não fosse pelo crime, Marinês não duvida de que o dia seria de celebrações. "Estaríamos na nossa casa hoje à noite comemorando, porque foi sempre assim. Era um homem que vivia para a família. Esforçou, estudou muito para chegar a esse cargo [de auditor fiscal do trabalho]. Ele era digno e honrado", relembrou. 

(Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

A viúva conta que Eratóstenes se orgulhava do trabalho. "Ele gostava da fiscalização rural. Sentia ser um trabalho gratificante, pois ajudava trabalhadores que viam nele alguém que seria capaz de trazer melhorias nas condições de trabalho",  destacou. 

Este é o segundo julgamento em que é submetido Antério. Em 2015, ele e o irmão Norberto Mânica foram condenados como mandantes do crime. Eles foram sentenciados a 100 anos de prisão cada. Antério, no entanto, teve a condenação anulada em 2018. Por isso, ocorre novo julgamento. 

"Precisa que todos eles cumpram a pena. Foram condenados e ainda estão com recursos e mais recursos, se arrastando, desde 2015. A gente precisa dar um fim nisso. Conclusão disso. Esse é o presente. A gente quer que conclua o julgamento com a mesma sentença e que eles cumpram a pena", completou. 

Homenagem 

Antes do início do julgamento, o Sindicato Nacional dos Auditores do Trabalho (Sinait) organizou um ato em homenagem a Eratóstenes na porta do Tribunal. Um bolo de aniversário foi segurado pelo presidente do Sindicato, Bob Machado. 

"Estamos falando de vidas ceifadas. A manifestação é para recuperar a essência do que isso representa: luta por vida", afirmou o vice-presidente da entidade, Carlos Silva 

Julgamento 

Nesta quinta-feira ocorrerá o depoimento do réu, Antério Mânica. Também serão apresentados aos jurados vídeos contidos no processo. As oitivas terminaram nessa quarta-feira (25). Ao todo, foram ouvidas 19 testemunhas; 14 de acusação, incluindo Marinês, e cinco de defesa.  

Após a apresentação das imagens, haverá o depoimento de Antério. Em seguida, será aberto espaço para os debates finais entre acusação e defesa. A tendência é que a decisão dos jurados seja conhecida nesta sexta-feira (26). 

Chacina 

Em 28 de janeiro de 2004, os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada na região rural de Unaí. 

À época, o trio investigava denúncias de trabalho escravo que estaria acontecendo em fazendas da região. O crime ficou conhecido como Chacina de Unaí.

As primeiras prisões envolvendo o caso só ocorreram em 2013, uma década após os assassinatos. Na ocasião, três pessoas — Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes — acusadas de serem “pistoleiros”, foram condenadas a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.

Os intermediários do crime, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os dois confessaram o crime e foram condenados.

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime. A sentença deles saiu em 2015, com cada um sentenciado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.

Em 2018, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo, quando o TRF-1 anulou a condenação de Antério Mânica.

Em virtude da anulação, o ex-prefeito terá que ser submetido a novo julgamento, que deve acontecer nesta semana.

Na época da anulação, Norberto Mânica, que também recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime, inocentando o irmão.

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