A vez do arco-íris: mães que perderam outros filhos vivenciam a plenitude da maternidade

Patrícia Santos Dumont
10/05/2019 às 12:08.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:35
 (Paula Beltrão/Divulgação)

(Paula Beltrão/Divulgação)

Quem vê as fotografias de Fernanda Silva Pinheiro com a pequena Isis mal pode imaginar o caminho percorrido até a concretização dos registros de amor e afeto com a filha. Aos 35 anos, a analista de Recursos Humanos terá um Dia das Mães mais que especial. Após viver o trauma e a dor de perder o primogênito, realiza o sonho da maternidade plena ao segurar a menina nos braços. Isis é um bebê arco-íris – concebido e que veio ao mundo após uma perda gestacional.

“Só tenho a agradecer a Deus pela oportunidade de ter minha menina nos braços e meu menino no coração. Sou mãe de duas joias, feliz demais por isso. Mesmo vivendo essa loucura do puerpério de mãe de primeira viagem, a felicidade comanda meu coração. É a realização do meu maior sonho de vida”, diz. 

Em dezembro de 2017, Miguel partiu menos de duas horas após chegar ao mundo, devido a uma condição genética rara. Embora a dor, naquele momento, impossibilitasse a mãe de experimentar outros sentimentos, aos poucos foi perdendo espaço para a retomada de um grande desejo. Paula Beltrão/Divulgação

PRESENTE DIVINO - Isis chegou ao mundo no último dia 19, 1 ano e 4 meses depois do irmãozinho Miguel, que viveu menos de duas horas fora do útero em função de uma alteração genética rara. “Cada bebê tem a própria história e missão e sermos escolhidas para ajudá-los a cumpri-las é um presente. Depois de tudo que passei, ter a Isis no braços é luz!”, diz a mãe, Fernanda Pinheiro

O nascimento da Isis me prova que Deus é perfeito. Nem tudo é como desejamos, mas tudo que vem a nós deve ser recebido com amor e resignação. A vida é feita de momentos felizes e tristes, que devem servir de aprendizado”, coloca. Ideia que ajuda a explicar o que está por trás da expressão arco-íris: uma recompensa após a “tempestade” ou um período difícil. 

Às mães de anjo – bebês que partiram –, Fernanda deixa um recado. “Acreditem, não pensem que tudo vai se repetir. Tenham fé que o que é para ser será! Cada bebê tem a própria história e missão e sermos escolhidas para ajudá-los a cumpri-las é um presente".Paula Beltrão/Divulgação

MIL CORES - Tão desejada e aguardada, Isis chegou para colorir ainda mais a vida da mãe, Fernanda

Ressignificação da perda

A ginecologista e obstetra Mônica Nardy, de 38 anos, partilha de experiência parecida e é, inclusive, prova de que mente e corpo são capazes de se regenerar, ressignificando a perda sob a forma de uma experiência transformadora.

Mãe de Laís, de 4 anos, ela perdeu Cecília há um ano e meio. Sem avisar, o passarinho da família – como a menina é representada em fotos e por todo canto da casa – silenciou-se e partiu um dia antes da data prevista para o parto. 

Como uma recompensa depois de uma tempestade, menos de 20 dias atrás Túlio chegou ao mundo num parto natural jamais imaginado. Um milagre, acredita a mãe. Arquivo Pessoal

VITÓRIA - Chegada de Túlio foi celebrada por Mônica Nardy, que havia passado pelo luto de uma perda gestacional em 2017

“Não usava anticoncepcional há oito anos, e tanto Laís quanto Cecília vieram depois de tratamentos, já que tenho as trompas obstruídas. No meio do ano passado, decidimos tentar de novo e pouco depois descobri que estava grávida”, lembra. 

O garotinho tranquilo trouxe ainda mais cor à vida da família e tem feito a alegria da irmã mais velha. “Estamos radiantes. A gente o tem como uma cura para a dor da Cecília. O sentimento é de plenitude. Laís está uma fofa, quer abraçar e beijar o tempo inteiro. O maior problema agora é contê-la”, brinca Mônica.Dri Ros Fotografia/DivulgaçãoMILAGRE - A segunda filha de Mônica, Cecília, partiu um dia antes da data prevista para o parto, em dezembro de 2017. Em meados do ano passado, quando decidiu que era a hora de engravidar novamente, Mônica descobriu-se à espera de Túlio, que completa 19 dias neste domingo. “O sentimento é de plenitude. Deus é maravilhoso e tem sempre o melhor presente para nós. É preciso entregar e ter fé”, comemora a médica, com a primogênita e o marido

Um dia especial

Quem também terá a chance de guardar novas memórias deste segundo domingo de maio é a consultora de sistemas Juliana Batista de Carvalho, de 41 anos, que acabou de dar à luz Guilherme, o xodozinho da família. Ainda muito sensibilizada, celebra a oportunidade de ter nos braços o maior presente que poderia ter recebido nesse dia.

