Substituir as queixas pela gratidão abre caminho para uma vida mais leve e feliz

Patrícia Santos Dumont
12/12/2019 às 15:12.
Atualizado em 05/09/2021 às 23:01
 (Divulgação)

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Ao longo da vida aprendemos a andar, falar, compreendemos outros idiomas, conquistamos uma profissão, bens materiais, mas, muitas vezes, ancorados em queixas do que aparentemente saiu do rumo ou deu errado, deixamos de praticar algo capaz de mudar não apenas nosso olhar sobre o que vivemos, mas toda uma jornada: a gratidão. Palavra mencionada rotineiramente nas hashtags (só no Instagram são mais de 75 milhões de citações), vai além de agradecer pelas conquistas. Exercício diário, ensinam estudiosos no assunto, deve incluir reverência a qualquer situação do cotidiano e até mesmo a pessoas, sejam elas ou não da maneira como esperávamos ou gostaríamos que fossem.

Ordenado monge há 2 anos, professor no Centro Budista Kadampa Maitreya, em Belo Horizonte, Kelsang Genden diz que ser grato é tarefa número um para quem quer ser feliz. “O oposto é sofrimento”. Para ele, compreender que nossa existência depende dos outros ajuda a desenvolver o apreço pelas pessoas. “Nossa saúde emocional, nosso trabalho, dependem dos outros. Quanto mais entendermos que a gratidão está ligada ao reconhecimento de que os outros foram e são bondosos conosco, mais naturalmente a gratidão virá. É um estilo de vida. Não há outra forma de ser”.Riva Moreira

“Tudo depende da mente. Ao mudarmos nossa mente, mudamos nossa experiência. E se mudamos nossa experiência, não precisamos mudar mais nada. O que a gente faz é tentar mudar o mundo com política, em casa, no trabalho, como cidadãos. Devemos continuar como pessoas normais, esse não é um problema, mas se colocarmos nossa energia em mudar nossa mente, experienciareamos formas mais sutis de felicidade, vai ser maravilhoso” - Monge Kelsang Genden, professor no Centro Budista Kadampa Maitreya, em BH

Assista à entrevista com o monge budista Kelsang Genden:

Reitor do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, na Grande BH, padre Fernando César do Nascimento compartilha do ponto de vista. “Quando não exercito a gratidão em relação ao outro e, portanto, não o respeito, nego o que, de graça, recebi e que de graça não sei partilhar. Por isso, o respeito à pessoa humana é o primeiro gesto de amor e de gratidão concreta”, resume.

Parte do todo

É exatamente amparada na consciência de que faz parte de um todo que procura viver a cantora e compositora Iaiá Drumond, de 36 anos. Para ela, todo revés é aprendizado. “A gente delega muito os problemas ao outro. Se estou no trânsito cheio, na verdade, eu sou o trânsito. Parei de transferir ansiedades e frustrações às pessoas e passei a olhar mais para mim mesma e a refletir sobre como posso ser melhor. Se me incomodo com certa toxicidade é porque ela reverbera comigo. É um processo diário de pensamento, reflexão, de respiração e arte”, coloca.Maurício Vieira

Psicóloga praticante e divulgadora do Ho’oponopono (sabedoria havaiana que busca promover a autocura por meio da limpeza consciente e autorresponsável de memórias), Fernanda Junqueira exercita e ensina gratidão no dia a dia. “Experimente fechar os olhos e lembrar de uma situação que o deixe agradecido. Neste momento, você não conseguirá sentir raiva ou tristeza. Não cabem sentimentos tão antagônicos. Escolha se levantar e listar coisas boas que tenha para agradecer. Escolha focar no positivo e no que se pode controlar. Isso muda a forma como vemos a vida. Ser grato transforma nossas reações”.

Otimista inveterada, Mariana Gontijo, de 35 anos, percebe, no cotidiano, o poder que a gratidão tem de mudar as coisas. Recentemente, teve o carro furtado com mais de R$ 7 mil em mercadorias (ela é diretora de vendas em uma empresa de cosméticos) e, embora tivesse justificativas suficientes para reclamar das perdas e até desistir do negócio, escolheu agradecer. “Graças a Deus eu não estava no carro. São situações assim que nos impulsionam. No mesmo mês, eu havia feito minha melhor produção em sete anos de empresa”, conta ela, que crê numa troca com o universo. “O que a gente manda é o que recebe. E isso é muito claro pra mim”.Riva Moreira

Positividade e otimismo

O advogado Gustavo Tadeu Bijos, de 37 anos, também prefere trocar as queixas dos problemas, comuns na profissão, pelo hábito de agradecer. A recompensa é estar cercado por pessoas que, assim como ele, agem com otimismo e positividade. “Tento afastar o que acontece no escritório do restante da minha vida, por saber que o que nos cabe é fazer nossa parte e sermos gratos por isso. Aprendemos, assim, a valorizar resultados, mesmo que muitas vezes sejam negativos. Costumo estar distante de pessoas que reclamam do trânsito ou do que acontece na vida delas. É algo que acontece naturalmente”, diz.Riva Moreira

A gratidão influencia também nossa saúde. Impacta na produção de uma série de substâncias benéficas para o cérebro, diminui pressão arterial, frequência cardíaca, melhora o sistema imunológico e, de quebra, reduz riscos de infarto e AVC. “Quando você reconhece os privilégios que tem, praticamente acaba com reações de ansiedade que desencadeiam estresse e são causas para infarto, AVC e envelhecimento precoce. Também liberamos substâncias benéficas para o cérebro, que aumentam sensações de bem-estar e de pertencimento”, explica o neurologista da cognição e do comportamento Fabiano Moulin, titular da Academia Brasileira de Neurologia. “A gratidão nos ajuda a estar no presente, nos faz tomar decisões, sincronizar emoções e transformar rotina em algo naturalmente melhor. Quanto mais gratidão sinto, mais mantenho coração e cérebro tranquilos”.

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