30 anos do Fiat Tempra: guiamos o carro 'feito' pelo tio do Jurandir

Marcelo Jabulas
@mjabulas
01/01/2022 às 12:33.
Atualizado em 04/01/2022 às 00:16
 (Marcelo Jabulas)

(Marcelo Jabulas)

Durante uma enfadonha aula qualquer na turma da sexta série, daquele 1991, o Jurandir se vira em minha direção e diz: “Meu tio fez o Tempra”. Aquilo chamou minha atenção, como qualquer ruído que tiraria meus olhos do quadro negro, carregado de ícones estranhos grafados por aquela distinta senhora que proferia um dialeto ininteligível para minha atenção.

Foi a primeira vez que tinha ouvido esse nome: Tempra. No recreio, ele me contou que o tio era um funcionário da Fiat. Não disse em que pedaço da fábrica ele trabalhava. Mas fato é que o tio do Jurandir fazia o Tempra e ele contava isso para todo mundo. 

O sedã estreou em 1991, como resposta da marca italiana para a chegada dos automóveis importados. Até então, a Fiat se dedicava ao quarteto Uno, Premio, Elba e Fiorino. 

Efeito presidente

O quarteto fazia parte das chamadas “carroças” nacionais, como disse o então presidente Fernando Collor, quando decidiu reabrir o mercado para importações. Mal sabia ele que seria uma perua Elba que enterraria seu mandato. 

Fato é que a liberação dos importados provocou uma corrida nas quatro fabricantes instaladas por aqui. Volkswagen e Ford se uniram para converter a primeira geração do Santana em um novo modelo, que manteria o mesmo nome na VW e se chamaria Versailles, na marca o Oval Azul. A General Motors, deu um tapa na frente e na traseira do Monza, para ficar parecido com Opel Omega, que chegaria por aqui em 1993.

E a Fiat usou a base do Regata argentino, para fabricar a edição tupiniquim do Tempra. Era um carro refinado com suspensão independente nas quatro rodas, um design elegante, com a traseira elevada e frente afilada.

O modelo também fez a estreia dos cabeçotes de duplo comando por aqui. Em 1994 ganhou uma versão turbo. O sedã ficou em linha até 1999.

Ao longo dos anos peguei muitas caronas no Tempra, mas nunca o dirigi efetivamente. Cheguei a manobrar, mas não dar uma esticada boa.

O pai de um amigo tinha um, cor vinho como este da fotografia. A gente dava umas voltas pelo interior com ele. Naquela época, bastavam R$ 5 de cada para garantir traslado. Sempre imaginava um rolê vagaroso, ouvindo Rage Against the Machine no último volume e cotovelo na janela, na ida para o estágio, lá na Fiat. Mas nunca rolou.

Finalmente

Agora, no apagar de 2021, a Fiat liberou uma unidade Ouro 2.0 16V, ano 1995, para que a gente pudesse finalmente avaliar o sedã. O carro está impecável. Claro que range como qualquer automóvel com mais de 20 anos. Mas a condição do acabamento impressiona. 

Tudo funciona, bancos com ajustes elétricos, computador de bordo, ar-condicionado, vidros elétricos e até mesmo um painel de check list luminoso. Trata-se de uma gráfico cravejado por LEDs que indicam se as portas, capô e porta-malas estão abertos e se os faróis estão funcionando, assim como as lanternas. 

Motor do Tempra

O Tempra ficou famoso por estrear o motor 16 válvulas no Brasil. O cabeçote era montado num bloco 2.0 e o conjunto entrega 127 cv e 18,4 kgfm de torque. A unidade é combinada com câmbio manual de cinco marchas. Curiosamente a caixa é uma delícia, muito mais precisa e macia que a atual transmissão manual dos italianos. 

O motor do Tempra demora para encher, todo torque só aparece depois dos 4,5 mil rpm e a cavalaria máxima aparece a 5.750 giros. Mas o casamento com a caixa dá a ele um comportamento delicioso. As trocas rápidas não deixam a rotação despencar, o que faz dele esperto.

Mas não se deve abusar de um carro com mais de 25 anos, mesmo em perfeito estado de conservação. Seus pneus aro 14 estavam bons, mas já eram velhos. E um motor de 1995 não pode ser castigado. Foi um daqueles rolês que imaginei quando tinha 18 anos, mas sem rodar o “Evil Empire”, pois esse Tempra estava equipado com um toca-fitas Alpine original. 

O que posso dizer é que o tio do Jurandir era danado mesmo!

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