Código do corpo: gestos, posturas e expressões dizem mais do que supomos ou queremos

Patrícia Santos Dumont
04/07/2019 às 14:30.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:23
 (Fotos Lucas Prates)

(Fotos Lucas Prates)

Especialistas em decifrar mentiras para agentes de polícia, empresas particulares ou simplesmente interessados em descobrir a verdade. “Cientistas do comportamento” não são meros personagens de filmes e séries de ficção – como a famosa Lie To Me. Experts em linguagem não verbal utilizam- se de gestos, posturas e expressões faciais para se comunicar melhor, conduzir entrevistas de emprego e, por que não, descobrir trapaças.

Exibido de 2009 a 2011, o seriado norte-americano foi inspirado no trabalho do psicólogo de mesma origem Paul Ekman – pioneiro em estudar e catalogar emoções humanas e expressões faciais. Na série, o protagonista, Dr. Carl Lightman, resolve casos complicados em tempo recorde. Na vida real, no entanto, a verdade nem sempre chega tão rápido. 

Fundador do Instituto de Linguagem Corporal (ILC), localizado em Belo Horizonte, Diego Silva explica que é importante considerar características individuais antes de “escanear” as pessoas. “É preciso entender o contexto e a linha de base de cada um. Às vezes, cruzar os braços em frente ao corpo não significa estar de saco cheio ou fechado para o outro. Pode ser só uma posição de conforto”, descreve, exemplificando uma das posturas mais comentadas. 

Gestos e tom de voz

Tão ou mais importante que as palavras, os gestos, a postura e as expressões faciais revelam bem mais do que supomos ou pretendemos demonstrar. Estudos indicam que só 7% da nossa comunicação é baseada em palavras. O restante vem da linguagem não verbal (55%) e até do tom de voz (38%).

“Nos ajudam a ser mais seletivos, a decifrar situações que, antes, não compreendíamos, melhoram nosso poder de comunicação e refletem até nos resultados de uma empresa”, acrescenta o especialista belo-horizontino, que dá cursos com abordagem prática e conteúdo teórico. 

Diego explica que ao compreendermos a linguagem não verbal tornamos mais conscientes reações e atitudes que, até então, eram puramente instintivas. “Sabe qual a parte mais sincera do corpo? Os pés, porque estão mais longe do nosso estímulo cerebral. Eles estarão sempre apontados para o objeto de interesse”, ensina o especialista. 

“Imagine que você está numa reunião ou palestra e quer saber se as pessoas estão interessadas. É só observar os pés, que devem estar levemente apontados para você. Se estiverem voltados para a porta, para a saída, quer dizer que todo mundo quer ir embora. Então, sua palestra estará péssima!”, acrescenta. 

Ganho pessoal

Um dos mais conhecidos analistas de conduta do Brasil, o paulista Anderson Tamborim diz que mais do que estratégia para melhorar relações interpessoais e a comunicação no trabalho, a linguagem não verbal é ferramenta também para o autoconhecimento. 

“Parte das pessoas busca conhecimento pela curiosidade de decifrar os outros e identificar mentiras. Mas o ganho maior acontece internamente. Aprendemos a lidar com nossas emoções e reconhecer estados emocionais”, justifica. 

Uma das dicas do profissional é ter atenção à maneira como nossas expressões e reações são recebidas e interpretadas pelos outros. “Quando existe ruído na comunicação e a pessoa recebe nossa mensagem de maneira errada, a culpa não é dela, mas nossa”, afirma. 

Microexpressões faciais desvendam emoções e servem de ‘isca’ até para conseguir emprego

Ao contrário das expressões faciais, espécies de máscaras que refletem reações adequadas para cada momento, as microexpressões faciais – formadas em fração de segundos na região de olhos, nariz e boca – são involuntárias, ajudam a desvendar emoções ocultas e servem até como “isca” em entrevistas de emprego. 

Capazes de traduzir as sete emoções consideradas universais – alegria, desprezo, medo, nojo, tristeza e raiva – ajudam, dentre coisas, a interpretar um desinteresse ou mesmo a desvendar uma mentira e, quando bem empregadas, aumentam a competitividade no mercado de trabalho. 

“As pessoas vão sempre querer passar a imagem de bem-sucedidas, de não terem fracassos. Mas todos temos gaps e fortalezas. Numa entrevista, identificamos emoções ocultas quando se fala do ex-chefe e de experiências do passado, por exemplo. Microex-pressões permitem acessar detalhes e informações essenciais. É um conhecimento fundamental numa contratação”, destaca o presidente da Prime Talent, David Braga, especialista em microexpressões faciais e programação neurolinguística (PNL).

Todo mundo

Ele explica que pessoas mais expressivas e comunicativas são mais facilmente “desvendadas”. A ferramenta, no entanto, serve de suporte para a “leitura” até de quem já passou por procedimentos estéticos no rosto, como aplicação de botox, e de orientais, naturalmente mais contidos.

“A gente quer, diariamente, ser aprovado, agradar e ter um senso de pertencimento. Às vezes, as pessoas exageram e, para pertencer, constroem algo que não é delas. Aí é preciso decifrar, entender até onde estão sendo naturais e o que já pode ter virado quase uma doença”, reforça o especialista. Editoria de Arte

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