COMPORTAMENTO

Clube de leitura ajuda jovens a manter paixão por livros e funciona como incentivo para mais adeptos

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
06/03/2022 às 16:19.
Atualizado em 06/03/2022 às 17:40
NEYDIELLE E MARKSON – Amigos dentro e fora da sala de aula compartilham o gosto pela boa leitura

NEYDIELLE E MARKSON – Amigos dentro e fora da sala de aula compartilham o gosto pela boa leitura

Começar ou retomar o hábito da leitura costuma aparecer na lista de metas de muita gente todo início de ano. Boa parte fica só na intenção, alegando preguiça, falta de tempo ou de dinheiro para adquirir livros. Num país em que apenas 52% da população lê e 11 milhões de pessoas são analfabetas, felizmente há quem não dispense a companhia de uma boa história. Mais que isso, há também quem se mobilize para atrair outros adeptos. 

Recém-saídos do Ensino Médio, Neydielle Loures, Markson Lacôrte e Luana Castro, todos com 18 anos, criaram o ainda pequeno, mas cheio de entusiasmo, Clube de Leitura dos Amigos. 

“Durante a pandemia e com a possibilidade apenas das aulas online, já tínhamos pensado em fazer algumas atividades de aproximação com toda a sala, mas não foi possível. Agora, incentivados pela nossa professora de Língua Portuguesa, conseguimos tirar o projeto do papel”, conta Neydielle, que escolheu estudar Psicologia no ensino superior.

Luana sempre foi uma entusiasta da boa literatura, paixão que cresceu com os livros infanto-juvenis. Atualmente, a temática distopia e a escrita poética são os gêneros preferidos. 

“Li Torto Arado, de Itamar Vieira Jr., e me apaixonei (O livro foi o vencedor do Prêmio Jabuti em 2020). Também gostei demais de Tudo é Rio, da mineira Carla Madeira”, enumera Luana. “Além disso, gosto de apoiar a literatura brasileira independente”, acrescenta a jovem, aprovada para o curso de Letras na UFMG. 

O segredo para gostar de ler é manter-se focado e não desistir até criar o costume, ensina Markson. “Tem hora que me desconcentro, mas insisto, pois além de manter o hábito, a gente mantém a amizade”, brinca.

Luana Castro costuma devorar livros. Atualmente, preferência por escrita poética e narrativas distópicas

Luana Castro costuma devorar livros. Atualmente, preferência por escrita poética e narrativas distópicas

Falta apoio
A pesquisa “Brasil que lê” confirma que Markson está certo: não é nada fácil garantir o hábito de leitura. No caso brasileiro, questões sociais e econômicas costumam ser impeditivos. 

O levantamento feito pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura e Cátedra Unesco e o Itaú Cultural mostra os raros casos de apoio de estados e municípios e zero atenção federal ao Plano Nacional de Livro e da Leitura (PNLL) como outra barreira. Ainda segundo o estudo, parcela significativa das iniciativas para estimular a leitura são conduzidas por pessoas que atuam voluntariamente (44,76%) e muitas vezes com recursos próprios (39%). 

A pesquisa, “O Brasil que Lê” foi elaborada em 2019 e aplicada em 2020, de forma remota – em consequência dos protocolos sanitários impostos pelo Covid-19

As mulheres lideram 74% dos projetos. “Esses dados constatam as dificuldades e, ao mesmo tempo, o esforço de tantos brasileiros que fazem esse país valer a pena”, aponta Gilda Carvalho, uma das coordenadoras da pesquisa.

“Estamos entrando na faculdade e já teremos um volume grande de conteúdo que será de leitura obrigatória”, pontua Markson. 

“Fazer parte de um clube assim torna-se um passatempo, uma forma de deixar um pouco o celular, dedicar um tempo a você mesmo. É uma imersão maravilhosa”, aposta o rapaz, que vai cursar Bioquímica.

Voluntários fazem papel de incentivadores

Se não há apoio público, não falta qualificação aos obstinados voluntários, pessoas que a pesquisa aponta como “mediadores do incentivo à leitura no Brasil”. 50,79% deles têm qualificação para a tarefa que desempenham nestas iniciativas. 

Caso de Sabrina Cotta, incentivadora e participante do Clube de Leitura criado pelos três amigos recém-saídos do Ensino Médio. Sabrina é professora de Língua Portuguesa e Francesa, mestre em Didática de Línguas, área em que atua há mais de 10 anos. 

“Esse grupo sempre brincava em sala que podia fazer um Clube do Livro. Eles eram meus alunos desde a 1ª série. No meio do ano passado, quando retornamos para o ensino presencial, desenvolvemos uma amizade, fizemos um grupo no WhatsApp e começamos a nos movimentar no sentido de criar o nosso clubinho de leitura”, relata a professora. 

Professora Sabrina Cotta ajudou jovens a criar o clube que também integra. Para ela, a Base Nacional Comum Curricular precisa dar mais liberdade para a escolha dos alunos

Professora Sabrina Cotta ajudou jovens a criar o clube que também integra. Para ela, a Base Nacional Comum Curricular precisa dar mais liberdade para a escolha dos alunos

Sabrina avalia que fazer parte de um Clube de Leitura oferece um dinamismo diferente ao processo a que os jovens estão acostumados. “Trata-se do resgate de uma modalidade de leitura que pode ser nova para estes jovens. O que a gente sente é que nossos alunos sempre leem de forma muito rápida: um tuíte, um post. O propósito é levá-los a ver a leitura como ato de prazer, como hobby, como diversão, momento de espairecer, e de conforto”.

“Definimos uma quantidade de capítulos e selecionamos o nosso livro a partir de um gênero que todos gostam: o suspense. O único critério foi que o livro pudesse estar disponível online para democratizar o acesso e à forma como seria lido. Assim foi escolhido Convite para um Homicídio, de Agatha Christie”, diz Sabrina, sobre o início da partilha literária.

“Vamos ler o Cortiço (José de Alencar), mas também Harry Porter. O livro na escola é visto como carga extra. Mas tão importante quanto o enredo são as nuances da boa escrita”, destaca.

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