“Será um Dia das Mães muito especial. Ser mãe, fui com Maria Luísa, mas ter o filho nos braços faz toda diferença”, afirma.Juliana refere-se à filha que perdeu em outubro de 2017, após 41 semanas de gestação. A menininha, que veio ao mundo sem vida, tinha uma alteração genética rara que a impossibilitaria de sobreviver fora do útero. Paula Beltrão/DivulgaçãoRECOMEÇO - Juliana concretizou o sonho da maternidade no último dia 25 com o nascimento de Guilherme. O garotinho chegou para completar a vida da mãe de Maria Luísa. Em 2017, a menina nasceu sem vida por causa de um problema genético. “A Maria Luísa veio para nos ensinar a ser pessoas melhores e só tenho a agradecer por isso. O Guilherme é a renovação, esperança de dias melhores”, resume

“Só tenho a agradecer pela oportunidade de ser mãe novamente, de ser mãe de um bebê que chegou como um presente depois de uma tempestade. Gui é meu recomeço, minha esperança, meu amor, meu sonho, meu arco-íris”, resume. Paula Beltrão/Divulgação

FAMÍLIA COMPLETA - Dia das Mães será mais que especial para Juliana, que conseguiu, em abril, concretizar a maternidade ao receber o pequeno Guilherme nos braços

Com o corpo tomado de amor, futura mamãe destaca importância do nascimento na ‘alma’

A assistente social Carmen Gomes Macedo Rodrigues, de 28 anos, ainda carrega no ventre o maior e mais desejado sonho: Clara – bebê arco-íris gerada cerca de um ano depois de uma dolorosa perda. Grávida de seis meses, ela conta os dias para realizar a missão de ser mãe novamente. 

“Segui com o coração cheio de dor, em luto, entristecida por ter uma mãe aprisionada em mim, pois parecia ser proibido falar sobre um filho que não havia nascido. Quando me libertei, escrevendo uma carta para ele, a maternidade ficou mais leve e o luto virou lembrança. Foi quando descobri que meu bebê arco-íris estava a caminho”, conta Carmen. 

Este será o primeiro Dia das Mães que a assistente social terá a oportunidade de celebrar – com o corpo literalmente tomado de amor, afeto e muita esperança. Os próximos meses serão de uma doce espera pela caçula. Arquivo PessoalDOCE ESPERA - Carmen perdeu o primeiro filho de forma muito prematura, no segundo mês de gestação. Agora, conta os dias para ver o rostinho de Clara, que ir á coroar a tão sonhada maternidade

“Ela não veio substituir o Miguel – tenho certeza de que meu anjo era um menino. Ele é o primogênito e sei que está cuidando da nossa família. É assim, com o coração cheio de amor pelos meus dois filhos, que me encontro aguardando Clara, a minha luz, uma espera linda e grata por tudo o que vivi”, diz.

Aprendizado

Hoje, Carmen compreende que a partida precoce de um filho não representa um castigo. “Sustentada pela fé, entendi todo o processo como uma provação pela qual precisava passar para evoluir. Aproveito a data para dizer a todas as mamães que o que determina a maternidade não é o nascimento no corpo físico, mas na alma. Felicito todas: as que deram à luz, as que não deram, as mães de anjo e de coração”. 

Acolhida

Mulheres que perderam um filho ou descobrem, na gravidez, que ele não irá viver por muito tempo encontram em uma iniciativa nascida em BH a chance de ressignificar o luto. 

O grupo Colcha  busca criar uma rede solidária de apoio às mães. Idealizado pela médica Mônica Nardy, a doula Bel e a fotógrafa Paula Beltrão, apoia essas “mães de anjo” também no parto e promove encontros. Profissionais de diferentes áreas de atuação também participam dos encontros.

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