Não é reforma, é retrofit! Imóveis antigos são modernizados com técnica de requalificação

Patrícia Santos Dumont
19/01/2019 às 11:56.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:07
 (Divulgação)

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Técnica de requalificação, empregada sobretudo na Europa, o retrofit é mais que tendência também na capital mineira. Solução para o adensamento urbano, eficaz sobretudo para incentivar a reocupação de unidades antigas vazias, conserva a estrutura original, modernizando os imóveis, além de ser financeiramente vantajosa. 

Sócio-diretor da Bloc Arquitetura, responsável por um projeto nesses moldes na BR-356, na saída para o Rio de Janeiro, o arquiteto Alexandre Nagazawa explica que o termo, derivado do inglês, significa atualizar. “Consiste, basicamente, em preservar o que há de mais importante e significativo naquela edificação e atualizar o restante”, detalha, reforçando a diferença da técnica para a reforma convencional e o restauro. 

Ele conta que, na Europa, há milhares de prédios históricos, erguidos há séculos, e que, diferentemente dos padrões da época, exibem um perfil interno totalmente contemporâneo, ajustado às normas de acessibilidade, por exemplo. 

Em BH, o retrofit vem sendo aplicado principalmente em imóveis de áreas já saturadas, onde não há oferta de terrenos, como no Hipercentro. Conforme [TEXTO]Nagazawa, a técnica, além de atualizar construções ultrapassadas, possibilita novo uso das edifica-ções. 

Reconfiguração

Na BR-356, o antigo Capri Motel terá a utilidade completamente alterada. Projeto da Bloc Arquitetura para a EPO Engenharia propõe a criação do Armazém 356 – mercado que irá reunir gastronomia e serviços. Da construção anterior, será aproveitada a estrutura em concreto armado. As obras começam em fevereiro. 

Com o retrofit, os boxes, usados na primeira configuração pelos hóspedes, serão voltados para a rua. “Toda parte murada, que é fechada, quase como uma fortaleza, será modificada. Automaticamente, essa grelha estrutural, será aberta e tudo descortinado, criando uma comunicação direta com a rua e com as pessoas”, explica.Divulgação

ANTES - Estrutura do extinto motel, em concreto armado, será o ponto de partida do novo edifício; aspecto de fortaleza será substituído por projeto virado para a rua

Obra realizada pela PHV Engenharia, o edifício Savassi Mall, na região de mesmo nome– Zona Sul – também foi retrofitado para ter um novo uso. Da construção original, que abrigou um hospital e a Receita Federal, somente a estrutura foi mantida. 

“É um ponto cobiçado, alugado já durante as obras. As salas, pequenas, foram ampliadas, e o estilo em corredores, típico de hospitais, transformado em andares corridos”, detalha o engenheiro Marcos Paulo Alves de Sousa, diretor-técnico da construtora. 

Diferentemente da reforma convencional, que disfarça características originais de um imóvel, o retrofit resguarda aspectos importantes, históricos ou de estética, e moderniza sistemas hidráulico e elétrico, requalificando a construção como um todo

Técnica proporciona economia de até 30% com a obra

Viável do ponto de vista da ocupação urbana, principalmente nas metrópoles brasileiras, o conceito de retrofit é atrativo também pelo viés econômico. Ao preservar a estrutura original do imóvel que será modernizado, proporciona economia de até 30% na execução da obra.

“Tudo depende do estado da construção, do que será aproveitado, do local onde o edifício está construído e do valor do terreno. Mas, para se ter uma ideia, a parte da estrutura de uma obra equivale, em média, a 30% do custo total”, explica o arquiteto Alexandre Nagazawa. 

O profissional diz, ainda, que a técnica pode possibilitar o que se chama de ganho de escala, dependendo do local onde o edifício foi erguido. Em BH, prédios antigos localizados na região Central, por exemplo, possuem área construída superior à permitida pela legislação atual.

“Quando se adquire um prédio desses, automaticamente ganha-se coeficiente adicional que seria impossível alcançar nos dias de hoje num processo normal de aprovação”, afirma. 

O que muda

Diretor-técnico da PHV Engenharia, Marcos Paulo Alves de Sousa diz que as principais alterações internas executadas em edifícios retrofitados são recomposição ou substituição de tubulações e parte elétrica, modificação de elevadores, de sistema de ar condicionado e adequações às exigências de proteção contra incêndios. 

“Outra característica interessante é que prédios construídos em décadas passadas apresentavam, geralmente, salas pequenas. Com o retrofit, adaptamos o espaço para a nova função que o imóvel terá, sem que o funcionário ou a empresa precisem se ajustar ao já existente”, detalha. 

No Centro de BH, exemplos de retrofit são os edifícios Chiquito Lopes (Rua São Paulo) e Excelsior (Caetés). As obras de ambos foram executados pela construtora Diniz Camargos. 

Além disso:

Saída para reabilitar edifícios antigos localizados em áreas cobiçadas de grandes centros urbanos, o retrofit é alternativa viável também quando o assunto são imóveis históricos, muitas vezes protegidos pelo patrimônio. Nesses casos, obrigatória, a preservação inclui não só manter de pé a estrutura física, como resguardar ou resgatar características arquitetônicas.

Localizado no Centro de BH, próximo à Praça da Liberdade, o hotel ibis Belo Horizonte Liberdade é um exemplo de retrofit realizado nesses moldes. À frente do edifício principal, o empreendimento mantém um casarão construído em 1935 e que, atualmente, serve como recepção, bar, espaço para o café da manhã dos hóspedes ou área para eventos reservados.

Sócio-diretor da Bloc Arquitetura, que tem no portfólio intervenções de retrofit, o arquiteto Alexandre Nagazawa diz que projetos com essa configuração demandam mais planejamento, representando um desafio extra para o profissional. “Envolve horas de trabalho, de pesquisa e, sem dúvida, representa um desafio em termos do design do empreendimento”, detalha. Segundo ele, além da viabilidade financeira, a riqueza da construção original também é levada em conta na escolha do retrofit. 

No Centro de BH, o retrofit foi empregado em edificações comerciais e residenciais, como o apelidado Balança Mas não Cai, na esquina da avenida Amazonas com rua Tupis. Os históricos Sulacap e Sulamérica também estão na mira de uma requalificação nesse sentido

Fotos: Construtora Diniz Camargos/Divulgação (três menores) e Flávio Tavares

EDIFÍCIO EXCELSIOR - Localizado em uma das regiões mais privilegiadas da capital, sobretudo em função do tamanho dos imóveis e da mobilidade urbana, construção modernista da década de 1960, o antigo hotel da rua dos Caetés, no Centro de BH, teve estrutura original, esquadrias e parte dos vidros preservados pela técnica do retrofit. Totalmente repaginado por dentro, imóvel reformado pela construtora Diniz Camargos reúne, agora, escola profissionalizante e apartamentos que variam de 31 a 92 metros quadrados

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